Quando saí da sala de cinema depois de assistir Capitão América: Admirável Mundo Novo, eu senti (e falei na minha crítica) que a gente podia ter esperanças de melhora: ele ainda não era perfeito, mas ali o MCU estava começando a voltar aos eixos.
Em Thunderbolts*, podemos dizer que uma das maiores franquias de entretenimento do mundo relembrou quem era: o filme tem um roteiro amarradinho, boas atuações, trata de temas densos de forma leve (e emocionante) e é BOM. Algo que quem acompanha a Marvel desde antes da Saga do Infinito não pode dizer com afinco há muito tempo.
Afinal, quem são os Thunderbolts?
Os Thunderbolts* (com asterisco mesmo) não são uma equipe formada como foram os Vingadores, por meio do Nick Fury. A iniciativa, aqui, é de Valentina Allegra de Fontaine (Julia Louis-Dreyfus), a diretora da CIA que está prestes a sofrer uma tentativa de impeachment por meio do Congresso Americano.
Congresso este que, no momento, conta com James Buchanan Barnes como um de seus deputados. Sim, a terapia deu certo e o Bucky (Sebastian Stan) é oficialmente político — mas não por muito tempo. Num estilo que combina com anti-heróis assassinos, Yelena Belova (Florence Pugh), John Walker (Wyatt Russel) e Ava Starr (Hannah John-Kamen) se conhecem em uma missão quando são, na verdade, alvos uns dos outros e acabam precisando unir forças para sobreviver.
É, também, quando eles conhecem Bob (Lewis Pullman), um homem desajeitado e cheio de questões que surge do nada, sem que nenhum dos mais fortes perceba de onde. Carismático, ele também esconde um segredo crucial para o desenvolvimento do plot do filme — e isso eu vou deixar para você descobrir na sala do cinema.
Ninguém é 100% bom ou 100% ruim
Uma das principais vantagens de ter personagens moralmente cinza como protagonistas de um filme é a possibilidade de brincar com as expectativas sobre eles. Algo que não acontecia, por exemplo, com Steve Rogers: a gente sabia que ele sempre ia agir de forma altruísta e pensando no bem maior, mesmo se isso significasse ir contra a lei, como em Guerra Civil. A dúvida sobre os caminhos que eles vão tomar em diferentes momentos do filme prende a atenção e eles vão provando que, no fundo, não são 100% ruins, mas também não são 100% bons — assim como todos nós.
Nós lembramos de seus passados e eles também não esquecem do que fizeram. Por isso, a figura de Bucky como um “líder” acaba sendo muito plausível. Poucas pessoas na ficção recalcularam a rota e tomaram as rédeas da própria vida como ele conseguiu fazer, mesmo que seu passado sombrio não tenha sido intencional. Por terem vindo do mesmo lugar, também, a ligação entre eles acaba sendo compreensível: a amizade acaba sendo justificada e acontece de forma natural.
Thunderbolts* é emocionante como nenhum outro filme do MCU tinha sido
E sim, eu já tinha chorado assistindo um filme da Marvel, mas não como aconteceu em Thunderbolts*. A narrativa escolhe uma maneira muito leve e respeitosa para falar dos traumas dos personagens e, além do luto de Yelena, que nós já esperávamos ver em algum momento, a depressão de Bob também entra em pauta. A analogia feita para explicar o que acontece com ele e a forma como ele, eventualmente, vai vencer o que sente acaba gerando identificação com quem assiste. E isso acontece AINDA QUE tudo se passe em um universo com super-heróis, pessoas imortais e que tomaram o soro do supersoldado.
Vindo do mesmo estúdio que usou o luto e a depressão de Thor como alívio cômico em Vingadores: Ultimato, algumas cenas chegam a ser bonitas de assistir (e eu não era a única lacrimejando, ok?).
Aqui vale, também, um elogio ao elenco que foi bem não apenas nas cenas mais emocionantes, mas principalmente nelas. Lewis Pullman representou diferentes facetas do Bob com maestria; Julia Louis-Dreyfus é uma vilã carismática e digna de ódio ao mesmo tempo; Florence Pugh mostra a versatilidade que já levou para outros papéis em um blockbuster que não tem nada de infantil só porque é parte de um universo que leva milhões de pessoas aos cinemas há anos.
Depois de muito tempo, a Marvel tem, finalmente, um título digno de sua era de ouro. E se a melhora foi grande assim de Admirável Mundo Novo para Thunderbolts*, ouso dizer que Quarteto Fantástico também não vai decepcionar.
Ah, e sim: o asterisco em Thunderbolts* é justificado… e você vai precisar assistir para descobrir. E fica o lembrete: o filme tem DUAS cenas pós-créditos. Você não vai se arrepender de ficar até o final.