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O risco de ‘Bidenização’ de Lula em 2026 | Política

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa ao lado de Joe Biden, em setembro de 2023 — Foto: Ricardo Stuckert/PR

Os números do Datafolha devem ter caído como uma bomba no Palácio do Planalto. A queda na aprovação de Lula, de 35% para 24%, acompanhada do aumento de 34% para 41% daqueles que consideram seu governo ruim ou péssimo, é um acontecimento nunca visto ao longo de seus dois mandatos e meio conduzindo o país.

A se confirmar essa tendência, fica cada vez mais palpável o risco de uma espécie de “Bidenização” de Lula à medida que nos aproximamos de 2026. Os paralelos existem, e vão muito além da idade avançada – Joe Biden estava próximo de completar 82 anos no pleito do ano passado, enquanto Lula comemorará 81 anos exatamente na data do segundo turno da próxima eleição.

Lula não apresenta os sinais de senilidade que forçaram Biden a desistir de disputar a reeleição. A popularidade do presidente brasileiro, porém, começa a ser assombrada por uma circunstância que, no caso de Biden, foi muito mais nociva do que os lapsos de memória e o raciocínio lento no debate presidencial contra seu rival Donald Trump.

Mesmo antes da campanha eleitoral começar oficialmente, Trump e seus apoiadores já bombardeavam as redes sociais com toda espécie de críticas sobre o aumento do custo de vida para o cidadão americano. Por mais que integrantes do governo Biden comemorassem que a inflação havia caído de 9,1% para abaixo de 3% ao ano, a mensagem martelada à exaustão pelos republicanos era que o bife estava quase 40% mais caro e abastecer o carro custava quase 60% a mais do que no final do governo de seu antecessor.

Situação semelhante vem sendo enfrentada por Lula aqui no Brasil. Embora o Banco Central tenha sido bem-sucedido em trazer a inflação do patamar de 12% ao longo de 2022 para 4,5% ao ano atualmente, a expressiva variação nos preços de alguns itens essenciais no dia a dia dos brasileiros tem causado grande impacto sobre a aprovação do presidente. Com o café tendo ficado 50,35% mais caro nos últimos doze meses, seguido de aumentos significativos de itens como contrafilé (20,61%), gasolina (10,71%) e serviços como o de manicure (10,13%), a sensação que se difunde na sociedade é que Lula não cumpriu a promessa de oferecer picanha barata para o eleitor.

Lula e os integrantes de sua equipe econômica podem até argumentar que o aumento de preços foi mais do que compensado com a elevação do rendimento médio real da população. De fato, conforme pode ser visto no gráfico, os dados do Dieese mostram que o comprometimento do salário-mínimo com o custo da cesta básica caiu nos dois anos da gestão petista em relação ao patamar observado no final do governo Bolsonaro. No entanto, como aconteceu nos Estados Unidos, o eleitor tem memória longa quando se trata de perda de poder aquisitivo – e o fato é que Lula não conseguiu reverter totalmente o forte crescimento do custo de vida observado desde a pandemia.

Outro aspecto que chama a atenção é o fato de que Biden e sua vice, Kamala Harris, mostraram-se inviáveis eleitoralmente mesmo com a economia americana vivenciado uma situação de pleno emprego. Às vésperas da eleição, o número de postos de trabalho ocupados nos Estados Unidos havia crescido 11,3% durante a administração dos Democratas Biden. E mesmo com o mercado de trabalho superaquecido, com os empresários com dificuldades para contratar mão-de-obra, a direita americana conseguiu convencer parte significativa do eleitorado de que o fechamento da fronteira com o México e a deportação em massa de imigrantes representava uma solução para os problemas internos do país.

Felizmente o Brasil não tem problemas massivos de discriminação contra imigrantes como nos Estados Unidos, mas por aqui recrudesce o sentimento de que os benefícios sociais, principalmente o Bolsa Família, estão desestimulando as pessoas a procurarem emprego.

Apesar de hoje termos mais pessoas recebendo o benefício (eram 14,5 milhões de famílias em 2021 e agora são 20,5 milhões) e seu valor médio ter sido turbinado de R$ 190 para R$ 670 mensais, não há evidências, porém, de que essa situação tem afetado o mercado de trabalho brasileiro. Segundo dados da PNAD Contínua divulgados nesta sexta-feira, o número de pessoas fora do mercado de trabalho ficou praticamente estável nos dois últimos anos. Além disso, a quantidade de pessoas desalentadas e que trabalham menos horas do que gostariam está caindo, enquanto o número de empregados cresce em todas as categorias – exceto trabalhadores domésticos com carteira assinada.

O fato de Lula não conseguir capitalizar, em popularidade, os níveis historicamente baixos de desemprego e a principal vitrine de sua gestão ser vilipendiada pelos adversários dão a dimensão do problema que o líder petista enfrenta.

Por fim, é inevitável não fazer um último paralelo com Joe Biden. Caso o presidente decida não concorrer à reeleição, por motivos de saúde ou por medo de colocar sua história vitoriosa a perder entrando numa campanha com popularidade baixa, o tempo joga contra. Escolher um sucessor perto demais da eleição, como aconteceu com Kamala Harris, pode ser fatal.

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa ao lado de Joe Biden, em setembro de 2023 — Foto: Ricardo Stuckert/PR



Valor Econômico

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