Mais do que um modelo de expansão comercial, o franchising brasileiro se consolidou como uma verdadeira escola de gestão. O sistema, que movimenta mais de R$ 240 bilhões por ano segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF), não apenas fortalece marcas e negócios, mas também forma líderes, empreendedores e gestores com visão estratégica e foco em resultados.
Ao combinar padronização, treinamento e governança, o franchising ensina na prática o que as escolas de negócios levam anos para transmitir: a importância da constância, da gestão de pessoas e da execução precisa. Cada franqueado, ao ingressar em uma rede, recebe muito mais do que um modelo de negócio, ele entra em um ambiente de aprendizado contínuo que exige disciplina, adaptação e mentalidade de dono.
Segundo a administradora e especialista em franchising Marcelle Miranda, com mais de 20 anos de experiência no setor, o franchising é um “MBA prático da vida real”. “O franqueado aprende a gerir pessoas, a controlar custos, a acompanhar indicadores e a tomar decisões de forma estratégica. É uma formação completa em gestão e liderança aplicada, com resultados imediatos”, explica.
Essa característica faz do franchising um campo fértil para o desenvolvimento de competências empresariais. O modelo, que nasceu como uma forma de replicar operações bem-sucedidas, hoje é reconhecido por sua capacidade de profissionalizar o empreendedorismo brasileiro. Em um país onde mais de 70% das empresas são de pequeno porte, o sistema de franquias oferece o que falta à maioria dos empreendimentos independentes: processo, planejamento e método.
Marcelle lembra que, na prática, cada unidade franqueada funciona como um laboratório de gestão. “Os desafios são reais e diários. É ali que o empreendedor aprende a lidar com pressão, a construir equipes engajadas e a entregar resultados consistentes. O franchising cria gestores de alta performance porque cobra disciplina e oferece suporte”, afirma.
Outro ponto relevante é o papel dos franqueadores como formadores de novos empresários. As boas redes investem em treinamentos, manuais, convenções e programas de mentoria para acompanhar o crescimento dos franqueados. A estrutura de suporte permite que empreendedores sem experiência prévia alcancem resultados expressivos em pouco tempo.
De acordo com dados da ABF, cerca de 43% dos franqueados no Brasil estão em sua primeira experiência com negócios, o que reforça o caráter educacional do setor. “O sistema prepara o empreendedor desde o primeiro dia. Ele aprende com o know-how da rede, com as práticas de gestão já testadas e com o compartilhamento de experiências entre franqueados. Esse é o valor invisível do franchising, o conhecimento coletivo”, explica Marcelle.
Esse ciclo de aprendizado é um dos diferenciais que tornam o franchising um modelo de sucesso em diferentes economias. Além de impulsionar o crescimento de marcas consolidadas, ele contribui para a formação de gestores mais conscientes e preparados para lidar com os desafios do mercado.
A cultura de treinamento constante também reforça a liderança como competência essencial no franchising. Cada franqueado precisa desenvolver habilidades de comunicação, resiliência e motivação para manter sua equipe engajada e garantir a entrega dos padrões exigidos pela marca. “Liderança é sobre consistência. O sistema de franquias ensina isso todos os dias, na prática. As redes que crescem são aquelas que formam líderes, não apenas gestores de processos”, observa Marcelle.
Outro aprendizado importante é o de governança e compliance. As redes mais maduras ensinam seus franqueados a atuar com transparência, a respeitar contratos e a seguir políticas de marca, práticas que fortalecem a credibilidade do setor e formam empreendedores mais éticos e conscientes.

Marcelle Miranda
O franchising, portanto, vai além de um modelo de negócios lucrativo: é um sistema de educação empresarial contínua, no qual cada operação se torna uma sala de aula e cada desafio, uma lição prática.
Marcelle Miranda, que já liderou a formatação de redes premiadas e hoje atua como consultora, acredita que o futuro do setor está na formação de pessoas. “O franchising é sobre replicar sucesso. E isso só acontece quando as redes entendem que o seu maior produto não é a marca, e sim o conhecimento. Formar bons franqueados é formar bons gestores, e é isso que mantém o sistema vivo e em crescimento”, conclui.
Em um país que busca consolidar sua base empreendedora, o franchising se mostra uma ferramenta poderosa de aprendizado e transformação. Mais do que abrir negócios, o sistema forma mentalidades, de liderança, de disciplina e de propósito. É nesse equilíbrio entre teoria e prática que o setor continua a impulsionar o varejo, criar oportunidades e formar as novas gerações de líderes empresariais.