O crescimento das pequenas e médias empresas brasileiras tem impulsionado a economia e gerado empregos em todas as regiões do país. No entanto, um dos maiores desafios enfrentados por esse segmento ainda está na sucessão e na continuidade da gestão. Segundo o Sebrae, mais de 65% das pequenas empresas encerram suas atividades antes de completarem dez anos, e uma das principais causas é a falta de estrutura administrativa e de planejamento para a transição de comando.
O processo de sucessão não se resume a transferir responsabilidades de um gestor para outro. Ele exige organização, visão estratégica e cultura empresarial sólida. Quando a estrutura depende exclusivamente do fundador ou de poucos colaboradores, qualquer mudança pode comprometer o desempenho e até a sobrevivência do negócio. Para a gerente administrativa Laudiceia de Oliveira Silva, que atua no setor alimentício e liderou a expansão de uma indústria de pequeno porte, o segredo para garantir continuidade está na criação de processos bem definidos. “Uma empresa só é sustentável quando as rotinas não dependem de pessoas específicas. É o processo que garante a continuidade, mesmo quando o time muda”, explica.
Laudiceia conhece bem os desafios da estruturação. Ela ingressou em uma pequena indústria alimentícia que funcionava de forma totalmente manual e ajudou a transformá-la em uma empresa departamentalizada, com áreas definidas de finanças, fiscal, RH e comercial. Sob sua coordenação, a companhia abriu duas filiais e aumentou significativamente o faturamento. A experiência mostrou que a profissionalização administrativa é o primeiro passo para preparar uma empresa para o futuro. “Muitas empresas familiares crescem, mas continuam funcionando como quando eram pequenas. Sem controles, sem indicadores e sem processos, é impossível crescer com segurança”, comenta.

De acordo com estudos da Fundação Dom Cabral, apenas 30% das empresas familiares conseguem passar com sucesso da primeira para a segunda geração, e menos de 15% sobrevivem até a terceira. Entre os principais motivos estão a ausência de sucessores preparados e a falta de cultura de governança. Laudiceia reforça que, em pequenos negócios, essa transição precisa começar bem antes da saída dos fundadores. “A sucessão deve ser planejada enquanto a empresa está em expansão, e não quando os problemas já aparecem. É nesse momento que se formam novos líderes e se consolidam os valores que mantêm o negócio vivo”, analisa.
Outro fator decisivo é o envolvimento das equipes. Em organizações menores, os colaboradores desempenham papel fundamental na continuidade da operação. Treinamento, comunicação e valorização de talentos são práticas que evitam rupturas e fortalecem o senso de pertencimento. “As pessoas precisam entender que fazem parte do projeto. Quando elas se sentem responsáveis pelo crescimento da empresa, o comprometimento aumenta naturalmente”, explica a gestora.
A profissionalização também passa pela adoção de ferramentas de gestão e pela digitalização dos processos. O uso de sistemas integrados de controle, por exemplo, permite manter a coerência administrativa e a previsibilidade financeira, independentemente de quem está no comando. Laudiceia destaca que a tecnologia, nesse caso, é uma aliada essencial. “A empresa que tem seus dados organizados e acessíveis está preparada para crescer e para se reinventar. Sem informação confiável, qualquer transição é feita às cegas”, observa.
Para ela, o maior desafio das pequenas indústrias está em equilibrar a tradição e a inovação. Muitas vezes, o modelo familiar, que foi responsável pelo nascimento da empresa, precisa dar espaço a práticas mais técnicas e transparentes. “A essência e os valores não podem se perder, mas é preciso abrir espaço para novas ideias, novas ferramentas e novas pessoas. A sucessão bem feita é aquela que preserva o propósito, mas permite que o negócio evolua”, destaca.
A experiência de Laudiceia mostra que a sucessão empresarial é um processo contínuo, e não um evento isolado. Exige preparo técnico, liderança e, acima de tudo, planejamento. “Empresas pequenas também precisam pensar no amanhã. Crescer é importante, mas manter o que foi conquistado é o verdadeiro desafio. E isso só acontece com organização, clareza e constância”, afirma.
O fortalecimento das pequenas indústrias brasileiras passa, necessariamente, por uma nova mentalidade de gestão, uma mentalidade que valorize processos, pessoas e continuidade. À medida que o país avança na profissionalização desse segmento, histórias como a de Laudiceia de Oliveira Silva mostram que o sucesso empresarial não está apenas em expandir, mas em criar bases sólidas para o que vem depois.