O sistema de saúde brasileiro é frequentemente analisado por seus números, investimentos e políticas públicas. No entanto, há uma engrenagem silenciosa que sustenta o funcionamento de hospitais, clínicas e atendimentos domiciliares: a enfermagem. Profissionais que atuam na linha de frente, muitas vezes sem visibilidade, mas que são decisivos no cuidado de milhões de brasileiros.
Com cerca de 2,8 milhões de profissionais registrados, a enfermagem representa mais da metade da força de trabalho da saúde no país. São técnicos, auxiliares e instrumentadores que assumem funções críticas: acompanhar pacientes em internações, preparar salas cirúrgicas, monitorar antibióticos, prestar suporte em emergências, auxiliar em partos, transportar pacientes em ambulâncias e aeronaves, além de oferecer cuidados domiciliares a pessoas em condições críticas.
A trajetória de Fabiana Pinheiro, técnica de enfermagem com 20 anos de experiência, ilustra de forma concreta a importância dessa base. Ao longo de duas décadas, atuou em hospitais de referência como o Cajuru, o Erasto Gaertner e o Nossa Senhora das Graças, passando por setores de trauma, oncologia, obstetrícia e cirurgias robóticas. Mais recentemente, esteve envolvida em atendimentos de urgência e home care, acompanhando desde pacientes oncológicos de longa permanência até casos raros, como a Síndrome de Edward.
Para ela, a enfermagem é mais do que uma função técnica: é a interseção entre a saúde e a vida cotidiana. “Cada paciente traz consigo uma história. O papel da enfermagem é garantir que, mesmo em situações de fragilidade, ele seja tratado com dignidade e cuidado. É isso que dá sentido à profissão”, afirma.

A relevância desse trabalho também aparece em momentos críticos. Durante a pandemia, por exemplo, foram os técnicos e auxiliares de enfermagem que sustentaram o atendimento nas alas de internação e emergências, lidando diretamente com a sobrecarga do sistema. Essa atuação evidenciou um ponto crucial: a política de saúde só é efetiva quando há investimento e valorização desses profissionais.
Apesar da importância, a categoria ainda enfrenta desafios estruturais. A sobrecarga de trabalho, a falta de reconhecimento proporcional à responsabilidade e as condições salariais aquém da complexidade do ofício continuam sendo obstáculos para a consolidação de uma enfermagem mais fortalecida. Esse cenário, segundo especialistas, exige maior atenção das autoridades, sobretudo diante do envelhecimento da população brasileira e da crescente demanda por cuidados prolongados e especializados.
A experiência de profissionais como Fabiana reforça que a saúde não se sustenta apenas em grandes decisões políticas, mas também no trabalho invisível de quem está no dia a dia do cuidado. São eles que garantem que a política de saúde chegue à prática, que cada protocolo se traduza em atendimento e que vidas sejam preservadas em cada turno de trabalho.