Cinco dias depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar que pretende impor tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio, a Usiminas foi a primeira empresa brasileira do setor a se manifestar publicamente sobre o tema.
A oportunidade veio no fim da manhã desta sexta-feira, 14 de fevereiro, durante uma call com analistas sobre o resultado da companhia no quarto trimestre e no ano consolidado de 2024. E, num primeiro momento, as lideranças da empresa não veem grandes reflexos da medida.
Essa reação inicial é sustentada pelo fato de que, nos últimos dois anos, menos de 2% das exportações da Usiminas tiveram como destino os Estados Unidos. Em contrapartida, a empresa entende que o “tarifaço” de Trump pode, num efeito colateral, turbinar os impactos em outra fronteira.
“Essas tarifas que estão sendo impostas podem gerar um fluxo maior do aço, em muitos casos, subsidiado para países que têm baixa defesa para importação”, disse Marcelo Chara, CEO da Usiminas. “E o Brasil tem baixa defesa para importação.”
O principal alvo da fala do executivo foi o risco do aumento do fluxo das importações do aço com origem na China, cujas impactos têm sido alardeados de forma recorrente pelos players brasileiros há cerca de dois anos e vêm contribuindo para corroer o balanço da Usiminas.
Em resposta a essas demandas, em abril de 2024, o governo brasileiro definiu cotas máximas de importação que, caso fossem ultrapassadas, teriam uma tarifa de 25%. Com validade de 12 meses, a medida veio aquém das expectativas do setor.
“Esse sistema de cotas foi ineficaz para garantir a isonomia competitiva, porque as importações seguem ingressando de forma ininterrupta e crescente no País”, afirmou o CEO. “As importações cresceram 57% em dois anos, sendo que mais de 70% vieram, fundamentalmente, da China, com preço subsidiado.”
Chara ressaltou que o Brasil teve dois anos de crescimento do PIB no período, mas que, nesse contexto, não soube aproveitar as oportunidades para desenvolver a indústria de transformação local. E que o cenário de provável desaceleração em 2025 torna a adoção de medidas ainda mais urgentes.
“Temos que investir em mais ações e não apenas o sistema de cotas e tarifas, que, como eu disse, não funcionou”, observou. “É preciso ter outros controles, revisar alguns dos acordos bilaterais e avançar com medidas preliminares de antidumping. Não podemos deixar o País aberto do modo que está.”
Enquanto pede avanços nessa esfera, em termos de exportações, o plano da Usiminas é manter a Argentina – considerada como uma extensão do mercado interno, seu maior foco – como principal destino dessa estratégia em 2025.
“Nossa exportação está focada na Argentina, principalmente nos setores automotivo e de óleo e gás, e em produtos de valor agregado”, disse Miguel Camejo, vice-presidente comercial da Usiminas. “Além disso, estamos sempre atentos, a cada mês, a oportunidades em mercados não regionais.”
No vermelho
Entre outubro e dezembro de 2024, a Usiminas apurou um prejuízo líquido de R$ 117 milhões, atribuído, em grande parte, à desvalorização do real, revertendo o lucro líquido de R$ 975 milhões reportado em igual período de 2023. No ano consolidado, o lucro líquido foi de R$ 3 milhões, contra R$ 1,6 bilhão no exercício anterior.
A receita líquida trimestral recuou 4%, para R$ 6,4 bilhões, enquanto a receita líquida de 2024 teve queda de 6%, para R$ 25,8 bilhões. O Ebitda ajustado do trimestre teve uma retração de 17%, para R$ 518 milhões, e de 8% no ano, para R$ 1,6 bilhão.
O grupo encerrou o ano com uma posição de caixa e equivalentes de R$ 5,9 bilhões, queda de 1%, e uma dívida líquida de R$ 937 milhões, alta de 46% sobre o terceiro trimestre de 2024. A alavancagem, por sua vez, recuou de 0,63 vez para 0,58 vez, nessa mesma base de comparação.
Além do balanço, a empresa divulgou um fato relevante com o guidance de investimentos para 2025, na faixa de R$ 1,4 bilhão a R$ 1,6 bilhão. E, na call com analistas, observou que, desse montante, uma faixa entre R$ 900 milhões e R$ 1 bilhão deve ser aplicada na manutenção de suas operações.
Em relatório, o BTG Pactual ressaltou que o balanço trouxe uma “impressão” mais fraca. Mas com sinais de melhora à frente e resultados amplamente em linha com as estimativas do mercado, embora em uma base ainda muito baixa.
“Apesar da melhora sequencial, nós ainda vemos uma qualidade de lucro e um potencial de fluxo de caixa livre muito menores aqui, o que nos faz preferir permanecer à margem por enquanto”, escreveram os analistas do BTG, com recomendação neutra e preço-alvo de R$ 8 para a ação.
As ações preferenciais da Usiminas registravam queda de 1,02% por volta das 12h55, cotadas a R$ 5,81. Em 2025, os papéis acumulam, porém, uma valorização de 9,2%. A companhia está avaliada em R$ 7,02 bilhões.