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Na Azzas 2154, Birman e Jatahy levantam “bandeira branca” e Nicola Calicchio assume o conselho no lugar de Pedro Parente

azzas 2154

Fruto da fusão entre a Arezzo&Co e o Grupo Soma, anunciada em fevereiro de 2024, a Azzas 2154 vem chamando a atenção nos últimos meses com notícias sobre uma escalada nas desavenças entre Alexandre Birman e Roberto Jatahy, os arquitetos da fusão e acionistas de referência da operação.

Tais incompatibilidades teriam chegado a um ponto em que eles estariam buscando um “divórcio”. Entretanto, a dupla parece ter resolvido suas diferenças. Essa é, ao menos, a mensagem que o grupo está tentando enviar ao mercado.

O recado veio nesta segunda-feira, 30 de junho. A Azzas 2154 anunciou que Pedro Parente está deixando a presidência do seu conselho de administração. Quem assume o posto é Nicola Calicchio, que carrega uma bagagem de 30 anos na McKinsey e, hoje, ocupa assentos nos boards da MRV, Hapvida e do Inter.

A troca antecipa o fim do mandato de Parente, previsto, inicialmente, para acontecer apenas em agosto de 2026. E acontece justamente a partir do entendimento de que Birman e Jatahy apararam as arestas e encontraram um “nível razoável” de governança para seguirem sob o mesmo teto.

“A página do conflito está virada”, diz Birman, ao NeoFeed. “E o Pedro teve um papel fundamental para orquestrar uma governança de alinhamento societário entre mim e o Roberto. Nós aprendemos a inverter a ordem de enxergar, no lugar das diferenças, as convergências entre os nossos estilos.”

Jatahy segue na mesma linha: “Acho que nos perdemos um pouco e tivemos alguns desalinhamentos, mas tivemos a sorte – ou a inteligência -, de trazer o Pedro”, afirma. “Fomos amplamente amparados por ele. E eu e o Alexandre chegamos à conclusão de que nem eu nem ele estávamos certos.”

Ele aponta as visões diferentes sobre o negócio como a raiz desses desentendimentos. Birman, com uma orientação mais B2B, de uma empresa asset light e geradora de caixa. E ele, com uma pegada mais B2C, do backoffice, do varejo e das suas correlações com o atacado.

A mensagem de que uma “bandeira branca” entre os dois acionistas controladores foi hasteada também é reforçada por Parente. E, com a paz a princípio selada no front da governança, ele observa que era o momento de dar lugar a outro perfil à frente do board.

“Nós concluímos, de forma muito pragmática, que um gestor para situações complexas de governança agora é menos relevante”, diz Parente. “Hoje, o conselho demanda uma visão de negócio, de varejo, de uma atuação mais próxima do CEO e das lideranças. E o Nicola reúne todas essas características.”

Em seu currículo, além de colecionar assentos em boards – ele também preside o conselho da Cimed – e de ser advisor em empresas como a Península Participações, Calicchio participou de outras grandes fusões. Entre elas, Itaú Unibanco, Raia Drogasil e Sadia e Perdigão, que deu origem à BRF.

“Quando você compra uma empresa, é simples. Você digere. Uma fusão é algo totalmente diferente e extremamente complexa”, diz Calicchio. “É normal haver uma fase inicial de dois anos de instabilidades. E eu tenho a sorte de a estrada estar pavimentada, pois o Pedro conseguiu cumprir isso em um ano.”

O trajeto à frente inclui outras mudanças anunciadas hoje no âmbito do conselho, que está sendo reduzido de nove para sete membros. Nessa conta, dois integrantes deixam o board para ocupar outras funções.

Anna Chaia, vice-presidente do colegiado, passa a atuar como special advisor de estratégia de marcas. José Ernesto Bologna também será special advisor, na área de pessoas e cultura. E será substituído pela conselheira Sylvia Leão na coordenação do comitê de pessoas, remuneração e sustentabilidade.

A perspectiva é de que também ocorram ajustes no âmbito da gestão. Birman segue como CEO do grupo, enquanto Jatahy permanecerá na liderança da divisão de vestuário feminino. Mas já conversas no sentido de uma maior interação entre os dois sócios.

“Estamos em uma discussão profunda e isso não está definido na pedra, mas há uma clareza que existe uma oportunidade enorme de complementaridade”, diz Birman. “Estamos redividindo as funções. Então, há realmente um blend aqui. E não uma separação como tinha antes.”

Histórico conturbado

Os rumores de que os choques entre Birman e Jatahy teriam chegado a um nível irreconciliável vieram à tona em março deste ano, quando saíram notícias de que a dupla estava “negociando o divórcio”.

Nesse contexto, eles teriam contratado assessores em busca de alternativas para viabilizar o fim dessa união. Birman estaria sendo assessorado pelo Morgan Stanley e o Spinelli Advogados. E Jatahy, pela G5 e o Barbosa Mussnich. A venda da sua participação para o sócio era uma das opções na mesa.

“Houve um exagero. Essa questão de divórcio, de cisão, nunca passou pela nossa cabeça”, diz Jatahy. “Chegamos a pensar na opção de eu ficar apenas no conselho e sair do dia a dia. Mas fomos reduzindo os atritos e, hoje, não há nenhuma mudança prevista nessa agenda. Um precisa do outro.”

Pedro Parente (à esq.), Alexandre Birman, Nicola Calicchio e Roberto Jatahy

Na época, as ações tombaram e isso obrigou Birman e Jatahy a fecharem uma trégua temporária e pactuarem uma “convivência forçada”, em função da queda de valor de mercado do grupo.

À parte desse armistício, o fato é que boa parte do mercado já enxergava uma bomba-relógio nos prováveis embates entre as personalidades fortes dos dois acionistas desde o início do anúncio da fusão.

Esse risco foi tão destacado quanto os números que selariam a criação de uma gigante do varejo de moda. Já na largada, o negócio resultava em um faturamento somado de R$ 12 bilhões, mais de 2 mil lojas e 34 marcas. Entre elas, Arezzo, Schutz, Farm, Animale, Reserva e Hering.

Como parte do processo de integração, uma parcela dessa “house of brands” foi “descontruída” no fim de 2024, quando o grupo descontinuou as marcas Alme, Dzarm, Simples e Reversa. Já em fevereiro desse ano, a Azzas 2154 revendeu a Baw aos fundadores da marca.

As medidas foram justificadas pelo racional de simplificar o portfólio e maximizar o retorno aos acionistas. Mas à parte dessas revisões, a companhia já vinha registrando outras baixas em sua operação. Mais especificamente, em posições estratégicas do seu time.

Essas movimentações tiveram início em agosto de 2024, logo depois de a empresa formalizar a fusão e começar a negociar suas ações na B3 com o ticker da Azza3. A “estreia” aconteceu no dia 1º daquele mês, com o papel partindo do patamar de R$ 50,39.

Oito dias depois, o NeoFeed publicou que Paulo Kruglensky estava deixando o grupo. Ex-CEO da Vivara, o executivo assumira quatro meses antes como Chief Integration Officer para conduzir a integração das empresas. Na ocasião, a Azzas negou a informação, que, posteriormente, acabou se confirmando.

Conforme apurou o NeoFeed na época, Kruglensky, um executivo de perfil conciliador, teria optado por se desligar da companhia justamente em função do clima tenso entre os sócios.

No mesmo mês, Rony Meisler, Fernando Sigal, Jayme Nigri Moszkowicz e José Alberto da Silva deixaram o braço de vestuário masculino do grupo. O quarteto fundou a Reserva, comprada pela Arezzo em 2020, por R$ 715 milhões. O M&A marcou sua entrada na categoria de roupas, em especial, a moda masculina.

Conforme apurou o NeoFeed na oportunidade, havia um desgaste na relação entre Birman e Rony Meisler, que liderava essa operação.

Contraponto

Em um contraponto a essas mudanças e aos rumores sobre as divergências entre seus sócios, a Azzas 2154 trouxe sinais mais favoráveis ao mercado no início de maio, quando divulgou seu resultado no primeiro trimestre de 2025.

A empresa reportou uma alta anual de 15,6% no lucro líquido, para R$ 117,8 milhões, e de 14,4% na receita bruta, para R$ 3,31 bilhões. O Ebitda recorrente cresceu 23,3%, para R$ 427,7 milhões, enquanto a alavancagem foi de 1,3 vez, contra 1,1 vez no fim de 2024.

O balanço trouxe números acima do esperado. O Itaú BBA, por exemplo, destacou que o resultado refletiu a transição de uma etapa de ineficiências pontuais e temporárias para uma fase de lucratividade estrutural. Mas fez também uma ressalva.

“A governança continua sendo um ponto a ser observado, mas os fundamentos estão de volta ao radar dos investidores”, escreveram os analistas do Itaú BBA, que, na ocasião, reiteraram a recomendação de compra e elevaram o preço-alvo da ação, de R$ 47 para R$ 53.

As ações da Azzas 2154 encerraram o pregão da última sexta-feira, 27 de junho, com alta de 0,61%, cotadas a R$ 41,07. Em 2025, os papéis registram uma valorização de 38,8%, dando ao grupo um valor de mercado de R$ 8,4 bilhões.



Ceará Agora e Diário do Nordeste

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