Leiam com atenção a mensagem que transmitiu a esta coluna o empresário Otacílio Valente, sócio e CEO da Construtora Colmeia, uma das gigantes da construção civil cearense, igualmente preocupado – como o seu colega Ricard Pereira, da indústria metalúrgica, que se manifestou aqui na sexta-feira, 11 – com a absoluta carência de mão de obra, especializada ou simples, no mercado de trabalho. Valente escreveu o seguinte:
“A construção civil está passando pelo pior momento em termos de mão de obra! Não há novos operários para o trabalho e o grande problema é concorrer com quem só quer trabalhar avulso para não perder os benefícios sociais! Está um verdadeiro caos. Temos neste momento um déficit de mais de 100 operários em nossas obras do Porto das Dunas! Acho mesmo que seria melhor o governo liberar os benefícios sociais para quem tem carteira assinada, pois pelo menos teríamos mais chances de concorrer com pequenos empreiteiros que constroem casas em loteamentos e não precisam de formalização!”
Temos uma boa e surpreendente novidade: observa-se que o empresariado começa a sair do armário do medo, dispondo-se a ferir os temas econômicos e sociais, expondo-os na sua dura e crua realidade, que é a seguinte: os programas sociais do governo – principalmente o Bolsa Família — precisam de revisão urgente, sob pena de colocar em risco o setor produtivo e, também e principalmente, as contas públicas já muito deterioradas, com a grave consequência do aumento da dívida e do seu carregamento (os juros) — a relação Dívida-PIB está chegando aos 80%.
Comecemos pelo Bolsa Família, que, como disse Ricard Pereira, é um programa muito bem projetado para distribuir renda às camadas mais necessitadas da população, porém mal executado, pois, sem porta de saída, perpetua um benefício que deveria ser periódico. O resultado é que o beneficiário se acostumou ao ócio remunerado e agora despreza a oferta de emprego formal, no campo e na cidade, levando o setor produtivo ao grito de desespero:
“Alô, governo! Por favor, socorra-me! Empreste-me operários, pago melhor do que você!”
De que maneira o governo pode prestar socorro às empresas na área do mercado de trabalho? O empresariado todo – da indústria, do agro e do serviço — tem sugestões, uma das quais é esta, que seria válida para as atividades rurais: permitir a admissão formal e temporária (durante o plantio e a colheita da safra, por exemplo) do beneficiário do Bolsa Família. De acordo com Otacílio Valente, a mesma proposta valeria para o setor industrial da construção civil.
Carlos Maia, sócio e diretor da Termaco e da Tecer, empresas cearenses com atuação nacional nos setores de logística de transporte e de operações portuárias, cujos sofisticados e caros equipamentos e máquinas exigem profissionais qualificados, é outro que reclama da carência de mão de obra.
“Já sentimos este impacto em nossas empresas. Está dificílimo contratar para o nível mais operacional”, disse ele em mensagem à coluna. Na operação portuária e na logística do transporte, o salário médio gira em torno de R$ 4 mil, acrescido das obrigações da legislação trabalhista.
Atentem: o número de trabalhadores formais com idade variando de 25 a 59 anos vem, perigosamente, reduzindo-se no Brasil. No Ceará — segundo dados do último mês de maio do Rais/Caged — só 33,94% dos trabalhadores têm emprego formal; na Paraíba, 30,92%; no Piauí, 29,8%; em São Paulo, esse percentual é de 54,46%; em Minas Gerais, 43,56%. Como se vê, na região Nordeste está na informalidade a maioria dos que podem trabalhar. Resultado: a Previdência Social, com orçamento já deficitário, caminha em velocidade supersônica para o caos da falência.
Hoje, há menos trabalhadores contribuindo para a Previdência e, obviamente, mais aposentados e pensionistas recebendo proventos. É uma conta que não fecha nem fechará nos prazos curto e médio, a não ser que o governo parta para um duro, necessário e urgente ajuste fiscal, que incluiria mais uma reforma previdenciária — o que não está no seu radar.
Infelizmente, o imbróglio da taxação de 50% sobre todas as exportações brasileiras, imposta pelo governo dos EUA, está encobrindo e fazendo desaparecer, neste instante, o debate sobre a grave situação fiscal do país. E sobre a falta de mão de obra.