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Brasil deve levar 16 anos para superar desigualdade racial no ensino médio, diz estudo | Brasil

Anistia ampla, geral e irrestrita é impossível, diz relator | Política

O Brasil deve levar mais de 15 anos para alcançar igualdade racial na conclusão do ensino médio, se continuar avançando no ritmo observado na última década. A conclusão é de um estudo do Todos Pela Educação, divulgado nesta segunda-feira (17).

A pesquisa, que analisa dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2015 a 2025, identificou que, apesar dos avanços no período, um em cada quatro jovens de até 19 anos no Brasil, hoje, não concluiu a educação básica (ensino fundamental e médio) – 400 mil deles porque precisam trabalhar ou porque perderam o interesse pelos estudos.

Os dados são marcados por disparidades raciais, regionais, socioeconômicas e de gênero. Enquanto 69,5% dos jovens pretos, pardos e indígenas de até 19 anos têm o ensino médio completo, entre os brancos e amarelos esse índice chega a 81,7%. Há dez anos, esses números eram de 46% e 66,3%, respectivamente, e seguiram uma média de redução de 0,8 ponto percentual ao ano. Nesse ritmo, a desigualdade só seria superada daqui a 16 anos.

Considerando apenas a renda, as diferenças são ainda maiores: entre a parcela mais pobre, apenas 60,4% dos jovens concluíram o ensino médio até os 19 anos, ante 94,2% entre os mais ricos. A distância diminuiu 15,3 pontos percentuais nos últimos dez anos, e, nessa velocidade, demoraria mais duas décadas para ser eliminada. Entre as regiões do país, o Sudeste é a que possui as maiores taxas de conclusão do ensino médio (79,6%), enquanto o Norte apresenta as menores (69,1%). Os principais motivos para a não conclusão dentro da faixa etária incluem atraso escolar, necessidade de trabalhar e desengajamento.

De acordo com Daniela Mendes, coordenadora de Políticas Educacionais do Todos Pela Educação, a diminuição das desigualdades depende de melhor articulação entre os governos federal, estaduais e municipais. “O Plano Nacional de Educação (PNE) deve ser um norte, mas é importante que Estados e municípios tenham metas próprias para termos algum avanço”, diz. Para ela, o orçamento para educação precisa de uma gestão melhor, que direcione mais dinheiro para políticas de longo prazo e ofereça apoio técnico às redes de educação, garantindo o aproveitamento dos recursos.

No ensino médio, diz, uma política de longo prazo importante é a recomposição da aprendizagem, um conjunto de medidas que garante que os alunos tenham capacidade de acompanhar todas as etapas escolares e, assim, permaneçam na escola. “A permanência dos jovens na escola depende de um ambiente escolar que faça sentido na vida deles. Então é preciso pensar em um modelo de educação engajador e que tenha o protagonismo do jovem como elemento central”, afirma. A avaliação por gênero indica que os homens têm taxa de conclusão inferior (70,2%) à das mulheres (78,5%), e que eles lideram as parcelas dos que abandonaram os estudos para trabalhar (10,7%, frente a 3,4% das mulheres) ou por falta de interesse (9,2%, contra 5,2%). No entanto, os dados mostram que as mulheres enfrentam obstáculos específicos, como a sobrecarga com o trabalho doméstico e a maternidade precoce, que juntos representam 4,5% dos casos de não conclusão.

Ao cruzar os três recortes (raça, nível socioeconômico e sexo), os dados reforçam que as desigualdades tendem a se acumular: homens mais pobres, de nível socioeconômico mais baixo e que se autodeclaram pretos, pardos e indígenas apresentam as menores taxas de conclusão, enquanto mulheres brancas ou amarelas ricas apresentam taxas mais altas.

*Participante do Curso Valor de Jornalismo Econômico sob supervisão de Gabriel Caprioli e Alex Jorge Braga



Valor Econômico

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