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“Não mudem seus planos”, diz consultora de candidatos ao MBA de Harvard

"Não mudem seus planos", diz consultora de candidatos ao MBA de Harvard

Nova York – “Não mudem seus planos. Foquem no que vocês podem controlar.” Esta é a recomendação da americana Devialla Vbhaneni para aqueles que pretendem se candidatar ao MBA da Harvard Business School (HBS), em Boston, nos próximos anos.

Baseada em Los Angeles, Devi é diretora executiva da mbaMission, consultoria especializada em auxiliar candidatos que desejam ingressar em escolas de negócios. Por isso, ela acompanha de perto a situação de vistos para estudantes estrangeiros em meio às regras — que vão e voltam — do atual governo americano.

Na última quarta-feira, dia 18, o jornal Washington Post divulgou que as autoridades americanas orientaram os consulados e embaixadas a apertar as regras em relação às contas de mídia social dos candidatos a vistos de estudantes. Uma das exigências é tornar todas as contas públicas para serem analisadas com o intuito de pescarem qualquer hostilidade contra os Estados Unidos.

O importante é se concentrar na excelência do material a ser entregue à faculdade, diz Devi. A HBS recebe anualmente cerca de 10 mil aplicações do mundo todo. Mas somente 2 mil candidatos são entrevistados e, deles, mil são aceitos.

A faculdade recebe as propostas em duas temporadas. A primeira acontece em setembro (com resultados em janeiro), e a segunda vence em janeiro (com resultados em março). Os alunos aceitos precisam estar no campus até o final de agosto.

“Quem acredita que possa ter algum problema de visto, sugiro submeter a aplicação na primeira temporada”, recomenda Devi.

Há quase 20 anos, ela se diplomou no MBA de Harvard, o que a levou a trabalhar na área de negócios da GAP, o emprego de seus sonhos. Ainda durante os anos na gigante americana de vestuário, ela participava das apresentações da faculdade a novos alunos.

Oito anos mais tarde, foi convidada a integrar o departamento de admissões da universidade, entrevistando candidatos em Boston, Londres e Paris.

“Foi aí que me apaixonei pelo que faço: escuto histórias de vida, de famílias e de sonhos. Independente da área de atuação do candidato, toda meta é incrível”, diz a consultora.

Em 2017, Devi foi para o outro lado da mesa, ajudando gente do mundo inteiro — incluindo brasileiros — a conquistar um dos diplomas de MBA mais cobiçados do mundo.

Esta semana, ela conversou com o NeoFeed. Veja a seguir os principais trechos da entrevista:

Qual é a porcentagem de alunos estrangeiros no MBA de Harvard?
De um total de mil pessoas, geralmente cerca de 30 a 35% são internacionais. É um número bem alto. Curiosamente, na sala de aula não dá para perceber quem vem de fora e quem não vem. Por exemplo, nasci na Índia, mas cresci nos Estados Unidos. Sou internacional, ou não?

Como a variedade de nacionalidades e culturas enriquece a qualidade do curso?
A diversidade geográfica leva a uma diversidade intelectual. Não tratamos de diversidade só por ser “bonito”. É porque, de fato, precisamos aprender com nossos colegas. E mais: precisamos entender diferentes indústrias. Hoje, mais do que nunca, fazer negócios é uma atividade global, e vai continuar sendo. Talvez 50 ou 60 anos atrás isso não fosse o caso da forma que é hoje.

Até para o americano que não pensa em trabalhar fora do país?
Posso garantir que, em algum momento da carreira, por causa da cadeia de suprimentos global, ou de clientes internacionais, o profissional vai precisar entender o consumidor internacional.  Não existe mais a ideia de “só Estados Unidos”.  Até os mercados financeiros, como Wall Street, são afetados por questões mundiais.

“A sala de aula da HBS é pensada em torno do debate, da discussão e do aprendizado com os colegas. Todo mundo tem algo a contribuir”

A sala de aula de um MBA de Harvard reflete esta perspectiva?
Sim. Se quem deseja ingressar numa faculdade de negócios para mudar a forma de pensar, precisa incorporar uma perspectiva global. Caso contrário, estará falando com o espelho, conversando só com pessoas iguais a si. Ninguém cresce sem ser desafiado ou sem aprender com os outros. A sala de aula da HBS é pensada em torno do debate, da discussão e do aprendizado com os colegas. Todo mundo tem algo a contribuir.

Este viés faz parte do processo de admissão?
Sim. Avalia-se o que o candidato tem a acrescentar na sala de aula. Pode ser alguém que fez algo incrível em sua carreira — trabalhando em vários países, ou resolvendo problemas complexos. Isso varia conforme o lugar onde vive o candidato, mas é isso que Harvard busca. Esta globalização estimula o crescimento do pensamento e da percepção. Este estímulo determina até onde podemos crescer: sem ele, nosso crescimento é limitado.

Então a dica neste momento é não mudar os planos por causa do cenário político, certo?
Exatamente. Os meus clientes que acabam de ser aceitos fazem parte do grupo que está passando pelo momento mais desafiador. Neste caso, alguns podem escolher adiar um ano. Outros estão tirando o visto de estudante e já fazendo as malas para Boston.

Candidatos aprovados podem adiar o começo do curso para o ano seguinte?
Em circunstâncias normais, não. Mas estamos vivendo uma situação extraordinária. Quem tiver dificuldades para obter o visto, acredito que a escola irá colaborar, uma vez que o aprovado já faz parte da comunidade de Harvard. Mas os alunos não podem adiar o curso só porque foram aceitos. Há uma diferença entre “adiamento” e “circunstâncias extraordinárias”, como questões de visto ou problemas com o governo. São coisas diferentes. Adiamento só acontece se for algo totalmente fora do seu controle.

E isso está acontecendo?
Sim, está. Existem alguns casos, ainda são minoria, mas lembre-se: ainda estamos em junho. É cedo. As decisões para setembro, por exemplo, foram tomadas em março. As pessoas já estão se preparando. Então, não sabemos ainda ao certo o que vai acontecer. Há poucas semanas, por exemplo, disseram que os estudantes chineses não terão problema. Ótimo. Mas estas regras estão mudando de uma hora para outra. Então ninguém sabe com certeza o que vai acontecer até setembro.

“Os brasileiros têm uma inteligência emocional elevada, especialmente no que diz respeito a pessoas e liderança”

Qual é a idade média dos candidatos?
Antes, a média de anos de experiência após a faculdade era de quatro anos. Agora está aumentando. A equipe de admissão aprecia experiências variadas. Não é algo intencional, mas agora a média gira em torno de cinco ou seis anos de experiência de trabalho antes de entrar no MBA de Harvard. E geralmente isso significa que o candidato já trabalhou internacionalmente, ou com clientes internacionais.

O trabalho no exterior é portanto muito importante.
É muito raro alguém ter trabalhado exclusivamente nos Estados Unidos, apenas com clientes americanos. Mesmo entre candidatos americanos, quase sempre há um componente internacional. Independente de onde se trabalhe — seja um negócio da família, em Wall Street, em consultoria ou em uma grande corporação — o fator internacional vai cruzar o seu caminho. Não tem como fugir. E esse sangue que vem de fora, com sotaques diferentes, experiências de diferentes economias e formas distintas de pensar, enriquece o grupo.

O que os candidatos brasileiros trazem de especial?
Eles têm uma diversidade cultural inerente, e por isso uma inteligência emocional elevada, especialmente no que diz respeito a pessoas e liderança. Tive uma cliente maravilhosa, que era brasileira, estudou nos Estados Unidos e depois trabalhou em uma grande empresa do setor alimentício, no departamento de inovação. Ela tinha uma intuição incrível, uma noção natural do que fazer. E isso vem do fato de que o Brasil é, por natureza, um país multicultural. Dá para ver isso na forma como os brasileiros se relacionam com os outros no ambiente de trabalho. Existe também um espírito empreendedor intenso.

Como se mede o real valor do curso de Harvard?
O retorno sobre o investimento se dá ao longo da vida, não apenas no primeiro ou segundo ano. Trata-se de um benefício cumulativo. Quem pensa neste curso apenas como um jeito de conseguir o emprego número um e o emprego número dois, está reduzindo o valor real do diploma.

Por quê?
Ao adquirir uma nova forma de pensar, atraímos novas oportunidades. Tenho colegas que se formaram comigo pouco antes do boom do e-commerce. Eles surfaram todas as ondas de alta e baixa da economia. E mesmo hoje, tenho colegas liderando startups de criptomoeda — algo que nem existia quando eu me formei.

A universidade oferece bolsa para MBA?
A HBS só admite candidatos com base no mérito. Uma vez aceito, a faculdade trabalha com o aluno para acomodar a parte financeira. Mas, inicialmente, não se ganha uma bolsa de estudo por excelência, porque é dado que a escolha do aluno foi feita a partir de suas qualificações. Ao mesmo tempo, a questão financeira não influencia a decisão de admissão. São processos separados.

Existe uma cota por nacionalidade ou etnia?
Não. Uma aplicação forte é uma aplicação forte. Ponto final.



Ceará Agora e Diário do Nordeste

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