Um apagão causado por um incêndio em uma subestação localizada em Campo Largo, na região metropolitana de Curitiba (PR), afetou na madrugada desta terça-feira (14) todos os estados do Brasil.
Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o incêndio ocorreu às 0h32, e a energia Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste foi restabelecida até 1h30 da manhã, enquanto a recomposição da região Sul foi finalizada por volta das 2h30.
O Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou em entrevista ao programa “Bom Dia, Ministro” que o problema não foi causado por falta de energia, mas sim por conta do incêndio, ao contrário de episódios passados como os apagões de 2001 e 2021.
“Não é falta de energia, é um problema na infraestrutura que transmite a energia. Quando se fala sobre apagão, a gente lembra daqueles tristes episódios de 2001 e 2021, que aconteceram por falta de energia e planejamento. Hoje, não. Hoje temos muita energia”, declarou o ministro.
Relembre os apagões de 2001 e 2021
José Aquiles Grimon, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São paulo (USP), explicou como os casos de 2001 e 2021 diferem do apagão ocorrido nesta terça-feira (14).
Segundo Grimon, o apagão durante o governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso, ocorreu por conta de um racionamento de energia elétrica para evitar um colapso total no sistema. Ele explica que o Brasil teve que reduzir o consumo de energia em cerca de 15% na época, para manter o fornecimento básico no país.
Grimon explica que o racionamento de 2001 foi provocado pela falta de expansão da oferta de energia e por uma seca severa no Brasil, especialmente na região Sudeste, que concentra grande parte do consumo nacional, o que fez com que milhões de brasileiros tivessem que racionar energia durante meses.
Já em 2021, o apagão foi localizado no estado de Roraima, que ficou sem energia por aproximadamente duas horas. A capital, Boa Vista, também enfrentou falta de água, em consequência da falha no fornecimento elétrico durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Na época, a distribuidora Roraima Energia disse que a interrupção foi causada por um desligamento geral, já que o estado ainda não era integrado ao SIN (Sistema Interligado Nacional) e dependia apenas de cinco termelétricas locais.
Isso mudou pouco mais de um mês atrás, quando Roraima deixou de ser o único estado fora do SIN, após o governo federal anunciar um investimento de R$ 3,3 bilhões para integrá-lo ao sistema nacional. Grimon destacou que a falta de conexão com o SIN foi decisiva para a vulnerabilidade do estado à época.
“O SIN é fundamental para que os estados possam compartilhar energia e se apoiar mutuamente em casos de falhas. Ele permite que haja integração de recursos entre os estados e distribui a carga de forma equilibrada no país”, explica o professor.
Efeitos em cascata podem levar à apagão
Grimon alerta que falhas humanas e problemas técnicos podem gerar efeitos em cascata e levar a novos episódios de apagão. Ele aponta que atualmente há um desalinhamento entre o crescimento da demanda e os investimentos em transmissão e infraestrutura.
O especialista afirma que muitos dos problemas futuros poderão ser causados por excesso de geração de energia, especialmente com o crescimento da geração distribuída, como a energia solar residencial.
“O fenômeno da geração distribuída criou um novo agente: o prossumidor, que é consumidor e gerador ao mesmo tempo. Isso tem reduzido a demanda sobre o sistema tradicional de energia, gerando problemas para distribuidoras, transmissoras e geradoras de energia”, explica Grimon.
*Estagiário sob supervisão de Diogo Max