
Existe uma gaveta no tempo que só se abre em dezembro. Dentro dela, guardamos os resquícios de uma humanidade que o resto do ano se empenha em esquecer. É de lá que vem esse cheiro de afeto antigo, de memória de casa de avó, um fiapo de luz que teima em nos lembrar que a vida, no fundo, é feita de gente.
Mas o mundo de hoje, com seu barulho e suas pressas, nos ensinou a abrir essa gaveta com a mão que segura o celular. Ensinou-nos a caridade do espetáculo, a bondade que precisa do aplauso digital para se sentir real. Uma bondade que, de tão exposta, perde o perfume. A verdadeira caridade, aquela que remenda a alma, não busca o palco. Ela é um segredo, um sussurro trocado entre dois corações, sem testemunhas.
Se a sua alma busca por esse caminho mais quieto, por uma vereda que leve ao centro de si mesmo, escute. Nos Correios, repousam centenas de pequenos barcos de papel, dobrados em forma de carta. São escritos com a caligrafia trêmula da infância, com o português ainda incerto dos sonhos. Neles, crianças pedem por presentes que, para os nossos filhos, são triviais como o pão. Mas para quem escreve, aquele pedido é o mapa de um tesouro, a prova de que a magia ainda mora no mundo.
Ou talvez o seu coração ande meio seco, precisando daquele choro doce que só a alegria desmedida sabe provocar. Se for este o caso, a vida lhe apresenta outra trilha, uma que leva até uma porta. A da Casa de Jeremias (Rua Bento Albuquerque, 535 – Cocó 85.3262.7220). Lá moram crianças pequeninas, de no máximo cinco anos, para quem o Papai Noel não é um mito, mas uma certeza tão real quanto o sol. Pequenos que a vida fez órfãos de braços, mas não de alma.
Imagine-se chegando lá. Você vai para ser Papai ou Mamãe Noel por uma tarde, para dar um presente, um abraço. E descobre que o abraço que você dá é o que a sua alma sempre buscou para si. Em troca do brinquedo, eles lhe entregam o único tesouro que o dinheiro não compra: a pureza de um sorriso e a confiança de uma mãozinha que se aninha na sua. E vai que aquela mãozinha que se aninhou na sua não queira mais soltar? E o mais espantoso: vai que o seu coração descubra que também não quer?
E é aí, nesse instante suspenso, que o verdadeiro milagre de Natal acontece. Não o de dar um presente, mas o de encontrar um destino. Vai que o maior presente da noite não é o que se deixa debaixo de uma árvore, mas o que se leva para a vida toda, para ser pai, para ser mãe, não de Noel, mas de verdade?
Você talvez não saiba, mas era isso que a sua alma buscava no meio do barulho do mundo. Talvez este texto seja apenas um instrumento, uma chave abrindo uma porta para um quarto seu que andava empoeirado. Um quarto onde mora a sua melhor e mais valente versão.
Só tem um modo de saber se essa magia é real. E ela, agora, depende apenas de você.