Três anos após a queda de helicóptero que matou duas pessoas na região do Pico do Jaraguá, na Grande São Paulo, familiares pedem regras mais rígidas sobre o uso e as normas estabelecidas dentro da aviação privada.
A família do copiloto João Augusto Hjertquist contestou o relatório final do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) sobre o acidente, bem como o arquivamento do inquérito policial. Segundo os familiares, o documento não refletiu a realidade do voo e deixou de estabelecer normas críticas para o impedimento de novas tragédias.
Entenda
O laudo necroscópico do piloto Edison dos Santos Mendes, comandante da aeronave, apontou a presença de cocaína e medicamentos antidepressivos em seu organismo, substâncias que poderiam ter comprometido sua visão e capacidade de decisão durante o voo. Já o exame de João Augusto deu negativo para todas as substâncias.
Para os familiares do copiloto, Edison não estava apto a exercer suas funções, e se tivesse recebido atenção adequada da empresa responsável, o acidente poderia ter sido evitado.
“Não percebi, em nenhum momento, interesse em entender como um comandante adoecido há tanto tempo poderia estar pilotando, colocando em risco não só a vida dele, mas de muitos, como foi a de meu filho”, reiterou Tânia Veiga Hjertquist, mãe de José Augusto.
Além de contestar o relatório, a família do copiloto pede o desarquivamento do inquérito, que foi arquivado em agosto de 2024. Eles afirmam que existe a confirmação de que os donos do helicóptero tinham ciência do estado de saúde de Edison, e por isso o caso deve continuar sendo investigado. Atualmente, é proibido que profissionais nesta condição continuem realizando suas atividades aeronáuticas.
Relatório
No relatório final, a Cenipa recomendou à ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) apenas para divulgar os ensinamentos desta investigação: “Durante eventos de promoção de segurança operacional”. Eles também afirmam que não existe nenhuma medida preventiva adotada depois do caso. Tânia também critica esse tipo de “recomendação” já que não possuí nenhuma medida crítica para a regulamentação do estado de saúde dos pilotos.
Atualmente, a ANAC não exige testes toxicológicos para aeronaves particulares. Já para operações de transporte aéreo público existe o PPSP (Programa de Prevenção de Risco Associado ao Uso Indevido de Substâncias Psicoativas da Aviação Civil). Além disso, a avaliação da saúde dos pilotos nas aeronaves privadas é feita a cada 5 anos, diferentemente do chamado “táxi-aéreo” que é anual.
Me decepciona profundamente que o Cenipa não tenha feito uma recomendação de segurança no sentido de um maior controle de uso de drogas e de saúde mental de pilotos e profissionais da aviação. Estamos falando de um órgão de prevenção de acidentes, mas não há uma linha sobre isso na recomendação, mesmo com tudo que se descobriu. Quantos outros precisarão morrer para que algo mude? Não aprenderam nada?
Outro indagação é que no dia do acidente, João Augusto foi chamado de última hora para substituir outro copiloto e já que não estava originalmente escalado. Ou seja, a tripulação não apresentou plano de voo e existia apenas acordos informais dos próprios pilotos para dividirem a jornada de trabalho.
Luta pela segurança dos aviadores
No meio da perda, a mãe de João Augusto transformou a dor do luto em uma esperança por mudanças concretas na segurança da aviação privada. A família dele espera que todo esse acontecimento sirva de exemplo pra que evitar outras tragédias.
“É um caminho de dor, mas um caminho de fé lutar por todos esses homens, jovens, filhos, irmãos e pais que podem perder a vida em trabalho. [..] A sua morte não pode ter sido em vão. A nossa luta é uma forma de honrar a sua memória”, concluiu Tânia.
Anac (Agência Nacional de Aviação Civil)
Em contato com a CNN, a Anac afirmou que o Cenipa “mantém a articulação continuada com a Anac e os demais participantes do modal de aviação civil pela manutenção da segurança operacional na aviação civil brasileira”.
“Em caso de incidente ou acidente aéreo, o Cenipa realiza uma análise detalhada das causas, apresentando recomendações para que o incidente não torne a acontecer. A Agência recebe o relatório do Cenipa e procede com ações para que as recomendações sejam atendidas, sendo este procedimento padrão para a garantia das condições de segurança da aviação civil”, escreveu o órgão em nota.
*Sob supervisão de AR.