Segundo relatório elaborado pela Oxfam Internacional, divulgado nesta quinta-feira (26), a fortuna dos 1% mais ricos do mundo cresceu mais de US$ 33,9 trilhões desde 2015, valor que seria suficiente para erradicar a pobreza cerca de 22 vezes, levando em conta o valor de US$ 8,30 por dia do Banco Mundial, para que uma pessoa tenha o mínimo diário para sobreviver.
O documento “Do Lucro Privado ao Poder Público: Financiando o Desenvolvimento, Não a Oligarquia” detalha que houve um “aumento astronômico da riqueza privada” entre 1995 e 2023, quando a riqueza privada cresceu 8 vezes mais que a riqueza pública, num total de US$ 342 trilhões.
Apenas a fortuna de cerca de 3.000 bilionários cresceu US$ 6,5 trilhões de 2015 até 2023, o que equivale a 14,6% do PIB global. Atualmente, mais de 3,7 bilhões de pessoas permanecem na pobreza dez anos após a aprovação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), segundo a entidade.
- Apenas 16% das 17 metas para o Desenvolvimento Sustentável estão no rumo certo para 2030.
A Oxfam também alerta para os drásticos cortes feitos por governos em todo o mundo, denunciando também o financiamento privado de projetos em detrimento de iniciativas vindas do poder público, como investimentos em bens nacionais relacionados a energia e transporte.
Esses cortes em ajuda humanitária podem levar a 2,9 milhões de mortes adicionais por HIV/AIDS até 2030, quando se considera o início dos registros feitos a partir de 1960. Os países do G7, por exemplo, irão reduzir seus repasses em 28% até 2026, sendo que são responsáveis por 75% de toda ajuda voltada para causas humanitárias.
“A ajuda humanitária está sendo destruída, uma guerra comercial começou e o multilateralismo está em frangalhos – tudo sob o pano de fundo do segundo governo Trump. O desenvolvimento global está falhando porque os interesses de uma minoria super-rica são colocados acima de todos os outros”, diz Amitabh Behar, diretor-executivo da Oxfam Internacional.
O documento diz que a estratégia de priorizar a iniciativa privada e seus investidores e credores, que detêm 43% dos ativos globais, o que beneficiou apenas os mais ricos, penalizando os países pobres com termos abusivos sem margem para negociação, um modelo que “falhou em mobilizar recursos suficientes para o desenvolvimento”, segundo a Oxfam.
O que pode ser feito
Para a Oxfam, uma mudança de rumo vem a partir de propostas que combatam a desigualdade e revertam o atual modelo de financiamento para o desenvolvimento, como coalizões que combatam a pobreza, e cita a liderança do Brasil nesse sentido, e a taxação dos super ricos para financiar ajuda humanitária e outras ações.
A entidade cita uma pesquisa onde 9 em cada 10 pessoas apoiam financiar serviços públicos e ações climáticas com impostos sobre os detentores de alto patrimônio. “O Brasil é um retrato escancarado do fracasso do atual modelo de desenvolvimento global, que prioriza lucros privados em vez do bem-estar coletivo”, diz Viviana Santiago, Diretora Executiva da Oxfam Brasil.