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Maria: o que explica o renascimento do nome mais popular do Brasil | Brasil

Maria: o que explica o renascimento do nome mais popular do Brasil | Brasil

Atualmente, pouco mais de 12 milhões de pessoas se chamam Maria no Brasil — 6% de toda a população brasileira. Além de ser o nome mais comum, é o campeão de novos registros desde pelo menos a década de 1930, conforme aponta o Censo de nomes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Maria” é comumente associado a uma derivação do hebraico Miriam, que significa “vidente” ou “senhora soberana”, diz o IBGE na página do nome. Há também a inegável relação com a cultura cristã (Maria, a mãe de Jesus Cristo), que traz ao nome a representação de devoção religiosa e maternidade.

De 1930 a 2020, aproximadamente um milhão de novas Marias nascem, em média, no Brasil a cada década. O recorde foi entre 1960 e 1969, quando foram 2,4 milhões de novos registros com esse nome. Aí, o número caiu a cada novo Censo, até voltar a ganhar popularidade a partir dos anos 2000.

Veja abaixo a evolução de novos registros de Marias no Brasil:

Novas Marias no Brasil ao longo das últimas décadas

Nome mais comum do país voltou a ganhar popularidade na última década

Fonte: IBGE

O que explica tanta Maria no Brasil?

A popularidade do nome pode ter várias razões e significados ao longo dos anos. Uma das principais explicações está atrelada ao fator religioso, destaca a especialista em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Ana Paula Mendes. Segundo ela, a cultura de devoção católica, herança da colonização portuguesa no Brasil, impulsiona o uso do nome.

Em 2022, 56,6% da população brasileira se declara católica, conforme mostrou o último Censo.

Além da tradição católica, os portugueses também trouxeram exemplos eles mesmos, complementa a especialista, autora do livro “Minas de todos os santos: dicionário de topônimos”. Maria I foi a rainha de Portugal entre o século XVIII e XIX. Foi seu neto, Dom Pedro I, o responsável por declarar a Independência do Brasil em 7 de setembro de 1822. Outra rainha xará foi Maria Ana de Áustria, que governou Portugal durante o final do século XVII e a metade do século XVIII.

Se não faltavam grandes influências antes, o século XX trouxe ainda mais. Em 1930, Nossa Senhora Aparecida foi declarada oficialmente a Padroeira do Brasil. Isso, segundo Ana Paula, faz com que a influência da santa como uma “representante oficial” do Brasil, desempenhe um papel fundamental para que Maria se torne um nome popular nos anos seguintes no país.

Entre 1930 e 1939, foram 425 mil Marias registradas. Na década seguinte, um salto elevou o patamar para 1,1 milhão. Esse número continua a subir nas próximas décadas (1950-1959: 2,2 milhões; 1960-1969: 2,4 milhões) até que começa a cair, cada vez mais, até o início dos anos 2000.

Neste ínterim, questões “cíclicas e culturais” podem ter feito o nome perder popularidade, aponta Eduardo Amaral, coordenador do Observatório Onosmático (que estuda nomes próprios) da UFMG.

“Com o crescimento da mídia no Brasil, através da ascensão da televisão, e de um mundo mais globalizado, as pessoas começam a ter acesso a culturas diferentes, e principalmente há uma diversidade maior nesse sentido no Brasil”, explica Amaral

A pior década para as Marias foi de 1990 a 1999, quando contabilizou apenas 0,28% dos novos registros (564 mil).

De acordo com o especialista, essa expansão cultural também denota uma percepção das pessoas atrelada à questão geracional. Ou seja, segundo Amaral, o nome “Maria” ainda tinha uma influência e popularidade inigualável no Brasil, mas começou a ser observado pelas pessoas como um “nome da antiga geração”.

“O nome Maria começa a sofrer uma rejeição, atrelada ao pensamento das pessoas de que é um nome relacionado a avó, a tia, a mãe, ou seja, que é algo ultrapassado”, explica.

Segundo Amaral, isso é um processo normal nos registros nominais.

A partir dos anos 2000, os números voltam a subir, indicando uma nova corrente. Entre 2000 e 2009, foram 1 mi novos registros (0,51% dos novos registros) e, entre 2010 e 2019, 1,2 mi (0,62%)

Amaral explica que esse “retorno de Marias” se deve a dois fatores. Desta vez, não são razões atreladas somente às questões religiosas e culturais, mas sim por questões estéticas.

O primeiro, a popularização de nomes compostos, em que “Maria” lidera entre as opções de composição. Maria Julia, Maria Cristina, Maria Eduarda, Maria Cecília, Maria Luisa… a lista se estende para dezenas de nomes femininos. Incluindo Maria das Graças, como as três personagens principais da novela das 21h da TV Globo.

O segundo fator que pode explicar o aumento do nome, é justamente o oposto: uma tendência de nomes curtos ao longo do século XXI.

“Lis, Jade, Nina, são nomes curtos e que têm um crescimento exponencial no Brasil nesse século. Maria, apesar de não ser um nome tão curto, possui apenas cinco letras, e junto a sua popularidade também entra nessa nova tendência desse século”, explica.

*Estagiário sob supervisão de Diogo Max



Valor Econômico

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