Após quase 11 meses, o dólar comercial caiu para R$ 5,42 nesta quarta-feira (2), registrando uma queda de 0,74%. A moeda estadunidense atingiu seu menor valor desde agosto de 2024. Já a Bolsa recuou 0,36%.
Cortes de empregos no setor privado dos Estados Unidos motivaram a perda de força do dólar no exterior ante o real. Além disso, também está na mira a votação do projeto tributário de Donald Trump pela Câmara de Representantes norte-americana, apontando novos desdobramentos das negociações comerciais dos EUA e o cenário fiscal no Brasil.
O setor privado dos EUA eliminou 33 mil empregos em junho, conforme apontou pesquisa com ajustes sazonais da ADP, divulgada nesta quarta (2). O registro contrariou a previsão dos analistas que apontavam a criação de 115 mil postos de trabalho.
A queda da moeda é associada à incerteza sobre a política comercial de Washington antes de 9 de julho, data de expiração da prorrogação de 90 dias das chamadas tarifas “recíprocas” de Donald Trump, e as expectativas de que o Federal Reserve (Fed, o BC norte-americano) comece a cortar as taxas de juros nos próximos meses.
Taxa Selic e IOF
O diretor de política monetária do Banco Central, Nilton David, apontou a perspectiva de manutenção da taxa Selic em 15% por um “período bastante prolongado”, o que pode justificar o fôlego extra da moeda brasileira no mercado.
“Continuamos vendo ingresso de recursos para aproveitar o nosso juro real elevado, de quase 10%. Parece que a disputa jurídica entre governo e Congresso não assusta os investidores estrangeiros”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, em referência ao fato de o governo Lula ter recorrido ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o decreto legislativo que derrubou o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Para o especialista, se não houver um aumento de conflitos políticos locais, é possível que o real tenha ainda maior valorização de mercado, com a taxa de câmbio recuando até R$ 5,30, diante da tendência de enfraquecimento global da moeda americana.
“Se houvesse confiança de que o Governo está realmente comprometido com o equilíbrio das contas públicas, poderíamos ter um dólar mais perto de R$ 5,00”, disse.
Em exclusiva ao Broadcast, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse hoje à tarde que a equipe econômica depende do decreto do IOF para garantir o cumprimento da meta fiscal do próximo ano, de superávit de 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB).
A gestora de recursos Ibiuna Investimentos afirma que, além dos “ventos globais favoráveis”, dois fatores ajudaram o real nos últimos meses: a elevação da Selic para 15% – que “elevou o diferencial de juros e aumentou sobremaneira a atratividade das operações de carrego” – e a mudança do ambiente político, “com aumento da probabilidade de alternância do poder e, portanto, da política econômica, nas eleições de 2026”.