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Como driblar a inflação com o carrinho do supermercado? – Ana Alves

Como driblar a inflação com o carrinho do supermercado? - Ana Alves

A ideia sugerida pelo presidente Lula em uma entrevista na quinta-feira (6), quando recomendou que os brasileiros evitassem comprar produtos caros nos supermercados como forma de ajudar a conter a inflação, parece ter chegado um pouco tarde. 

Na prática, os consumidores brasileiros já estão adotando estratégias para reduzir o impacto da alta dos preços em seus orçamentos, ajustando seus hábitos de consumo para lidar com a escalada da carestia. 

Esse tipo de comportamento é típico em períodos de inflação elevada, quando as famílias precisam reorganizar suas prioridades para equilibrar as despesas.

A retração na demanda é visível e reflete uma série de mudanças no dia a dia do consumidor, especialmente no que diz respeito aos produtos que compõem a cesta básica. 

Alimentos essenciais, como carnes, leite, arroz e feijão, têm sido substituídos por opções mais baratas ou até mesmo consumidos em menor quantidade. 

O brasileiro médio, já acostumado a equilibrar uma renda apertada, vem buscando alternativas como marcas genéricas, promoção de descontos e compras em atacarejos, enquanto reduz a frequência com que adquire determinados produtos. 

Além disso, itens considerados “mimos” ou supérfluos, como guloseimas, refrigerantes e outras indulgências, passaram a ser consumidos com maior moderação ou até mesmo excluídos das listas de compras. 

O impacto da inflação não se restringe apenas aos alimentos: produtos de higiene pessoal e limpeza, que antes eram adquiridos em grandes quantidades, também sofreram cortes. Muitos consumidores optam por comprar apenas o estritamente necessário ou buscam versões mais econômicas, mesmo que de qualidade inferior.

Alguns dados são interessantes. A média de unidades de leite UHT compradas por cliente caiu aproximadamente 4,5% no período, se comparado ao mesmo intervalo de 2024.

A compra do café torrado e moído, por sua vez, recuou cerca de 2,5% por consumidor, conforme a pesquisa.

O mesmo acontece com alguns produtos que são conhecidos no varejo como pequenas indulgências. O chocolate registra queda superior a 5% em unidades compradas neste início de ano, assim como os biscoitos, que recuaram 3,7% no carrinho. O leite condensado e o creme de leite caíram em torno de 2,5% em unidades.

Esse comportamento reflete um fenômeno comum em períodos inflacionários, quando o aumento de preços reduz o poder de compra da população. A inflação, ao corroer o valor do dinheiro, força os consumidores a fazerem escolhas mais criteriosas, priorizando necessidades básicas e cortando excessos. No entanto, o impacto da inflação não é uniforme: famílias de baixa renda são as que mais sofrem, pois dedicam uma parcela maior de seus ganhos às despesas com alimentação e produtos essenciais.

A recomendação de Lula, apesar de bem-intencionada, é limitada no que diz respeito à sua eficácia prática. Evitar produtos caros ou reduzir o consumo pode ajudar individualmente as famílias a lidar com a inflação, mas não ataca as causas estruturais do problema, como custos de produção elevados, gargalos na cadeia de suprimentos ou políticas econômicas que influenciam o cenário inflacionário. 

Para que haja, de fato, uma contenção da inflação, são necessárias ações coordenadas, como a redução de impostos sobre itens essenciais, incentivos à produção e distribuição de alimentos, e o controle mais eficiente de preços em setores específicos.

A atual situação econômica do Brasil, marcada por pressões inflacionárias globais e fatores internos, tem levado os consumidores a repensarem não apenas o que compram, mas também onde e como compram. 

A busca por preços mais baixos fez crescer a popularidade dos atacarejos e feiras livres, enquanto as promoções de grandes redes de supermercados se tornaram ainda mais atrativas. Ao mesmo tempo, o hábito de “fazer estoque” – comum em tempos de inflação descontrolada – voltou a ser observado em algumas famílias, que compram em maiores quantidades quando encontram preços mais baixos, com medo de novos aumentos.

Em suma, a fala de Lula reflete uma situação que muitos brasileiros já estão vivendo há meses: a necessidade de adaptar seus hábitos de consumo para sobreviver em um cenário de inflação alta. 

No entanto, para que haja uma solução mais ampla e eficaz, é preciso que políticas públicas atuem diretamente sobre as causas da inflação, promovendo o equilíbrio entre oferta e demanda, além de proteger as famílias mais vulneráveis. 

Até lá, a população continuará ajustando suas prioridades e aprendendo a lidar, mais uma vez, com os desafios de um orçamento apertado.

Pensem nisso e até a próxima!

Ana Alves

@anima.consult

emaildaanaalves@yahoo.com.br

Economista, Consultora, Professora e Palestrante



Secretaria da Cultura

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