O dólar à vista exibiu forte valorização frente ao real na sessão desta segunda-feira, dia marcado pela saída de capital do Brasil, conforme apontado por gestores e operadores de tesouraria. Diante do fluxo negativo, o real exibiu a maior desvalorização frente ao dólar, na relação das 33 moedas mais líquidas.
Além da liquidez mais baixa (comum nas segundas-feiras), o que pode ter potencializado o movimento do dia foi o maior risco eleitoral, em meio ao fortalecimento da pré-candidatura presidencial de Flávio Bolsonaro. Operadores de câmbio entendem que o senador não seria capaz de derrotar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em um segundo turno, e um novo mandato petista significaria manutenção da atual política fiscal.
Encerradas as negociações, o dólar à vista registrou valorização de 0,99%, cotado a R$ 5,5836, depois de ter tocado a mínima de R$ 5,5180 e ter encostado na máxima de R$ 5,6069. Já o euro comercial avançou 1,25%, a R$ 6,5634. Perto das 17h10, no exterior, o índice DXY, que mede a força do dólar contra uma cesta de seis moedas de mercados desenvolvidos, caía 0,29%, aos 98,314 pontos.
O câmbio brasileiro estendeu hoje a depreciação observada nas últimas semanas nesta segunda-feira. Pela manhã, a leitura que predominava no mercado era de que a formação do preço do câmbio estava mais atrelada à questão eleitoral e fiscal. Ao longo das negociações, diante da volatilidade mais brusca, bastante concentrada no câmbio, operadores passaram a mencionar chances de uma saída substancial de dólares do Brasil, comum nesta época do ano.
A reportagem conversou com gestores e membros de tesouraria que mencionaram um fluxo forte de saída na parte da tarde de hoje. Além disso, um banco estrangeiro enviou a clientes mais cedo uma nota afirmando que o movimento do câmbio brasileiro hoje foi marcado por uma saída forte de capital, em especial por parte de empresas. O banco apontou na mensagem que o período entre 10 de dezembro e o fim do ano tem sido marcado nos últimos 15 anos por um real mais fraco que os pares.
O gerente de câmbio da Tullett Prebon, Italo Abucater, disse que o preço do câmbio hoje estava mais atrelado à questão do fluxo sazonal. “O risco eleitoral nesta semana será pouco. O que estamos vendo é resultado das saídas típicas de ajuste de balanço e dividendos. Essa piora de fim de ano teria de qualquer maneira, ainda que neste ano o movimento pareça mais tímido se comparado a outros anos”, afirmou.
Apesar da saída mencionada, operadores disseram que a piora na taxa do casado (termômetro importante sobre o fluxo negativo) ficou relativamente comportada. Para Abucater, isso pode ser explicado pelo fato da menor liquidez, uma vez que a liquidação de contratos à vista hoje ocorre daqui dois dias, no dia 24 de dezembro, quando a B3 não abre e, portanto, não há “clearing” de câmbio, a câmara de registro, compensação e liquidação de operações financeiras. “A B3 garante o risco de contraparte. Quando não tem clearing, opera-se somente com risco de contraparte, e isso reduz a liquidez por ter menos participantes que podem operar sem a clearing.”
Gestores e traders também disseram, na condição de anonimato, que a candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) vem se tornando algo mais palatável e concreto, com o noticiário do fim de semana corroborando essa visão. Para eles, no entanto, mesmo que o apoio ao senador cresça, dificilmente Flávio venceria uma disputa de segundo turno contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). E a manutenção da atual política fiscal é o que continua pressionando os ativos locais.
A Wagner Investimentos disse hoje, em nota, que “apesar da fraqueza do DXY e da força de várias moedas de países emergentes e exportadores de commodities como Chile, México, África do Sul, China e Austrália, o real está sofrendo bastante por dois motivos: político (principal vetor) e temporada de saída de recursos”.