Uma série de revisões para baixo nos lucros, em função da combinação de volumes de matrículas mais fracos com um ambiente de crescente pressão financeira. Em resumo, esse é o fio condutor de um extenso relatório sobre o setor de educação divulgado pelo Itaú BBA, nesta segunda-feira, 27 de janeiro.
Diante desse quadro, o banco de investimentos enxerga um capítulo desafiador para esse segmento no mercado brasileiro em 2025. E ressalta dois papéis do setor. “Embora mantenhamos a confiança no potencial de longo prazo, estamos adotando uma postura mais cautelosa especificamente em relação à Cogna e à Yduqs, rebaixando ambas para uma recomendação de market perform (neutra)”, escreve o trio de analistas liderado por Vinicius Figueiredo.
Eles apontam que o downgrade se justifica pela maior exposição dos dois grupos ao ensino a distância, cuja lucratividade de médio prazo permanece incerta em função de potenciais mudanças regulatórias. Outro fator citado são os múltiplos de preço/lucro (P/L) relativamente mais altos da dupla.
“O otimismo inicial em torno do ensino a distância como uma solução para populações carentes não foi sustentado devido aos desafios em justificar o custo de aquisição de cliente pesado, com os números de admissão ficando aquém em 2024”, traz outro trecho do relatório.
O Itaú BBA observa que esse cenário impactou a perspectiva de crescimento para 2025, criando um ponto de partida mais fraco para a evolução das receitas. Ao mesmo, os altos índices de alavancagem do setor exacerbaram o impacto do aumente da taxa de juros, deixando o fluxo de caixa livre sob pressão.
Em mais um complicador, os analistas destacam que as reformas previstas para o ensino a distância devem aumentar os custos operacionais. Em paralelo, a elevação da inflação tem acendido o alerta dos investidores, dado que os preços seguem restritos devido à alta competitividade do setor.
“Esse cenário macro introduziu maior incerteza, levando os investidores a exigirem um prêmio de risco maior para as ações de educação”, escrevem os analistas. “O sentimento do investidor mudou para priorizar o desempenho de curto prazo em vez do potencial de crescimento de longo prazo.”
Em contrapartida, o banco mantém a recomendação de outperform (acima da média do mercado) para a Ânima, observando que, apesar dos desafios impostos pela alta da taxa dos juros, o grupo está sendo negociado com uma avaliação descontada em relação a seus pares.
Enquanto a Cogna e a Yduqs estão sendo negociadas a múltiplos de 8,4 vezes e 7,3 vezes, respectivamente, o índice da Ânima é de 4,8 vezes. “Além disso, a Ânima vem mostrando melhores dinâmicas de preços e fluxo de caixa livre desde o segundo semestre de 2023”, acrescentam.
Na Cogna, a revisão foi acompanhada da redução do preço-alvo, de R$ 3 para R$ 1,50, para 2025. O Itaú BBA ressalta que o ciclo da taxa de juros mais elevada previsto para 2025 segue sendo como o principal fator de pressão sobre a operação no curto prazo.
“É importante observar que nossa postura conservadora em relação à Cogna é, em grande parte, um reflexo das tendências macro e setoriais, em vez da execução da empresa, que tem sido forte nos últimos trimestres”, pontua o Itaú BBA.
Entre outros indicadores para 2025, o banco projeta um lucro líquido ajustado de R$ 305 milhões para o grupo, uma queda anual de 18%. Além de uma margem Ebitda ajustada de 31,9%, uma retração de 0,8 ponto percentual na mesma base de comparação.
O preço da ação da Yduqs, por sua vez, foi reduzido para R$ 11, contra o patamar anterior de R$ 20, com o Itaú BBA também destacando a elevação da taxa Selic como maior fator de atenção para o grupo de educação. E, na mesma linha da Cogna, ressaltou a execução recente da empresa.
“A Yduqs mostro um forte desempenho operacional nos últimos trimestres, reduzindo a alavancagem financeira e melhorando os retornos. À medida que as condições macro e clareza regulatória melhorem, estaremos prontos para revisitar nossa posição e adotarmos uma abordagem mais construtiva, se necessário”, diz o relatório.
Enquanto isso não acontece, o Itaú BBA projeta agora uma receita líquida de R$ 5,5 bilhões para o grupo em 2025, um recuo de 3,6% sobre a estimativa anterior. Na mesma linha, o banco reduziu em 27,6% a previsão do lucro líquido ajustado nesse exercício, para R$ 360 milhões.
Na B3, as ações da Yduqs estavam sendo negociadas com alta de 3,24% por volta das 17h45, cotadas a R$ 9,55 e dando à empresa um valor de mercado de R$ 2,63 bilhões. Já os papéis da Cogna subiam 1,45%, cotados a R$ 1,39. O grupo está avaliado em R$ 2,54 bilhões.