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O “maior explorador vivo” conta a história do grande explorador Shackleton

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Chega ao Brasil, a nova biografia do explorador irlandês Ernest Shackleton, um dos maiores nomes da chamada Idade Heroica da Exploração do Polo Sul, ocorrida entre 1897 e 1922.

O que torna esse livro de qualquer outro já escrito sobre a vida do navegador é seu autor, Ranulph Fiennes, ser ele também o “maior explorador vivo” da atualidade, como descrito no “Guinness Book”.

Shackleton liderou quatro expedições à Antártida no início do século 20, tornando-se símbolo de coragem e liderança apesar dos fracassos nos objetivos originais.

Na biografia, Fiennes destaca as aventuras do navegador, como a famosa expedição do Endurance, quando Shackleton e sua tripulação ficaram presos no gelo por 22 meses, mas traz também novos detalhes, avaliações e interpretações a partir de suas próprias experiências.

A obra equilibra feitos heroicos e dramas pessoais, como erros de planejamento, dificuldades financeiras e vida doméstica tumultuada.

* Resumo gerado por inteligência artificial e revisado pelos jornalistas do NeoFeed

No que chamou de “tórrido” verão de 1964, o então jovem soldado inglês Ranulph Fiennes, de 20 anos, foi enviado a Londres pelo Royal Scots Grey’s Canoe Club para comprar canoas novas. “Vivíamos o período chamado swinging sixties e, por isso, não precisei de um segundo convite para sair do meu quartel e visitar uma cidade repleta de vida e animação”, recorda.

No caminho, teve uma surpresa que guardaria em detalhes na memória. Fiennes pegou um táxi na estação de Waterloo e, quando passava pelo rio Tâmisa, percebeu uma celebração inusitada a bordo de um navio. Esticou o pescoço para ver melhor, quando o taxista virou para trás e avisou: “Tudo homem de Shackleton, exploradores famosos, sabe como é”.

Sim, claro, o rapaz já tinha ouvido falar em Ernest Shackleton (1874-1922), aquele mesmo que passou de mero mortal a ícone, escreve Fiennes, seis décadas depois, na biografia sobre o explorador irlandês — lançada agora no Brasil pela Companhia das Letras. Suas proezas, continua o autor, “estão para sempre gravadas no mármore da história britânica”.

O famoso navegador comandou quatro viagens à gélida Antártida, no início do século 20 e, embora todas tenham fracassado nos objetivos originais, seu talento como líder o transformou em lenda, um dos principais nomes da chamada Idade Heroica da Exploração do Polo Sul, ocorrida entre 1897 e 1922.

Em Shackleton — Uma biografia, Fiennes o descreve como explorador e conquistador de terras desconhecidas, o homem que se aventurou em uma das missões de sobrevivência e resgate mais espetaculares de todos os tempos.

“Seu nome, que era sinônimo da Antártida, estava também indelevelmente ligado a virtudes como coragem e liderança”, explica o escritor. Muito por causa de Shackleton, seu biógrafo se tornou um explorador — e dos mais célebres.

Hoje, com 81 anos, Sir Ranulph Twisleton-Wykeham-Fiennes, 3.º baronete, é, desde 1993, oficial da Ordem do Império Britânico.

Fiennes efetuou várias expedições e foi a primeira pessoa a estar em ambos os polos por via terrestre e a completar a travessia da Antártida a pé. Tem mais. Em maio de 2009, aos 65 anos, subiu ao monte Everest com sucesso. Dentre outros feitos, é considerado pelo Guinness Book “o maior explorador vivo”.

Seu livro é um deleite para quem adora narrativas documentadas sobre grandes aventureiros. O destaque, claro, é a expedição do navio Endurance, a mais conhecida das quatro viagens que Shackleton comandou ao continente gelado.

Era o ano de 1914, quando a embarcação ficou presa no gelo antes de alcançar terra firme e manteve a tripulação à deriva, sob frio intenso e fome, por 22 meses.

“É privilégio de poucos homens ver terras nunca vistas por olhos humanos”, disse Shackleton — uma frase que se tornaria símbolo da obstinação de sua jornada.

A nova biografia não traz apenas os triunfos do navegador irlandês, o livro trata também dos dramas pessoais de Shackleton (Foto: Companhia das Letras)

Com 456 páginas, o livro custa R$ 109,90 (Foto: Companhia das Letras)

A biografia traz novos detalhes, avaliações e interpretações para as aventuras do irlandês. Fiennes busca iluminar as façanhas e dilemas do aventureiro, cuja vida continua a fascinar o mundo mais de um século depois de sua morte. “Quando se quer escrever sobre o inferno, é vantajoso ter estado lá”, afirma o autor, ao recordar suas próprias travessias pelo Ártico e pela Antártida.

A trajetória pessoal de Fiennes, por ter vivido desafios semelhantes, sem dúvida, reforça o olhar crítico que lança sobre a vida de Shackleton.

Muitos livros sobre o navegador exageram ou distorcem fatos que o explorador vivenciou de forma heroica, diz o escritor.  A coragem, prudência e capacidade de liderança de Shackleton nas situações mais adversas e perigosas continuam a inspirar gerações. Como Fiennes lembra, existe até uma palavra em dinamarquês para esse fascínio: polarhullar, “um forte desejo pelas regiões polares”.

E a nova biografia chega para renovar o interesse por uma das histórias mais extraordinárias da exploração humana, mas a única a que tenta separar Shackleton “do mito que ele se tornou”, como descreve o autor. Assim, ele oferece uma interpretação que examina tanto as qualidades quanto as fraquezas do explorador.

Embora Shackleton fosse um líder admirado, o explorador cometia erros de planejamento, vivia em dificuldades financeiras, tinha uma vida doméstica tumultuada e tendia a assumir riscos elevados.

E esse é outro mérito do livro: cobrir a história privada e pública do personagem e não só suas expedições.

Fiennes revela, por exemplo, que Shackleton era péssimo com as finanças. Tomou empréstimos, dependia de patrocinadores e morreu mergulhado em dívidas. Como o autor define, “ele era mau nos negócios, mau no planejar, mau na vida doméstica”.

Durante as expedições, a relação entre o comandante e a tripulação era tensa. Julgando o explorador autoritário, seus subalternos se sentiam injustiçados. O carpinteiro “Chippy” McNish nunca perdoou Shackleton por mandar sacrificar o gato de bordo. Em terra firme, o navegador era alvo frequente de crítica, sobretudo por seus métodos: ao se colocar em perigo, ele expunha todos os seus homens a riscos, muitas vezes, fatais.

Como conta Fiennes, Shackleton era “desajeitado” para lidar com a opinião pública — o que o próprio reconhecia como uma de suas maiores fraquezas e o que deixava extremamente frustrado. Ao relatar essas e outras tantas dificuldades, o livro traz um equilíbrio narrativo, sem comprometer a imagem do explorador. O autor humaniza o herói.

Há, nesse sentido, outro esforço ainda maior: de revisar o legado de Shackleton à luz de documentação, de comparações históricas e da experiência real das expedições polares de Fiennes. Um trabalho, sem dúvida, impressionante e convincente.



Ceará Agora e Diário do Nordeste

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