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O “vento extra” de R$ 200 milhões da Auren Energia nos parques eólicos da AES Brasil

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A Auren Energia desembolsou aproximadamente R$ 7 bilhões pelos ativos da AES Brasil para se tornar a terceira maior geradora de energia elétrica do País. Passados cerca de seis meses da efetivação da transação, a empresa, que tem o grupo Votorantim e o fundo canadense CPP Investments como acionistas majoritários, identificou a necessidade de um novo aporte financeiro.

Até o fim do ano, a Auren destinará R$ 200 milhões para adequar as unidades de geração eólica da AES. O objetivo é melhorar a qualidade dos ativos adquiridos, que registravam disponibilidade operacional de apenas 77,5% no primeiro trimestre do ano passado – bem abaixo dos 97% alcançados pelos ativos que já pertenciam à Auren.

“Os parques eólicos da AES tinham uma disponibilidade baixa, o que significa que deixavam muito vento passar sem gerar energia”, diz Mateus Ferreira, CFO da Auren Energia, em entrevista ao NeoFeed. “Definimos que esse é um turnaround operacional dos ativos adquiridos.”

A meta é fazer com que as 10 eólicas compradas cheguem à marca de 95% de disponibilidade operacional até dezembro deste ano – antecipando em um ano a previsão inicial de dezembro de 2026. Os primeiros resultados já começaram a aparecer: nos primeiros três meses de 2025, a disponibilidade chegou perto de 90%.

Esse plano inclui ações de manutenção preventiva, aquisição de peças sobressalentes para trocas mais rápidas e melhorias no sistema de gestão.

“Nos nossos ativos, temos um sistema que nos fornece informações de todos os nossos parques em tempo real. É como se houvesse vários sensores para nos indicar se a produção do aerogerador está no nível correto”, afirma o CFO.

A aquisição da AES fez a capacidade instalada da Auren saltar de 3,6 GW para 8,8 GW, agregando um portfólio de 25 novos ativos renováveis da adquirida. No total, a Auren passou a contar com 39 ativos: 20 centrais hidrelétricas, 5 usinas solares e 14 parques eólicos.

Em paralelo ao investimento para a melhoria dos ativos eólicos, o processo de integração das duas companhias deve estar concluído até o fim deste ano. Em agosto, a empresa unificará o sistema de gestão SAP, eliminando a duplicidade atual. “Hoje ainda são dois e agora teremos um único modelo. Com isso, passo a ter um único backoffice”, diz Ferreira.

Mateus Ferreira, CFO da Auren Energia
Mateus Ferreira, CFO da Auren Energia

A empresa também consolidará suas operações em um único centro, migrando de Campinas para Bauru nos próximos dois meses. Atualmente, mantém dois centros de operações – o da Auren, em Campinas, e o da AES, em Bauru.

A empresa conta hoje com 1.012 funcionários, uma carteira de 3,5 mil clientes e presença em nove estados e mais de 100 municípios.

Desafio da desalavancagem

O principal desafio da Auren é reduzir a alavancagem, que saltou com a aquisição. O volume de dívida passou de R$ 3 bilhões para R$ 20 bilhões, com a emissão de debêntures de R$ 5,2 bilhões em outubro para viabilizar a operação.

A relação dívida líquida sobre Ebitda recuou de 5,7 vezes no fim do ano passado para 5 vezes ao término do primeiro trimestre deste ano. A meta é chegar a 3,5 vezes entre três e quatro anos após a operação. “Esse endividamento foi feito de forma extremamente consciente”, afirma Ferreira.

No fim de abril, Daniel Travitzky, Carolina Carneiro, Mario Wobeto, do Banco Safra, escreveram que a aquisição foi estratégica, mas que os investidores deveriam esperar a apresentação de “melhoras em suas operações antes de voltarem a ser otimistas com a tese”.

“No nível atual de juros, a alta alavancagem aumenta as despesas financeiras significativamente e tem implicações negativas sobre a geração de caixa”, diz um trecho do relatório.

Os analistas João Pimentel e Felipe Lenza, do Citi, foram na mesma linha. “Os desafios operacionais – como a geração abaixo do esperado, interrupções e outros problemas nos ativos da AES – contribuíram para o aumento significativo da alavancagem da Auren, elevando a relação dívida líquida/Ebitda para 5 vezes, especialmente em um cenário de juros elevados”.

A estratégia de desalavancagem é amparada pelo forte fluxo de caixa: praticamente toda a energia gerada pelos próximos três anos já está contratada, conferindo previsibilidade para o pagamento das dívidas. Dos R$ 5,2 bilhões em debêntures emitidas, 60% já foram pagos.

“A Auren tem dois mantras que a gente segue diariamente, que é integrar e desalavancar. Esses são nossos focos. Não vamos desviar desse caminho”, diz o CFO.

Sinergias aumentam

O impacto da operação já se reflete no desempenho financeiro da empresa. Entre janeiro e março de 2025, o Ebitda cresceu 66%, passando de R$ 727 milhões (no mesmo período de 2024) para R$ 1,2 bilhão, enquanto a receita acumulada dos três primeiros meses atingiu R$ 2,9 bilhões – um aumento de 33,6%.

Esse desempenho também impulsionou a valorização das ações na B3, que registram alta de 18% no acumulado de 2025. A evolução está ligada não apenas à melhora da eficiência operacional, mas também ao avanço de dois parques da AES que estavam em processo de ramp-up e agora operam com capacidade plena.

As sinergias operacionais também superaram as expectativas iniciais. A empresa projetava reduzir custos operacionais em R$ 150 milhões no primeiro ano. Mas, agora, a meta saltou para R$ 250 milhões.

“Após uma correção de 27% nas ações desde o anúncio, a empresa passa a ser negociada com uma TIR (taxa interna de retorno) real implícita mais atrativa de 12,4%”, escreveram Pimentel e Lenza, do Citi, que colocam a Auren como uma das melhores apostas para o setor.

Os acionistas controladores da Auren – o grupo Votorantim e a CPP Investments – detêm 69,2% das ações, enquanto que 30,5% estão em livre circulação no mercado. A companhia está avaliada em R$ 10,6 bilhões.



Ceará Agora e Diário do Nordeste

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