Ano após ano, uma curiosidade desperta a atenção de todo o país – de quem fará o exame e de quem não – sobre qual será o tema da redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
Essa etapa da avaliação é um convite à reflexão sobre questões sociais relevantes. Os temas propostos nunca são aleatórios e buscam dialogar com os desafios atuais da sociedade brasileira. Portanto, exigem dos estudantes uma postura crítica e propositiva.
Cinco prováveis temas da Redação
Ao analisar as possibilidades para 2025, a professora de redação do Bernoulli Educação, Sidnéia Azevedo, aponta uma série de temas que podem surgir na prova. “Um deles é a educação digital dos idosos, que pode aparecer como um caminho de inclusão social, especialmente diante dos debates recentes sobre aposentadoria e acesso a serviços digitais. Outro eixo possível é a proteção da infância e adolescência, já que o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) completou 35 anos e o tema da exploração sexual infantil voltou à pauta pública.”
O uso produtivo das tecnologias no ambiente escolar também merece atenção, questão em destaque após a promulgação da lei que restringe o uso de aparelhos eletrônicos em sala de aula.
Além disso, o racismo ambiental pode ganhar força, evidenciando como desastres naturais impactam de forma desigual as populações mais vulneráveis, sobretudo neste ano em que o Brasil sediará a 30ª COP (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas).
É importante lembrar das pautas relacionadas à inclusão de pessoas neurodivergentes, que ainda enfrentam invisibilidade social apesar dos recentes avanços legais.
Como estudar temas como racismo e diversidade para o Enem?
Léo Bento, consultor e fundador da Inaperê Consultoria, empresa especializada em educação e relações raciais, completa advertindo que, para estudar temas de diversidade e relações raciais de forma eficaz para o ENEM, é importante adotar uma abordagem interdisciplinar, uma vez que o assunto pode aparecer em diversas áreas do conhecimento. “Comece pela História e Sociologia, focando nos processos de escravidão, abolição, as políticas de branqueamento no Brasil, a formação das desigualdades sociais e o surgimento de movimentos sociais (negros, indígenas, LGBTQIA+, feministas)”.
Em literatura e linguagens, o especialista reforça a inclusão de obras de autores de grupos racializados e minorizados, a representação da diversidade na mídia e estudo de conceitos como lugar de fala, raça do ponto de vista social, racismo científico, racismo estrutural e representatividade. “Além disso, familiarize-se com a legislação brasileira pertinente, como o Estatuto da Igualdade Racial e a Lei de Cotas nas Universidades (públicas e privadas), pois o Enem aborda conhecimento sobre o papel do Estado na promoção da equidade”, destaca.
Por fim, o consultor chama a atenção para a importância do contexto contemporâneo e as terminologias corretas, como por exemplo racismo estrutural, injúria racial, racismo institucional, aporofobia e as diferentes formas de discriminação (de gênero, orientação sexual, etnia, religião).
Neste contexto, noticiários e debates sobre temas atuais como violência policial, intolerância religiosa e a importância da educação inclusiva e equitativa são indispensáveis para um bom desempenho. “Pratique a argumentação, o desenvolvimento de propostas de intervenção detalhadas e a utilização de repertório sociocultural diversificado para demonstrar sua capacidade de análise crítica sobre a construção de uma sociedade mais justa, plural e com equidade.”
Leitura, repertório e estrutura: as chaves da boa escrita
Sidnéia lembra ainda que a construção de um repertório sólido começa muito antes do Enem. “Todas as disciplinas, durante toda a educação básica, contribuem para isso. Ele costuma recomendar que revisitem suas anotações, leiam jornais e sites de credibilidade e, sempre que possível, retomem obras literárias que marcaram suas formações”.
Outra estratégia importante é observar como os temas foram apresentados em anos anteriores. Por isso, a docente a recomenda buscar algumas publicações na imprensa sobre as avaliações passadas, até para entender o tom das redações e ir acostumando o pensamento aos formatos adotados.
Estratégia e tranquilidade no dia da prova
No dia do Enem, o tempo é precioso. A professora reforça que o estudante leia a proposta e os textos motivadores logo ao abrir o caderno de provas. “Em seguida, é interessante resolver as questões objetivas — esse processo ajuda a organizar as ideias e a planejar o texto com mais clareza. Quando o plano estiver pronto, é hora de fazer o rascunho, revisar com atenção e, só depois, passar a limpo com letra legível”, explica.
Além disso, a professora destaca que, para evitar erros de gramática e grafia, é fundamental compreender as regras e saber aplicá-las no texto. “Não basta decorar normas: é preciso entender como elas tornam a escrita mais clara e precisa”.
Melhor estratégia para a reta final
Na reta final, a palavra-chave é equilíbrio. Não há tempo para “gourmetizar” o estudo: é hora de praticar com objetividade. Resolver 20 questões de cada área do conhecimento e escrever uma redação por semana é uma rotina eficiente e realista.
A educadora também recomenda acessar o site do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) e revisar provas anteriores, além de utilizar plataformas pedagógicas para treinar e acompanhar a evolução.
A redação do Enem é mais do que uma prova: é uma oportunidade de mostrar como cada estudante enxerga o mundo e propõe soluções. “Escrever bem exige empatia, repertório e prática constante — e é justamente essa combinação que faz da escrita uma ferramenta poderosa de transformação pessoal e social”, finaliza Sidnéia.