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Fortaleza que nunca dorme: quais negócios movimentam economia da cidade na madrugada? – Negócios

Fortaleza que nunca dorme: quais negócios movimentam economia da cidade na madrugada? - Negócios

O fluxo frenético das metrópoles durante o horário comercial dá lugar à escuridão e ao aparente vazio na maioria delas após a meia-noite. Mas se engana quem pensa que as grandes cidades, como Nova Iorque e São Paulo, descansam nesse horário. Agora, é a vez de Fortaleza, com todas as suas particularidades, varar a madrugada com um comércio pujante e serviços especializados.

O último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que Fortaleza é a quarta maior cidade do País, com pouco mais de 2,42 milhões de habitantes. A capital cearense, que durante muitos anos foi reconhecida como uma cidade de forró e shows de humor, vê crescer na madrugada outras modalidades e até ser ocupada por uma rotina diferente.

Dividem espaço com os públicos de bares, boates e casas de festas os trabalhadores da madrugada. São pessoas que atuam no setor de comércio em empreendimentos, como lavanderias de autosserviço, academias, lojas de conveniência, postos de combustível e farmácias.

Em comum, todos eles atendem a uma demanda que existe e atua em conjunto. Seja para atender outros trabalhadores, a exemplo de motoristas de aplicativo, policiais, médicos e jornalistas, cujas rotinas não necessariamente correspondem ao chamado “horário comercial“, seja para atender àquelas pessoas que simplesmente querem consumir um produto ou serviço madrugada adentro.

O Diário do Nordeste passou os últimos dois meses percorrendo da periferia à área nobre da Capital em busca de responder à pergunta: o que está aberto de madrugada em Fortaleza? Está é a primeira matéria da série especial Negócios da Madrugada, que busca desvendar o que faz a economia da cidade girar entre meia-noite e seis da manhã.

Lava & seca: a Fortaleza das lavanderias de autosserviço 24 horas 

O segmento 24 horas cresce na Capital com serviços que não necessariamente fazem parte de condutas da boemia, como ir a bares, baladas e restaurantes. Independentemente do bairro, da localização, é possível observar ao longo dos meses o surgimento de empreendimentos como lavanderias e academias funcionando na madrugada.

Uma delas é a LavEasy, aberta em janeiro de 2023 em um pátio comercial na rua Costa Barros, no bairro Aldeota. Ela faz parte de uma gama de estabelecimentos do gênero. De acordo com levantamento da plataforma Empresa Aqui, com última atualização em maio deste ano, Fortaleza conta com 425 empresas do segmento de lavanderias. Não há dados sobre quantas destas funcionam na madrugada.

Christiane Pitombeira, proprietária da LavEasy, apostou no segmento da lavanderia de autosserviço, isto é, aquela em que o consumidor vai, lava e seca a própria roupa, sem a interferência de um funcionário. O que era um complemento de renda acabou se tornando um plano A para a empresária.

A opção por funcionar na madrugada tem várias razões, como ela elenca. Seja por rotina de trabalho ou até mesmo pelo menor movimento, o funcionamento entre meia-noite e seis da manhã tem ainda preços mais atrativos para os clientes.

“A gente era usuário e gostava, mas achava o ambiente das outras muito frio. Resolvemos fazer a nossa para mudar esse conceito. A gente já tinha pessoas que vinham na madrugada. Fizemos um preço bem agressivo na madrugada, e desde então cativamos um público para esse horário. Não tem ninguém assim comparado a outros horários. A pessoa trazendo mais roupas, encontra menos máquinas ocupadas. Com a ampliação, a pessoa vem para usar os cinco equipamentos na madrugada”, define.

Legenda:

LavEasy, de Christiane Pitombeira, funciona 24 horas em Fortaleza. Madrugada é 10% do faturamento

Foto:

Ismael Soares

A empresária avalia que cada vez mais pessoas usam a madrugada para atualizar suas rotinas, incluindo lavar as próprias roupas. Christiane diz ainda que o principal horário de fluxo da lavanderia é de 18 horas às 22 horas, responsável por 60% do faturamento. Entre meia-noite e seis da manhã, o montante é de 10%, e mesmo assim, os planos são de continuar “com certeza” funcionando nesse horário.

O nosso ponto é muito favorável para isso. Estamos em um mall que tem vigilância, que está em frente à delegacia, com trava interna. Dá uma certa segurança para o cliente. Tem público. Pode não ser a grande fatia do bolo. Tem as pessoas por conta do horário de trabalho, que saem ou que vão entrar nesse horário. A madrugada tem essa disponibilidade de ter menos pessoas”.


Christiane Pitombeira

Proprietária da LavEasy, lavanderia que funciona 24 horas

Durante uma madrugada de visita da reportagem à LavEasy, a comerciante Andrea Bello estava esperando a lavagem de um cesto de roupas. Ela opta pelo horário muito em virtude da tranquilidade, inclusive do trânsito. 

“Lavo tudo aqui. Já vim durante o dia e tive que voltar (pela lotação). Prefiro vir de noite. Às vezes encontro pessoas viajando, com mala, entre um período e outro, consegue lavar e secar, é importante. Ainda está mais tranquilo do que durante o dia”, aponta. 

Fortaleza ganha ‘corpo e forma’ com as academias 24 horas

Paralelo à popularização das lavanderias, as academias também se transformaram em um negócio lucrativo nos últimos anos em Fortaleza. Elas estão nos mais diversos lugares, e para atrair os consumidores, vale de tudo, inclusive funcionar 24 horas.

Uma série de academias já aproveitaram o filão para estender o horário de funcionamento. O movimento é bastante reduzido comparado com períodos como a noite, mas é possível encontrar diversos alunos se exercitando por diferentes razões.

Wesley Lima, estudante de pedagogia, faz academia no período noturno, e frequentemente vai para o local após a meia-noite. Ele mora no bairro Castelão, e a abertura de uma unidade da Gaviões na avenida Alberto Craveiro, em 2024, deu a oportunidade de ele conseguir se exercitar após um dia de estágio e de aulas.

“Comecei a malhar na Gaviões no começo do ano. Às vezes flexibilizo os horários, mas na maioria das vezes, venho à noite. Foi uma necessidade do dia, é muito corrido, pela correria da faculdade, e a gente encontra o horário que dá, que é geralmente de madrugada. Moro perto da avenida Alberto Craveiro. Me sinto muito confortável, porque posso escolher o melhor horário e conciliar melhor com as atividades do dia”, defende.

Wesley argumenta que a chegada da rede na região da avenida Alberto Craveiro foi essencial para mudar a dinâmica do local. “A gente encontrava pouquíssimas coisas na proximidade do Castelão que são 24 horas, acaba que dá uma movimentada a mais na região também”.

Tinha lanchonete, pizzaria, que normalmente já estendia pela noite, mas nada como uma coisa de cuidado com o corpo, como academia. A academia é relativamente vazia, mas sempre tem umas pessoas malhando e fazendo seu treino. Melhor horário, se quiser equipamento vazio, é de madrugada”.


Wesley Lima

Estudante de pedagogia

Legenda:

Academias 24 horas se popularizam em Fortaleza, com cada vez mais adeptos na madrugada

Foto:

Ismael Soares

A Gaviões pode não ser a pioneira do gênero de academia 24 horas, mas chegou com intensidade em Fortaleza neste formato. Já são três unidades na Capital, nos bairros Castelão, São Gerardo e Sapiranga, e com previsão de pelo menos mais uma dezena. Atualmente, a cidade não tem um levantamento exato de quantos empreendimentos do setor funcionam na madrugada, mas já ultrapassam as dez.

Durante visita do Diário do Nordeste à unidade do São Gerardo, na avenida Bezerra de Menezes, o gestor de expansão da Academia Gaviões no Nordeste, Eric Reimer, explica que o objetivo da empresa é oferecer a disponibilidade para pessoas das mais diversas rotinas aproveitarem o turno da madrugada para colocar em prática suas rotinas de exercícios.

“Trouxemos a ideia para um público que tem horários diferentes e precisa de um local mais flexível.  As pessoas que têm rotinas de trabalho de 8 horas até às 17 horas não têm noção de que têm médicos, policiais, jornalistas, garçons, seguranças que vão sair meia-noite do trabalho, chegar na academia 1 hora e treinar. Existe uma demanda por 24 horas que toda cidade necessita, fora o pessoal da insônia e da galera que gosta mesmo da madrugada”, expõe.

Durante a madrugada, ainda no escuro, Eric Reimer diz que, em média, de 30 a 50 pessoas utilizam as unidades da academia. Nada comparado ao grande fluxo, de 200 clientes simultâneos durante a noite. A opção do funcionamento após a meia-noite é, também, estratégica.

“A gente faz uma boa análise, há mais de 30 anos a gente trabalha 24 horas. A gente conhece os pontos, entende onde dá para funcionar 24 horas. Se viesse todo mundo entre 17 horas e 22 horas, não ia caber, então a gente faz estratégias para atrair gente para outros horários. Temos um volume maior do que outras academias 24 horas mesmo fora do nosso horário de pico. A gente traz de diferente a opção do cliente treinar depois das 22 horas, porque está mais vazia e tranquila”, diz.

Quando faz o 24 horas, aumenta o número de pessoas praticando academia para que a gente gere mais emprego e impostos. Conseguimos também profissionalizar mais pessoas. A gente percebe ainda que o mercado 24 horas de Fortaleza mudou. A gente vê mais empreendimentos como farmácias, lavanderias, que a gente sente falta em Fortaleza. Quando chega uma querendo arriscar, começam a surgir outras querendo arriscar também. Existem pessoas que precisam dos mercados 24 horas.


Eric Reimer

Gestor de expansão da Academia Gaviões no Nordeste

Reimer ainda destaca o turismo, principalmente em uma cidade como Fortaleza. Segundo ele, vários clientes optam por continuar a rotina de treinos mesmo fora do local de origem, seja porque estão viajando a lazer ou a negócios.

“Tem muito turista que vem com essa cultura e espera isso do outro estado onde vai. Fortaleza tem um potencial muito grande. Estaremos inaugurando unidades próximo à praia para isso. Esse funcionamento do 24 horas, tinha muita gente que não conseguia fazer investimento em academia porque não cabia dentro do seu horário”, considera.

Foto que contém a logomarca da academia Gaviões

Legenda:
Gaviões tem três academias em Fortaleza e uma em Aracati que funcionam 24 horas

Foto:
Ismael Soares

Farmácias e postos de combustível abertos disparam nos últimos anos; supermercados desaparecem

O crescimento exponencial da cidade de Fortaleza veio acompanhado do boom das farmácias em todo o País. Ocupando geralmente esquinas do Vila Velha à Lagoa Redonda, esses estabelecimentos se transformaram em verdadeiras conveniências para os consumidores na madrugada.

No levantamento mais atualizado, de maio de 2024, a Capital tinha cerca de 1 mil farmácias, mas o número já cresceu nos últimos meses. O sindicato que representa o segmento de farmácias e drogarias no Estado, o Sincofarma-CE, afirmou à reportagem que não existe um dado sobre a quantidade exata de estabelecimentos abertos durante a madrugada.

Duas das maiores redes farmacêuticas do País com atuação em Fortaleza, a cearense Pague Menos e a paulista RaiaDrogasil, informaram que há 37 estabelecimentos “abertos 24 horas”, isto é, com funcionamento ininterrupto durante os sete dias da semana.

Foto que contém farmácia Pague Menos em Fortaleza

Legenda:
Farmácia Pague Menos do cruzamento das avenidas Visconde do Rio Branco e 13 de Maio funciona 24 horas

Foto:
Ismael Soares

Um exemplo é a sede nacional da Pague Menos, na rua Senador Pompeu, no Centro de Fortaleza, que funciona 24 horas. De acordo com a empresa cearense, as farmácias que atuam em regime de plantão “estão localizadas em regiões descentralizadas”. O grupo afirma ainda realizar pesquisas constantes de mercado para implementar novas lojas no modelo.

A RaiaDrogasil detalhou que tem 13 unidades funcionando 24 horas na cidade, representando aproximadamente 20% de todas as farmácias da empresa na Capital. Em vendas, a madrugada corresponde a somente 1,4% do volume comercializado pela empresa em Fortaleza mensalmente.

O funcionamento desses estabelecimentos, no entanto, faz parte da estratégia da empresa de aproximar a companhia do público “em momentos de maior emergência ou para atender as diferentes rotinas”. A RaiaDrogasil tem planos de expansão da rede que funciona 24 horas na cidade.

O Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado do Ceará (Sindipostos-CE) não tem o número exato de quantos postos de combustíveis funcionam 24 horas ou em parte do período da madrugada em Fortaleza. Conforme a entidade, a Capital “tem cerca de 280” estabelecimentos do gênero. Desse total, “aproximadamente 150” estão abertos durante a madrugada.

No setor de supermercados, a situação é completamente diferente. Há alguns anos, era possível encontrar estabelecimentos do setor abertos durante a madrugada, a exemplo do Pão de Açúcar do Náutico, na avenida Abolição, e do hipermercado Extra do Shopping Iguatemi Bosque.

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Esse é o número de supermercados que funcionam em Fortaleza durante a madrugada. No passado, redes como o Grupo Pão de Açúcar tinham unidades abertas 24 horas.

Segundo Antônio Sales, secretário-executivo da Associação Cearense de Supermercados (Acesu), Fortaleza não tem mais supermercados que funcionam 24 horas. Os estabelecimentos que mais se aproximam desse formato são ou as lojas de conveniência, atuantes “notadamente em postos de combustível”, ou mercadinhos de autosserviço em condomínios residenciais.

Há 12 anos, o cenário era outro. A capital cearense contava com somente cinco farmácias abertas 24 horas, mas tinha três supermercados em funcionamento durante a madrugada. 

Foto que contém a fachada do Pão de Açúcar Náutico Fortaleza

Legenda:
Pão de Açúcar do Náutico, em Fortaleza, foi um dos últimos supermercados a funcionar 24 horas na cidade

Foto:
Google Maps/Reprodução

O pó de guaraná “raiz” do Damião no Centro de Fortaleza

As portas podem até estar abaixadas na rua Assunção, no Centro da Capital, mas isso não significa que a tradicional lanchonete Damião do Guaraná está fechada. O horário que for da madrugada, o comerciante Damião Oliveira vai abrir as portas para os clientes. 

“Se tiver a porta fechada, pode bater, ligar ou acionar o WhatsApp. Só saio daqui 3 horas, 3h30, esses horários. Sozinho dou conta do recado, mas se tivesse mais movimento, daria ainda mais”, dispara o comerciante.

A lanchonete famosa comercializa pó de guaraná e vitaminas, sanduíches e açaí. Natural de Imaculada, no interior da Paraíba, o comerciante chegou a Fortaleza em 1993, e desde 1996, mantém o ponto na rua Assunção.

“Trabalhamos com entrega em domicílio desde a fundação. Cheguei aqui e nem sabia que existia guaraná natural. Foi uma surpresa muito grande. Trabalhei no Ponto do Guaraná e depois montei o meu ponto”, relembra.

Damião Oliveira, comerciante do Centro de Fortaleza

Xarope de guaraná do Damião do Guaraná

Legenda:

Damião do Guaraná é parada obrigatória para quem madruga pelo Centro de Fortaleza

Foto:

Ismael Soares

Ao longo de quase 30 anos atuando na madrugada, Damião já perdeu as contas das vendas feitas para taxistas, motoristas de aplicativo, agentes de segurança e clientes e comerciantes de feiras na região do Centro. 

Acho que todo mundo que tivesse esse privilégio de ter seus comércios funcionando até altas horas da noite é muito importante para poder a economia girar. Além da necessidade de vender, nasci para servir as pessoas. Gosto de atender as pessoas, não me canso”.


Damião Oliveira

Comerciante

Segundo informações disponibilizadas pelo presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes – Seccional Ceará (Abrasel Ceará), Taiene Righetto, não existe um número exato de quantos empreendimentos do setor funcionam após a meia-noite, mas “é menos de 1% dos estabelecimentos”.

Ele declara ainda que, na área central e nobre da cidade, são poucos bares e restaurantes que ficam “até 2 ou 3 da manhã”. Na periferia, a Abrasel Ceará “não tem conhecimento”: “Posso garantir que algumas casas de forró abrem até mais tarde aos fins de semana, mas não tem mais que 10 bares que ficam abertos até de madrugada”, acrescenta Taiene.

O que diz a Prefeitura de Fortaleza sobre o comércio na madrugada?

Essa resposta sobre o que funciona ou não na madrugada é complexa. A falta de dados completos e detalhados sobre o número de estabelecimentos abertos entre meia-noite e seis da manhã prejudica o desenvolvimento de atividades econômicas em Fortaleza, como reforçam os especialistas ouvidos pela reportagem. A única certeza é de que o comércio formal — e informal — se fortalece gradativamente na cidade.

A reportagem procurou a Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (SDE) e da Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma) para questionar a quantidade exata de estabelecimentos comerciais e de serviços abertos durante a madrugada na Capital.

A Seuma é responsável pelo alvará de estabelecimentos formais em funcionamento na cidade, mas por meio da assessoria de imprensa, a pasta afirma que não há dados oficiais sobre quem abre ou fecha durante a madrugada que constem em documento.

O mesmo vale para a SDE, que também não tem um levantamento de quantos empreendimentos do setor de comércio e serviços funcionam na madrugada de Fortaleza.

Em entrevista ao Diário do Nordeste, o titular da SDE, Antônio José Mota, explica que o plano da Prefeitura de Fortaleza é de uma maior descentralização da atividade econômica, e que atualmente os 121 bairros da cidade, divididos em 12 regionais, têm dinâmicas próprias para gerar emprego e renda.

Foto que contém amanhecer em posto de combustível na avenida Visconde do Rio Branco

Legenda:
Madrugada mantém público ativo em Fortaleza e que consome serviços variados

Foto:
Ismael Soares

“Vamos encontrar uma série de serviços, que funcionam de madrugada, para além dos deliveries, como restaurantes, bares e casas de shows, além de farmácias, academias e postos de gasolina. Estamos trabalhando e levantando esses dados para criar um programa específico para desenvolvimento da madrugada. O maior problema que a gente vê na madrugada é a questão da insegurança. Muitos estabelecimentos não funcionam de madrugada com medo da insegurança”, diz o titular da SDE.

“Temos uma preocupação de gerar mais desenvolvimento. Já estamos trabalhando a parte convencional, na questão da qualificação profissional e da economia criativa, principalmente do micro e pequeno empreendedor, vendo também a questão do microcrédito orientado. A questão da madrugada, hoje, o principal, ligado à Prefeitura, são as feiras. Temos a Feira da José Avelino, que funciona de terça para quarta e de sexta para sábado”, reforça.

Como é a questão da segurança e da mobilidade na madrugada em Fortaleza?

Por meio de nota, a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará (SSPDS-CE), por meio da Polícia Militar do Ceará (PMCE), revela como é feito o policiamento durante o período de meia-noite às seis da manhã.

A entidade enfatiza que cada região tem patrulhamento feito pelo Batalhão responsável pela área de atuação correspondente, seja com viaturas de carro, moto, bicicleta ou à pé. Em caso de necessidade, o policiamento pode ser reforçado com equipes especializadas.

Ações criminosas ficam cobertas pelo registro do Boletim de Ocorrência (BO), presencialmente em uma delegacia da Polícia Civil ou virtualmente na Delegacia Eletrônica. 

“Ratificamos que, em situações de emergência ou diante de qualquer ação suspeita, a PMCE deve ser acionada imediatamente pelo telefone 190”, arremata a pasta.

Já a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) revelou como é feito o transporte público conhecido como ‘Corujão’. Tanto a frota quanto a quantidade de linhas disponibilizadas para a população é reduzida em uma demanda que não chega a 1 mil passageiros diários durante a madrugada.

“Atualmente doze linhas de ônibus operam no período da madrugada por meio do serviço conhecido como “Corujão”, com uma frota de 16 veículos. O funcionamento ocorre entre meia-noite e 6 horas, com o objetivo de atender à demanda reduzida de passageiros nesse horário”, diz a pasta.

Foto que contém linha de ônibus 034 - Paranjana I/Corujão de Fortaleza

Legenda:
Ela ainda existe: um dos principais símbolos do transporte público de Fortaleza, linha Paranjana continua em plena atividade na Capital, mas somente durante a madrugada

Foto:
Ismael Soares

Isso inclui linhas emblemáticas na cidade, como a 034 e 035 – Paranjana I e Paranjana II, respectivamente. As duas existiam regularmente de 6 horas até meia-noite, mas foram descontinuidas no início da década de 2010. 

Os ônibus são o único transporte público em funcionamento durante a madrugada na Capital. As três linhas do Metrô de Fortaleza (Metrofor) não operam neste turno, com exceção da Linha Sul durante a operação especial do São João de Maracanaú.

Madrugada é ‘eldorado’ que precisa existir, defende especialista

Parafraseando “The City Never Sleeps”, canção dos anos 1980 que nomeou Nova Iorque como a cidade que nunca dorme, a professora de Marketing da Universidade Federal do Ceará (UFC), Cláudia Buhamra, explica que é essencial que uma metrópole da magnitude de Fortaleza – a maior do Norte-Nordeste – tenha comércio e serviços ativos após a meia-noite.

A especialista frisa que Fortaleza é uma cidade fundalmente turística, e “o turista não tem hora para passear: ele quer festa, comércio e ações diversificadas”. Isso inclui segmentos boêmios, em regiões com alto fluxo de pessoas na madrugada, mas também serviços como lavanderias, farmácias e academias, além de lojas de conveniência.

É uma cidade que tem um fluxo de visitantes muito grande. Existe hoje uma agenda tão lotada de pessoas durante o dia que a madrugada parece um momento de maior reflexão. As pessoas estão descobrindo na madrugada a possibilidade de fazer coisas desconectadas de relógio. Não há cobrança de ter que levar a criança na escola, ter que buscar, ter que trabalhar. Acaba se encontrando também nesse movimento da madrugada a possibilidade de fazer coisas”.


Cláudia Buhamra

Professora de Marketing da UFC

“É um momento de silêncio, que o Whatsapp não perturba e o telefone não chama, assim como existem os serviços essenciais que funcionam. Encontrar também no comércio esse aconchego de poder escolher também faz parte de momentos especiais do consumidor. Além disso, geralmente o comércio é de rua, que acaba sendo um pouco mais barato. O clima de Fortaleza não favorece esse ar livre durante o dia. A madrugada também permite uma melhor ambientação do ponto de vista do clima”, sinaliza. 

Se os supermercados não abrem 24 horas, os consumidores podem acabar migrando para outra modalidade do varejo alimentar. Em Fortaleza, não existe uma quantidade exata, mas as lojas de conveniência abertas durante a madrugada oferecem desde pequenos alimentos até bebidas, comidas prontas e outros negócios, ainda que com um valor mais elevado. 

“As lojas de conveniência estão conquistando um espaço que está sendo deixado por vários negócios na área de alimentação. Quem quer ir a partir de meia-noite a um restaurante, seja porque saiu do trabalho mais tarde, seja porque estava em alguma outra atividade, quando chega ao restaurante, não tem mais disponibilidade. A loja de conveniência está ocupando esse espaço”, registra a especialista.

Foto que contém a movimentação da madrugada em Fortaleza

Legenda:
Madrugada em Fortaleza, embora tenha movimento muito reduzido, tem público consumidor forte

Foto:
Ismael Soares

Cláudia Buhamra aponta que a madrugada atualmente tem facilidades de comércio e serviços sem que o consumidor necessariamente precise sair de casa e vencer a barreira da insegurança, um dos principais obstáculos e desafios apontados pelos lojistas e consumidores para o funcionamento neste horário.

“Quando se pensa na madrugada, tem que pensar em toda uma condição para que aquelas pessoas que trabalham de madrugada tenha as justas folga, remuneração, transporte seguro garantido. O comércio, a qualquer hora do dia que se oferecer, terá a demanda, porque o consumidor é insaciável, não dorme e ama novidade. Só precisa tomar cuidado com quem vai operacionalizar esse comércio. Cuidar das pessoas é cuidar dos negócios”, arremata.

Madrugada em Fortaleza: investir ou não?

Essa questão da madrugada é um fator complicador inclusive para os empresários, como delimita Roberto Kanter, professor de MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV). A rotatividade do horário é alta, e nem sempre vai haver pessoas dispostas a enfrentar esse tipo de rotina.

“O problema do comércio é um complicador enorme para as empresas, de manutenção de mão de obra e disponibilidade. Tem ainda a questão de não ter pessoas suficientes para trabalhar e de não conseguir engajar e manter as pessoas trabalhando muito tempo. Por isso que tem uma tendência de lojas autônomas. Isso vem crescendo cada vez mais, em condomínios. Até em farmácia, vai e compra um produto simples sem receita”, pontua.

É o papel da loja de conveniência, até pela própria natureza do posto de combustível. O que precisa acontecer é que as lojas de conveniência precisam estudar o consumidor. Será que elas enxergam que precisam ter um mix de produtos além de cerveja, hambúrguer, pão de queijo, refrigerantes e comida? Será que poderiam ter remédios, produtos para casa e higiene pessoal? (…) O preço é mais alto, mas é o preço da conveniência.


Roberto Kanter

Professor de MBAs da FGV

As lojas autônomas são as de autosserviço, como as lavanderias e as no modelo Oxxo, presente nas ruas de São Paulo, mas restrito a poucos condomínios residenciais em Fortaleza. No caso de estabelecimentos como as conveniências em postos de combustível, é preciso estar atento às preferências do consumidor.

Roberto Kanter faz um balanço necessário a ser feito pelo investidor que vai abrir um negócio que funcionará durante a madrugada. Para ele, “não adianta nada o varejista detectar oportunidades se o ambiente de negócios não proporciona isso”, se referindo a uma série de questões que precisam ser consideradas.

Foto que contém estabelecimento 24 horas em Fortaleza

Legenda:
Estabelecimentos 24 horas em Fortaleza proporcionam comodidade ao consumidor, mas é preciso ter cautela

Foto:
Ismael Soares

“Não é somente a vontade do varejista, é um ecossistema regional e local que vai proporcionar essa possibilidade para todos. Não é uma decisão exclusiva, é uma decisão generalizada, de negócio. Varejo não é ONG, varejista sente o cheiro onde tem chance de ganhar dinheiro. Se ele perceber movimento, vai olhar para ver se é um modismo passageiro. O custo de abrir uma loja ou estar dentro de uma determinada oferta, não é fácil. É muito caro. Não é uma coisa que se resolve do dia para a noite”, realça.

Nesta quinta-feira (26), a série de reportagens sobre o que funciona de madrugada em Fortaleza segue rumo à regional 4. Lá, o comércio alimentar ganha força com o desenvolvimento, ainda que não oficial, de um polo gastronômico às margens da avenida Augusto dos Anjos.

 



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