Pré-candidato à Presidência da República em 2026, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), afirmou que o sistema presidencialista de governo foi “destruído” no Brasil e afirmou que o país vive uma “desordem institucional”. Caiado disse que o Congresso define parte relevante dos gastos da União e criticou o peso das emendas parlamentares nas negociações políticas.
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“O presidencialismo foi destruído no Brasil. Onde é que está a liturgia do cargo da Presidência da República? Acabou”, disse o governador, ao participar do ciclo de debates “O Brasil na visão das lideranças públicas”, promovido pela Fundação Fernando Henrique Cardoso, na capital paulista.
Liderança política de um dos partidos que mais recebem emendas no Congresso, o governador de Goiás afirmou que atualmente os parlamentares têm mais controle sobre a verba federal do que os ministros e decidem o repasse dos recursos da União.
Caiado disse que a função de um deputado é legislar e fiscalizar e aprovar o Orçamento da União, e não controlá-lo. “Isso aí é insustentável”, afirmou, em meio a críticas de que o plano de governo do deputado hoje tem mais peso do que o plano de governo do presidente da República. Ex-deputado federal por cinco mandatos e ex-senador, ele afirmou ainda que quando estava no Congresso os parlamentares tinham “R$ 1,5 milhão de emendas por ano, sem ser impositiva”. “Hoje o parlamentar do baixo clero tem R$ 100 milhões. Senador tem R$ 300 milhões”, disse.
Ao falar com jornalistas depois da palestra, Caiado voltou a criticar o desequilíbrio entre os Poderes. “Qual é o sistema político vigente hoje no país? Nós não sabemos. Há uma desordem institucional. Você vê hoje um presidencialismo totalmente enfraquecido, um Congresso Nacional que define toda parte de [gasto] discricionário hoje do governo federal, um Supremo que muitas vezes se propõe a alterar legislações. Por quê? Porque existem vários vazios”, disse.
Na palestra e na entrevista, Caiado atribuiu ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a “culpa” pelo fortalecimento do Congresso, em detrimento ao Executivo. “Qual é a causa? É a falta de um presidente da República. Na hora que o presidente da República assume, então as coisas vão se modelar dentro do sistema político presidencialista. Não é que Câmara avançou ou o Supremo avançou. É a ausência da Presidência que provoca todo esse distúrbio e desordem institucional”.
Na oposição a Lula, Caiado disse que o presidente “não está demonstrando a mesma performance” que teve em outros mandatos. “Ele não deu certo nesse terceiro governo”, afirmou o governador. “Por que não deu certo? A natureza do sistema eleitoral brasileiro”, disse, afirmando em seguida os problemas no presidencialismo do país.
“Combinar com os russos”
Caiado procurou reforçar sua pré-candidatura à Presidência, apesar de lideranças políticas da federação União Brasil e Progressistas já negociarem, nos bastidores, uma eventual composição com outro candidato do campo de centro-direita, com a indicação da vice em uma chapa.
“Sempre tem que perguntar, como diz o Garrincha: você acertou com os russos?”, disse, minimizando as negociações de dirigentes dos dois partidos. Questionado se ele teria “acertado com os russo”, ou seja, se teria apoio dentro da federação União Brasil-Progressistas, Caiado disse que tem buscado respaldo popular para consolidar sua pré-candidatura. “Estou andando onde o povo está. Não vai ser uma cúpula que vai decidir A, B ou C”, afirmou a jornalistas.
Caiado defendeu que seu campo político tenha diversas candidaturas presidenciais em 2026, e citou como exemplo de pré-candidatos os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), e do Paraná, Ratinho Junior (PSD).
Lideranças políticas da centro-direita, no entanto, têm defendido uma união de forças. Na semana passada, o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, disse que se Tarcísio for candidato à Presidência, deverá ter apoio dos demais partidos do campo político. O governador de Goiás, no entanto, refutou essa possibilidade. “Todos nós temos chances. Quem vai chegar em melhores condições? E qual o problema de ter vários candidatos? Por que tem que ter um candidato só representando a centro-direita no país? Onde se desenvolveu essa tese?”, disse a jornalistas. “Quer mudar a legislação eleitoral, puxar o segundo turno para o primeiro turno? No primeiro turno tem vários candidatos. Não tem problema algum.”