Pedra semipreciosa e rara, de um exótico verde azulado, suas tonalidades variam do suave ao intenso, intercaladas ora com transparências, ora com veios de cores quentes. Seus cortes são únicos, um nunca é igual ao outro. Com poucas reservas disponíveis, a única mina com escala para a produção industrial do planeta fica na Paraíba — o que reforça ainda mais seu caráter de exclusividade.
Assim é a amazonita, cujo nome está associado ao rio Amazonas, onde ela teria sido descoberta, em meados do século 19. De lá para cá, o mineral se firmou como um dos mais cobiçados por arquitetos e designers de todo o mundo.
A, no mínimo, US$ 2 mil o metro quadrado (preço que pode ser muito maior, conforme os padrões da pedra), a amazonita está em alguns dos endereços mais sofisticados do globo, seja em residências, hotéis, boutiques e restaurantes.
Ela decora, por exemplo, as paredes da joalheria Tiffany & Co., na elegante Quinta Avenida, em Nova York. E reveste o piso de grandes empreendimentos como prédios governamentais na China e até um cassino em Macau.
Das 1,2 mil toneladas da pedra extraídas todos os anos da mina paraibana de Serra Branca, 90% destinam-se ao exterior. Mas a mineradora Granistone, dona da jazida, planeja para 2025 um retorno às raízes do mineral, responsável por quase metade de seu faturamento. A ideia é manter uma quantidade maior da pedra “em casa”, apresentado comme il faut a brasileiríssima amazonita para os brasileiros.
O mercado nacional tem potencial para absorver, ao longo dos próximos dois anos, 15% da produção total da companhia, o que inclui, além da amazonita, outros nove tipos de minerais — como a capolavoro, crystalline e ametista, todas provenientes de jazidas próprias, no Ceará, Paraíba e Piauí.
O cálculo é de Hugo Meneses de Araújo, CEO e terceira geração da empresa familiar. Em conversa com o NeoFeed, ele explica que um dos principais impulsionadores do movimento é o avanço dos empreendimentos de luxo no país. Em 2024, os lançamentos de alto padrão cresceram 18,3%.
O plano da Granistone prevê mudanças nos modelos de negócio da empresa. Hugo planeja a construção de uma marmoraria própria para a produção de revestimentos e peças de mobiliário com o objetivo de atender as demandas específicas de clientes brasileiros.
Os investimentos para manter as pedras por aqui estão orçados em R$ 7 milhões e incluem ainda o treinamento de um time especializado para levar informação ao público final, selecionando e treinando parceiros do mercado, como marmorarias, designers, arquitetos e decoradores.
Uma das iniciativas mais recentes da companhia foi a parceria com Rodrigo Ohtake, filho do arquiteto Ruy Ohtake e neto da artista Tomie Ohtake. O designer criou um conjunto de peças à base das pedras para a SP-Arte, realizada em abril, na capital paulista.
A poltrona Lua foi feita com amazonita; já na mesa lateral Oblíqua, ela foi combinada com o quartzito capolavoro. Já a mesa de jantar Onda traz os pés em speranza e o tampo em vidro. Todas elas promovem o diálogo entre o brutalismo das pedras e a leveza das formas.
B2B e agora também B2C
A permanência das pedras no Brasil não seria possível se a Granistone não tivesse promovido uma mudança em seu modelo de negócios, antes focado no B2B (business-to-business). Até 2020, os minerais eram vendidos em sua forma bruta.
Porém, Hugo decidiu beneficiar as pedras “dentro de casa”, fazendo com que o material chegasse, assim, a outros públicos, como os árabes. Com isso, o faturamento anual da empresa cresceu 30%.
“Hoje, nosso faturamento está bem dividido entre a matéria bruta e a beneficiada e nosso público está cada vez mais diversificado, com os Emirados Árabes ganhando espaço na carteira”, diz o CEO. No total, a Granistone exporta para mais de 20 países e espera continuar aumentando esse número nos próximos anos.

Neto do fundador da Granistone, o CEO Hugo Meneses de Araújo quer promver o “retorno às raízes” da empresa. Ele está sentado na poltrona “Lua”, idealizada por Rodrigo Ohtake e feita em amazonita( Foto: Divulgação)

Os móveis feitos pelo designer Rodrigo Ohtake com pedras da Granistone foram apresnetados na última SP-Arte (Foto: Divulgação)

O geólogo Julio Sarmento, avô de Hugo, foi o fundador da empresa em 1989 (foto: Divulgação)

Em Nova York, na joalheria Tiffany & Co., da Quinta Avenida, uma das paredes é revestida por amazonita (Foto: Divulgação)
Quando o geólogo e professor universitário Julio Sarmento, avô de Hugo, fundou a Granistone em 1989, no município cearense de Santa Quitéria, o mercado interno vivia um período de bonança. No ano anterior, o governo do Estado havia lançado um programa para fazer do Ceará o polo produtor de pedras ornamentais no Brasil.
Na época, o granito era uma das pedras mais procuradas pelo mercado nacional Sua durabilidade permite que o mineral seja usado em lugares de trânsito intenso, como aeroportos, shopping-centers e supermercados. Em 1990, com o início do processo de abertura do país para o mercado estrangeiro, a Granistone começou a se internacionalizar.
“Quando meu avô encontrou uma pedreira de granito [a Mina Asa Branca, em Santa Quitéria],o mercado era completamente diferente: o foco era no Brasil e em grandes obras”, conta o CEO. “Com o crescimento do negócio e o descobrimento de novas pedreiras com materiais mais exóticos e raros, esse mercado virou internacional e o foco foi para o uso ornamental.”
A riqueza e diversidade geológica brasileira, com 1,2 mil tipos de rochas, de boa qualidade, colocam o país em destaque no ecossistema global de pedras ornamentais — avaliado em US$ 14 bilhões em 2022 e projetado para atingir US$ 24,6 bilhões, em 2032.
Quarto maior produtor, o país é o quinto maior exportador. Em 2024, as exportações chegaram a US$ 1,2 bilhão — alta de 12,7% em relação a 2023. Com cerca de 90% da extração nacional destinada ao exterior, é chegada a hora de manter um pouco das pedras brasileiras em solo brasileiro. Pelo menos as da Granistone.