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O Primeiro Empréstimo, a Gente Nunca Esquece!

Achava eu, na minha cândida inocência, que Pindorama já havia esgotado seu repertório de prodígios. Que já tínhamos visto de tudo. Tolice.
Eis que esta terra, num assombro de criatividade, nos presenteia com um salto quântico na arte da economia, uma obra-prima da engenharia financeira que fará Tio Patinhas parecer um amador.
A mente por trás de tal epifania? Ele, o nosso benemérito INSS — para os íntimos, Instituto Nacional do Stress Social. Aquela autarquia cuja morosidade lendária faz uma lesma parecer um bólido de alta performance. Seus escândalos passados, como debitar empréstimos em contas de aposentados que já haviam partido desta para melhor, não eram crimes, meus caros. Eram modestos ensaios.
O aquecimento para a grande ópera da desfaçatez. E o pano se abriu. Preparem o espírito. Nosso Instituto, num lance de gênio, identificou o nicho de mercado mais virgem e promissor da nação: o berçário. E, com a agilidade de um raio, liberou a módica quantia de 12 BILHÕES DE REAIS em empréstimos consignados para 763 mil crianças e adolescentes.
Vejam que prodígio de inclusão creditícia! Temos agora bebês de 3 meses que já ingressam na vida adulta financeira com uma dívida de R$ 1.650. Uma iniciação precoce! E o que dizer daquela criança nascida em maio, que em dezembro, ao invés do chocalho, já tinha no seu CPF um “presente” de R$ 15.593, a ser quitado em 84 suaves e longas parcelas?
Não é de um primor que comove? É o pacote de boas-vindas ao admirável mundo novo da cidadania fiscal! Agora tudo se encaixa! O choro dos recém-nascidos não é fome, é angústia existencial! O infante abre os olhos para a luz da maternidade, calcula mentalmente o Custo Efetivo Total entre uma golfada e outra, e desaba em prantos.
A pressa da garotada de hoje para crescer não é para brincar; é para arranjar um bico e começar a amortizar o capital de uma dívida que é mais antiga que seu primeiro dente! Aquele general francês, De Gaulle, não era um pessimista quando disse o que disse sobre nós. Era um profeta com informações privilegiadas.
Quem viver — e já não nascer devendo — verá.



Estado do Ceará

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