Search
Close this search box.
Search
Close this search box.

Fundos com estratégia ESG ganham peso no Brasil em contraste com resgates no exterior

investimento ESG

Enquanto o mercado brasileiro ainda vive um período de instabilidade e baixo apetite por ativos de risco, os fundos ESG, embora ainda pequenos, têm avançado a passos largos.

Até maio deste ano, o volume sob gestão desses fundos cresceu 28%, alcançando R$ 34 bilhões. Os dados, levantados pelo Itaú BBA, mostram um ritmo de expansão bem acima dos 4,27% registrados pela indústria de fundos no mesmo período.

O levantamento considerou 193 fundos brasileiros alinhados a diretrizes ESG, excluindo veículos de private equity, REITs e outros específicos. A captação líquida foi de R$ 6,22 bilhões nos cinco primeiros meses deste ano e de R$ 14,7 bilhões em 2024 — um movimento na contramão do encolhimento visto fora do país.

Segundo a Morningstar, no primeiro trimestre os fundos ESG sofreram resgates de US$ 6,1 bilhões nos Estados Unidos e de US$ 1,2 bilhão na Europa. No ano passado, porém, o continente europeu havia liderado os investimentos sustentáveis, com entradas líquidas de US$ 20,1 bilhões.

“Um ambiente geopolítico moldado pelo retorno do presidente Donald Trump à Casa Branca fez com que as preocupações com sustentabilidade na Europa, incluindo as metas climáticas, perdessem prioridade”, avaliam analistas da Morningstar.

Outro ponto levantado foi que a agenda anticlimática de Trump introduziu novos riscos jurídicos. “Esses desdobramentos levaram gestores de recursos nos EUA a adotar uma postura global mais cautelosa na promoção de suas credenciais ESG e no apoio a questões de sustentabilidade.”

No Brasil, o crescimento dos produtos ESG veio acompanhado de uma mudança no perfil. Até 2022, o mercado era dominado por fundos de ações, que respondiam por mais de 90% do volume alocado em ESG. Até maio, essa fatia recuou para 17%, enquanto a renda fixa passou a concentrar 78% do total investido e os multimercados, 6%.

Neste ano, mesmo com o desempenho favorável da bolsa (o Ibovespa acumula alta de 14,7% e o Índice de Sustentabilidade da B3, 22,5%), os fundos ESG de ações perderam 12% de volume, com uma saída líquida de R$ 1 bilhão. Na outra ponta, os fundos ESG de renda fixa cresceram 48%, atingindo R$ 26,4 bilhões, impulsionados pela busca por ativos atrelados à Selic — hoje no maior patamar desde 2006.

Dentro desse universo, 76% estão alocados em fundos classificados como de Investimento Sustentável (IS), que exigem maior transparência sobre os critérios adotados. A abordagem mais comum é a “triagem negativa”, que exclui do portfólio setores que não atendem a certos padrões ESG.

Entre os fundos analisados, mais de 90% evitam investir nos setores de armas, carvão e tabaco. Já mais de 80% excluem empresas envolvidas com corrupção, trabalho infantil ou forçado e jogos de azar.

Outros critérios usados incluem rating interno (58%), líder ESG do setor (40%), triagem positiva — que prioriza setores com impacto ESG positivo (13%) — e rating externo (9%).

“Em termos de metodologia, é comum que os gestores combinem múltiplas abordagens na análise dos ativos, o que faz com que o percentual total ultrapasse 100%”, explica o relatório.

Para serem classificados como fundos IS, os gestores precisam definir de forma clara quais indicadores vão monitorar. Entre os pilares ESG, prevalecem os fatores ambientais, presentes no acompanhamento de 57% do patrimônio desses fundos, seguidos pelos indicadores de governança (44%) e social (43%).

No campo ambiental, a mudança climática é o aspecto mais monitorado, citado por 41% do universo dos fundos IS. Na governança, transparência e remuneração de executivos aparecem em destaque (31% cada). Já na dimensão social, os indicadores mais usados são engajamento, diversidade e inclusão, apontados por 41% dos fundos.



Ceará Agora e Diário do Nordeste

Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *