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A Fila: Nosso Monumento ao Amanhã

Meus caros, mal nos recuperamos da epifania financeira do INSS — aquela engenhosa startup de crédito para recém-nascidos —, e eis que nosso amado Instituto nos brinda com mais um capítulo de sua saga. Sinceramente, começo a suspeitar que o pudor e a vergonha na cara não foram extintos; foram transferidos para algum paraíso fiscal, onde gozam de uma aposentadoria tranquila.
Enquanto os 12 bilhões de reais dos bebês-devedores procuram um lar aconchegante em alguma conta no “País das Maravilhas”, o INSS, em terra firme, nos apresenta sua mais nova obra de arte: a Fila. E, como toda grande obra, ela está em constante expansão.
Em sua costumeira velocidade, que faz os membros do grupo dos quelônios parecerem velocistas olímpicos, o Instituto nos informa que a fila de espera por seus serviços cresceu meros 23% desde janeiro. Um número modesto, que representa apenas 2.862 milhões de pedidos de cidadãos aguardando a boa vontade da máquina. Uma ninhada.
A análise da composição da fila revela a genialidade da gestão. Metade dela é para o “benefício por incapacidade temporária”. E aqui, meus amigos, reside o brilhantismo estratégico. Ora, se a incapacidade é temporária, basta esperar. O cidadão, curado pela exaustão da espera, volta ao trabalho e o INSS economiza uns trocados. Uma lógica irrefutável, que certamente será usada para quitar os juros dos empréstimos da meninada.
Há casos que são verdadeiras obras de arte da paciência burocrática. O cidadão com problema de visão, por exemplo, que pediu aposentadoria por invalidez em 2020. O INSS, em seu zelo previdenciário, não o esqueceu. Pelo contrário. Aguardou com a paciência de um monge até que o tempo, esse grande escultor, fizesse sua mágica. E fez: de tanto esperar, o vivente agora já atingiu os requisitos para se aposentar por tempo de serviço. Vejam que primor de gestão! Não se trata de atraso; é uma promoção de categoria! O Instituto não negou o pedido; elevou-o a um novo patamar.
Para o BPC, a média é de singelos 193 dias. Mas não sejamos injustos; a culpa é de uma decisão judicial que exige um novo cálculo. E o cidadão, esse ser impaciente, que espere.
Agora, a lista de desculpas… digo, de motivos, é um poema à burocracia: perícias médicas em atraso, sistemas que precisam de atualização, biometria e, a joia da coroa, um novo sistema de cálculo tão avançado que beira o quântico.
Mas respirem aliviados! O INSS, em sua infinita misericórdia, anunciou a solução definitiva: foi criado um comitê para o gerenciamento de filas! Ufa! Agora sim. Não vamos acabar com a fila, o que seria uma deselegância, mas vamos gerenciá-la. Dormirei mais tranquilo esta noite.
Para coroar a peça, a partir de hoje a biometria se torna obrigatória para novos pedidos de aposentadoria. Mas — e aqui senti uma lágrima de emoção escorrer — para outros benefícios, como pensão por morte ou auxílio-doença, a exigência foi piedosamente adiada para 2026. É uma demonstração de empatia que me deixa sem palavras.
Enquanto isso, a fila, nosso verdadeiro patrimônio, imortal, aguarda.



Estado do Ceará

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