A M. Dias Branco, companhia cearense do setor de massas e biscoitos, fechou o primeiro trimestre de 2025 com uma forte queda de 55,2% no lucro líquido (Ebit) na comparação com o mesmo período do ano passado, atingindo R$ 69,4 milhões.
É uma redução expressiva na relação entre os dois trimestres. Entre janeiro e março de 2024, a M. Dias Branco havia reportado lucro líquido de R$ 154,9 milhões, em um dos mais altos crescimentos no comparativo com os anos anteriores.
Com isso, a M. Dias Branco volta a registrar o patamar financeiro divulgado do começo de 2023, quando teve lucro líquido de R$ 69,9 milhões no 1º trimestre daquele ano, o que representou na ocasião alta de 85% no comparativo com os três meses iniciais de 2022, quando o Ebit da empresa foi de R$ 37,8 milhões.
Os resultados foram divulgados na última sexta-feira (2) ao mercado financeiro, e apresentados nesta segunda-feira (5) por Fábio Cefaly, diretor de Novos Negócios e Relações com Investidores da companhia.
Ele elencou algumas razões para explicar o cenário, como aumento na cotação do dólar, que estava abaixo de R$ 5 no início de 2024 e, no começo de 2025, era cotado a mais de R$ 6; a estabilidade do valor do trigo, mas a elevação nas cifras na conversão para o real; e a alta de 25,6% no preço do óleo de palma, um dos principais insumos para biscoitos.
“O impacto do resultado é do trigo em reais. A combinação de desvalorização do câmbio com a estabilidade do preço do trigo em dólar trouxe um impacto desfavorável nos nossos custos e, consequentemente, na nossa lucratividade”, expôs.
Outro ponto é o que Cefaly chama de “sazonalidade implícita”. Os carros-chefe da companhia, ao lado das margarinas, são biscoitos e massas, cujas vendas são afetadas no 1º trimestre em virtude de férias escolares, situação que passa a ser contornada principalmente no fim de março.
Historicamente vemos uma queda de volume nas nossas principais categorias, em biscoitos e massas, principalmente, do 4º trimestre para o 1º trimestre. Isso tem relação com férias escolares, principalmente na categoria de biscoitos, e a gente vê que os varejistas retomam as compras gradualmente ao longo de janeiro e fevereiro. É normal vermos uma retração dos volumes.
O tombo do lucro líquido da M. Dias Branco é ainda maior quando a comparação é feita com o trimestre imediatamente anterior, com retração de 61%. Entre outubro e dezembro de 2024, o indicador encerrou o período com saldo positivo de R$ 176,5 milhões.
Quedas sucessivas nos resultados da empresa
Ao longo dos últimos trimestres, a M. Dias Branco vem empilhando uma série de indicadores em declínio, retomando patamares observados somente na pandemia ou imediatamente após esse período.
Em 2024, o lucro líquido da companhia despencou 27%, ficando em R$ 646 milhões. Ainda no ano passado, na divulgação dos resultados do período entre julho e setembro, o tombo de quase 52% no comparativo com o terceiro trimestre de 2023 apontava para uma situação complicada financeiramente.
Quase todos os principais indicadores registrados pela gigante cearense de massas e biscoitos tiveram retração na comparação com o primeiro trimestre de 2024, um dos melhores resultados da empresa para o período, considerado um dos mais críticos para as vendas.
- Volume vendido: 394 mil toneladas (-2% na comparação com o 1º trimestre de 2024);
- Ebitda (lucro bruto): R$ 161 milhões (-42% na comparação com o 1º trimestre de 2024);
- Ebit (lucro líquido): R$ 69,9 milhões (-55% na comparação com o 1º trimestre de 2024);
Dois indicadores foram destacados positivamente por Fábio Cefaly. Um deles foi a receita líquida, isto é, o que fica com a empresa após serem descontados impostos e demais índices.
A alta na receita líquida no primeiro trimestre deste ano foi leve, com a empresa chegando a R$ 2,2 bilhões, aumentando 3% no comparativo com os meses entre janeiro e março de 2024.
A geração de caixa, por sua vez, mais do que dobrou, batendo os 103% na relação entre os primeiros trimestres de 2025 do ano anterior, encerrando o período com R$ 280 milhões no indicador.
‘Efeito mix’ e fechamento de fábrica em São Paulo afetaram desempenho financeiro
Um dos pontos que também influenciou na queda expressiva do resultado da M. Dias Branco foi o que Fábio Cefaly chamou de “efeito mix” no preço médio do quilo dos produtos vendidos pela empresa. O valor chegou a R$ 5,6/kg, alta de 4% na comparação com o 1º trimestre de 2024, mas queda de 3% em relação ao trimestre imediatamente anterior.
“Nosso negócio de moinhos e trigos e óleos e margarinas especiais, comercializado principalmente no canal de food service, teve um desempenho em crescimento superior ao da categoria de biscoitos e massas, que têm o preço médio maior”, pontuou.
Essas são os chamados produtos principais, que incluem massas, biscoitos e margarinas. Nos três primeiros meses do ano, preço médio e volume de venda estável. Na sequência vem o segmento representado por moinhos de trigo e refino de óleos vegetais, com alta de 17% no segmento. Já as chamadas adjacências, que incluem (bolos, snacks, misturas para bolos, torradas, saudáveis, molhos e temperos, tiveram crescimento de 11% no período.
Legenda:
Foto:
Fábrica da Piraquê, da M. Dias Branco no bairro de Madureira, no Rio de Janeiro, teve descontinuada a sua produção de massas. Segundo a empresa, é uma interrupção temporária.
M. Dias Branco/Divulgação
O diretor da M. Dias Branco explicou ainda o que a empresa avalia como principal contribuinte para o tombo nos indicadores Ebit e Ebitda. Além da alta dos custos variáveis, a suspensão da produção na fábrica de Lençóis Paulista, no interior de São Paulo, também foi decisiva para a retração.
A retração ocorreu sobretudo pela alta dos custos variáveis, como dólar, trigo e óleo de palma. Houve um efeito desfavorável e extraordinário no 1º trimestre de 2025 que foram as despesas com a interrupção da produção de biscoitos na fábrica de Lençóis Paulista (SP). Esse efeito totalizou R$ 17,6 milhões.
Apesar dos resultados, Fábio não acha que o comparativo com o 1º trimestre de 2024 seja “uma boa referência para o ciclo financeiro em dia”: “Naquele trimestre, implantamos o SAP (sistema operacional) e tivemos uma concentração atípica da produção e dos resultados no final do trimestre”, completou.
“A M. Dias Branco encerrou o 1º trimestre com balanço saudável e robusto, com uma posição de caixa que superou a nossa dívida em R$ 132 milhões. Foram feitos investimentos de R$ 90,1 milhões no trimestre, boa parte disso é manutenção e melhoria da capacidade produtiva na fábrica do Eusébio (CE). Temos uma reserva de capacidade relevante que vai suportar o nosso crescimento”, considerou.
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