A Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou nesta terça-feira (28) o novo Relatório Síntese das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês), documento que reúne as metas climáticas apresentadas por 64 países desde janeiro de 2024.
O estudo mostra que as nações estão reduzindo suas emissões e ampliando compromissos ambientais em comparação aos ciclos anteriores, mas reforça que a ação global ainda é insuficiente para conter os piores impactos da crise climática.
O relatório, elaborado pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), chega em um momento estratégico, às vésperas da COP30, que será realizada em Belém, em novembro.
ONU vê avanços, mas pede mais velocidade
De acordo com o relatório, as novas NDCs representam um avanço “em qualidade, credibilidade e abrangência econômica”, com 89% dos países incluindo metas que cobrem toda a economia e 73% incorporando planos de adaptação e resiliência.
Ainda assim, a ONU alerta que a redução projetada de emissões é de 17% em relação a 2019, quando seria necessário um corte muito maior para cumprir o limite de 1,5 °C.
O secretário-executivo da ONU Mudança Climática, Simon Stiell, afirmou que o Acordo de Paris “está gerando progressos reais, mas precisa funcionar de forma muito mais rápida e justa, e essa aceleração deve começar agora”.
Segundo ele, “a escala e a gravidade da crise climática nunca foram tão claras”, e eventos extremos como secas, enchentes e incêndios “estão atingindo todas as nações, destruindo vidas e elevando custos econômicos”.
Nova geração de metas nacionais
As novas contribuições mostram que os países estão traçando rotas mais nítidas rumo à neutralidade de carbono, com metas de “emissões líquidas zero” entre 2040 e 2060 — a maioria até 2050.
O relatório destaca também que 88% das nações declararam ter usado os resultados do primeiro Balanço Global (Global Stocktake) para reformular seus planos climáticos, e 81% detalharam como isso foi feito.
Outro ponto positivo é o crescimento de ações que envolvem toda a sociedade: 95% dos países citaram a participação de governos locais, setor privado, povos indígenas, jovens e comunidades tradicionais na execução dos compromissos ambientais.
Financiamento e cooperação internacional
Apesar dos avanços, a ONU enfatiza que a implementação plena das metas depende de maior apoio financeiro e tecnológico aos países em desenvolvimento.
O relatório estima que as nações que submeteram suas NDCs precisam de cerca de US$ 2 trilhões para cumprir as metas de mitigação e adaptação — valores que deverão ser levantados por meio de fundos multilaterais, bancos de desenvolvimento e investimentos privados.
O documento também registra o fortalecimento da cooperação internacional e das parcerias voluntárias sob o Artigo 6 do Acordo de Paris, que permite o comércio de créditos de carbono entre países.
Importância para a COP30
O Relatório Síntese das NDCs é considerado um termômetro global do Acordo de Paris e servirá como base técnica central para as discussões da COP30 em Belém.
Os dados e recomendações orientarão os debates sobre financiamento climático, justiça ambiental e transição energética — temas que serão decisivos para acelerar a ambição climática global.
Stiell reforçou que “a lógica de mercado já impulsiona a transição para energias limpas”, mas que é necessário garantir que “todos os países se beneficiem dessa mudança”.
Para ele, a COP30 deve marcar “o início de uma nova era de cooperação e ação climática, onde prosperidade e resiliência andem lado a lado”.
O que são as NDCs
Os documentos são compromissos nacionais de redução de emissões e adaptação climática assumidos por cada país que integra o Acordo de Paris. A atualização e o cumprimento dessas metas são avaliados periodicamente pela ONU.
O relatório publicado analisa contribuições que, juntas, representam cerca de 30% das emissões globais de gases de efeito estufa — uma amostra significativa do progresso, mas ainda insuficiente para alcançar os objetivos científicos estabelecidos.