O dólar à vista encerrou a sessão desta sexta-feira estável, depois de oscilar entre leve alta e leve queda ao longo do dia. No exterior, a moeda americana também teve dificuldade de apresentar uma direção predominante, com parte das divisas mais líquidas apreciada frente ao dólar e outra parte mais depreciada.
Apesar da estabilidade, o dólar encerrou a semana em queda acumulada de 0,74% frente ao real, em um período marcado por possível fluxo de capital estrangeiro ao país, com a moeda americana chegando a bater a mínima em 17 meses no começo da semana, enquanto o índice Ibovespa renovou seu recorde de fechamento.
Encerradas as negociações de hoje, o dólar à vista registrou queda de 0,02%, cotado a R$ 5,2967, depois de ter tocado na mínima de R$ 5,2730 e encostado na máxima de R$ 5,3164. Já o euro comercial registrou depreciação de 0,17%, a R$ 6,1537.
Perto das 17h05, no exterior, o índice DXY, que mede a força do dólar contra uma cesta de seis moedas de mercados desenvolvidos, avançava 0,15%, aos 99,304 pontos.
O dólar abriu a sessão de hoje em alta, acompanhando a dinâmica vista no exterior. Além de a perspectiva de um Federal Reserve (Fed) mais conservador ter dado força para moeda americana, dados mais fracos da economia chinesa podem ter pesado para algumas divisas ligadas à economia asiática e a preços de commodities. Esse mau humor com China, no entanto, foi se desfazendo ao longo da manhã, e no fim do pregão, entre as moedas com melhor desempenho, estavam justamente divisas ligadas ao país, como foi o caso do dólar taiwanês, do won sul-coreano e dos dólares australiano e neozelandês.
Mesmo que o índice DXY tenha recuperado terreno nas últimas semanas, aproximando-se do nível de 100 pontos, moedas de mercados emergentes apreciaram no mesmo período. Para o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, isso pode refletir mais uma maior preocupação com um Federal Reserve (Fed) mais conservador por um lado, mas um alívio em relação à guerra comercial entre Estados Unidos e China. “Neste último caso, um avanço na relação comercial entre as duas maiores economias do mundo deu suporte a preços de commodities, que também beneficiaram moedas emergentes”, diz. “Além disso, países emergentes têm taxas de juros mais elevadas. O que pode tirar um pouco da força dessas moedas é se houver uma redução das taxas nesses países, enquanto o Fed pode optar por interromper o ciclo de corte.”
Para Velloni, a ausência de dados nos Estados Unidos, pode forçar o Fed a ser mais cauteloso no fim do ano e parar seus cortes. “Ele deve esperar até ter uma visão mais definida sobre a economia. Se ele faz um movimento errado, pode colocar em xeque o trabalho de conter a inflação que vinha fazendo há algum tempo.”
Com o movimento desta semana, o dólar à vista voltou a operar perto das mínimas do ano, acumulando queda de 14,5% frente ao real em 2025. Apesar do enfraquecimento do dólar neste ano, a gestora DWS diz, em nota, que a moeda americana continua sendo a “espinha dorsal” do sistema financeiro global. Ao mencionar informações do Banco de Compensações Internacionais (BIS), a gestora lembra que o papel central na desvalorização do dólar neste ano foi desempenhado pela proteção cambial feita por investidores não americanos.
Apesar de não ter um sinal de mudança estrutural, a casa aponta que é notável que o dólar ainda não tenha se recuperado de forma sustentável após seu período de fraqueza no primeiro semestre do ano. “Em vez de um claro movimento de alta, o que se observou desde então foi praticamente uma tendência lateral, o que pode sugerir que os participantes do mercado ainda aguardam maior clareza sobre a política monetária e a disciplina fiscal”, diz trecho do texto apresentado pela gestora.
“Não estamos vendo aqui um colapso do sistema do dólar, mas sim um prêmio de avaliação dentro do sistema fiduciário existente”, afirma Xueming Song, estrategista de moedas da DWS, em nota. “O dólar parece ciclicamente vulnerável, mas acreditamos que permanece estruturalmente ancorado.” Atualmente, fatores de curto e médio prazo, como custos de hedge e riscos políticos, parecem influenciar a direção da moeda sem corroer seus fundamentos.