Lançado há mais de 20 anos, em 2003, o Bolsa Família é um programa de transferência de renda para as famílias mais pobres, que estabelece o cumprimento de diferentes condições em saúde e educação. A ideia é garantir uma renda básica para essa população vulnerável e que as condicionalidades possam ajudar as famílias a deixarem a situação de pobreza.
Mas o que ocorre depois do Bolsa Família? Diferentes estudos mostram evidências positivas do programa, enquanto outros apontam suas limitações. Esta semana, novos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram os menores níveis de pobreza e de extrema pobreza da História em 2024. Mercado de trabalho aquecido e programas sociais são apontados por especialistas para explicar essa redução.
Um novo trabalho da Fundação Getulio Vargas também apresenta números sobre o que ocorreu com a chamada segunda geração do Bolsa Família: crianças e jovens de famílias que eram beneficiadas em 2014.
No estudo “Filhos do Bolsa Família – Uma Análise da Última Década”, o professor da FGV EPGE Valdemar Pinho Neto identificou qual a parcela desses beneficiários de 2014 ainda se mantinha no programa em 2025. O levantamento foi feito a partir de microdados do ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome.
A taxa de saída de beneficiários do programa na última década é de 60,7%, mas sobe para 71,3% quando se considera apenas aqueles que tinham entre 15 e 17 anos em 2014.
Um estudo anterior, feito pelo pesquisador em parceria com o Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (Imds), mostrou a trajetória da primeira geração dos beneficiários do Bolsa Família, que participavam do programa em 2005. Naquele caso, no entanto, a análise foi para o público de 21 e 30 anos e por isso os dados não podem ser comparados diretamente, explica Pinho Neto, mas a tendência observada é a mesma.
“A lógica é aliviar a pobreza de forma imediata, condicionada com fatores de saúde e educação para que no futuro não se precise mais das transferências e a pobreza intergeracional seja mantida. Na última década, há uma saída expressiva dessas famílias do Bolsa Família e vemos pelos dados que alguns fatores pesam mais”, afirma Valdemar Pinho Neto.
Situação do domicílio – se urbano ou rural –, condição de ocupação e grau de instrução da pessoa de referência da família e infraestrutura do domicílio são alguns desses fatores.
Na média, 60,7% das pessoas que eram beneficiárias do Bolsa Família em 2014 tinham deixado o programa em outubro de 2025. A proporção é maior, no entanto, nas faixas etárias de 11 a 14 anos (68,8%) e 15 a 17 anos (71,3%).
Os dados mostram que a parcela de quem deixou o programa é maior nas casas que ficam em áreas urbanas que rurais.
A pesquisa apontou que a proporção dos que não estão mais no Bolsa Família muda pouco quando se compara quem estava trabalhando em 2014 (64,9%) e quem não estava (62,9%). O tipo de trabalho, no entanto, faz diferença no resultado final, como reforça Valdemar Pinho Neto.
A influência positiva da escolaridade no futuro de um indivíduo já foi comprovada em diversos estudos científicos e mais uma vez se confirmou neste estudo. Quanto maior era o grau de instrução da pessoa de referência da família em 2014, maior é o percentual de saída do programa em 2025.
Condições do domicílio
A infraestrutura presente no domicílio dos beneficiários, como saneamento básico e coleta de lixo, por exemplo, influenciou na taxa de saída do Bolsa Família. Quanto maior o nível de infraestrutura, maior a parcela dos que tinham deixado o programa.
Cadastro Único e trabalho formal
O estudo “Filhos do Bolsa Família – Uma Análise da Última Década” também avaliou a taxa de saída do Cadastro Único (CadÚnico), público-alvo de políticas sociais.