Abertura acontece no dia 29 de novembro, com presença de lideranças quilombolas, rodas de conversa e apresentações artísticas gratuitas
Quilombo do Carcará em Potengi (Foto Leo Silva)
Após pouco mais de dois meses de manutenção, o Museu da Cultura Cearense (MCC), no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, reabre suas portas celebrando um novo momento em sua trajetória. A retomada do espaço será marcada pela abertura da exposição “QUILOMBOLAS: Tecendo Territórios de Liberdade”, no dia 29 de novembro de 2025, a partir das 16h. A programação contará com falas abertas de lideranças quilombolas, rodas de conversa, apresentações artísticas, discotecagem e visita guiada com a curadoria. Além disso, vai contar com a presença de mais de 20 representantes de territórios quilombolas do Ceará, destacando o caráter coletivo e participativo da mostra, que se constrói como gesto de escuta, partilha e reconhecimento.Toda a programação é gratuita. O Centro Dragão do Mar integra a Rede Pública de Equipamentos Culturais (Rece) do Governo do Ceará, vinculada à Secretaria da Cultura (Secult) e gerido em parceria com o Instituto Dragão do Mar.
A exposição “Quilombolas: Tecendo Territórios de Liberdade” tem curadoria de Cícera Barbosa, Joseli Cordeiro e João do Cumbe — três pessoas negras do Ceará, sendo Joseli Cordeiro e João do Cumbe curadores quilombolas que trazem suas vivências e saberes para a construção da mostra. A exposição também integra a programação do Festival Afrocearensidades, promovido pelo Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura (Secult) e da Secretaria da Igualdade Racial (Seir). A ideia é trazer à tona a ideia do quilombo como território de experiências históricas e presentes, com modos próprios de organizar a vida, cultivar a terra, educar as crianças, celebrar o sagrado e defender o comum-coletivo.
A mostra contrapõe-se à ideia de quilombo apenas como espaço de refúgio do passado, apresentando-o como um projeto de mundo vivo, pulsante e em constante construção coletiva, narrado por 137 agrupamentos espalhados por todas as regiões do Ceará. Assim, conta com um acervo de mais de 150 itens, entre objetos, fotografias, sons e frases que se entrelaçam como fios de “Transfluências” — conceito proposto pelo filósofo, poeta, escritor, professor, líder quilombola e ativista político Nêgo Bispo —, entendido aqui como passagem e paisagem de mundo: não apenas a troca de informações, mas a circulação de modos de vida, saberes e tecnologias de cuidado que se sustentam no coletivo.
“Mais que uma mostra, a exposição se afirma como ato político e pedagógico, uma inscrição pública da presença quilombola no imaginário coletivo e uma devolutiva da pesquisa para o território – do museu para o povo”, explica Cícera Barbosa, uma das curadoras.
De acordo com Joseli Cordeiro, a mostra tem um caráter inédito não apenas pela forma, mas pelo gesto. Isso porque, pela primeira vez, o Ceará, tantas vezes proclamado “Terra da Luz” por ter antecipado a abolição formal, reconhece que a verdadeira luz vem dos territórios que nunca deixaram de existir, dos corpos que sempre lutaram por dignidade e de uma ancestralidade que ilumina caminhos.
“Ao reunir histórias, imagens e presenças quilombolas, a exposição inaugura uma outra narrativa de modernidade: aquela que não nega a tradição, mas a reinscreve como força criadora, convocando o público a ver os quilombos não como vestígios do passado, mas como laboratórios de futuro. O quilombo não é refúgio de passado, é projeto de mundo”, destaca a curadora.
Um novo ciclo para o MCC
A reabertura do MCC com a exposição “QUILOMBOLAS: Tecendo Territórios de Liberdade” marca também um novo ciclo para o museu, que segue tecendo a história do Ceará e ampliando as visualidades que nos narram. Durante o período de manutenção, foram realizadas intervenções estruturais prioritárias para sanar as infiltrações, garantindo salas mais seguras para as obras e maior conforto para o público.
“O MCC passa por um processo colaborativo de revisão dos Planos Museológicos, assim como o Museu de Arte Contemporânea do Ceará – MAC, revisitando missão, políticas de conservação e segurança, gestão de riscos, acessibilidade e educação, reafirmando seu compromisso com a memória, a diversidade e o público”, pontua Valéria Laena, gerente do Museu da Cultura Cearense.
Conforme explica Camila Rodrigues, superintendente do Centro Dragão do Mar, o MCC reforçou suas equipes, abrindo novos postos de trabalho para o Educativo e a Museologia, como forma de ampliar sua capacidade de mediação, acolhimento e cuidado técnico. Outro eixo de fortalecimento foi o acervo, com ações para ampliar a preservação, pesquisa e documentação.
“Reabrir o Museu da Cultura Cearense com uma exposição como ‘Quilombolas: Tecendo Territórios de Liberdade’ é mais do que um gesto simbólico — é um ato de escuta e reconhecimento. Essa mostra reafirma o papel do Dragão do Mar como espaço de diálogo entre saberes, tempos e territórios, devolvendo à sociedade um museu ainda mais vivo, plural e comprometido com a história real do nosso povo. Depois desse período de manutenção e fortalecimento interno, voltamos a abrir as portas com uma exposição que nos ensina o que é resistência, comunidade e futuro coletivo. O museu reabre, mas quem ilumina essa reabertura são os territórios quilombolas do Ceará”, finaliza a superintendente.
SERVIÇO
Abertura da exposição “QUILOMBOLAS: Tecendo Territórios de Liberdade”
Dia: 29 de novembro, sábado
Horário: 16h
Museu da Cultura Cearense
Gratuito. Livre. Aberta ao público