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Por que os moradores de Veneza protestam contra o casamento de Jeff Bezos

Por que os moradores de Veneza protestam contra o casamento de Jeff Bezos

O fundador da Amazon e um dos homens mais ricos do mundo, Jeff Bezos, se casará em Veneza, na Itália, nos próximos dias, com a âncora de TV Lauren Sánchez. Para o evento, do qual pouco se sabe, grande parte dos hotéis de luxo e dos táxis aquáticos já estão reservados, mostrando que a lista de convidados será extensa.

A notícia não agradou os moradores da cidade, que há muitos anos tem sido sinônimo do crescimento insustentável do turismo e dos riscos das mudanças climáticas. Como resposta, uma série de protestos tomou conta da região. Nos cartazes espalhados por locais como a Ponte Rialto e a ilha de San Giorgio, a mensagem era: “Sem espaço para Bezos”.

Essa é apenas mais uma manifestação contra o crescimento desenfreado do turismo, que vem tomando a Europa nos últimos anos. Cidades símbolo da região como Barcelona, Lisboa e Milão têm sido palco de protestos envolvendo armas de água e frases como “suas férias, minha miséria”.

As núpcias de Bezos tocaram exatamente em um ponto sensível a muito dos moradores dessas cidades europeias e dos venezianos, que alegam que o prefeito conservador Luigi Brugnaro se preocupa mais em aumentar o número de turistas do que em melhorar a vida dos moradores locais.

“Os venezianos se sentem traídos, negligenciados e esquecidos”, disse Tommaso Bortoluzzi, vereador de oposição do Partido Democrata, em entrevista ao Financial Times. “Muitos cidadãos sentem que perderam a capacidade de viver em sua própria cidade de forma calma, serena e tradicional, enquanto Veneza se tornou um museu a céu aberto.”

O número de moradores no centro histórico de Veneza caiu de 100 mil na década de 1980 para menos de 50 mil hoje, de acordo com o Venessia, um site que monitora as tendências populacionais — enquanto o número de leitos em hotéis e apartamentos para aluguel turístico aumentou consideravelmente.

A Lanza & Baucina, empresa de eventos sediada em Londres responsável pela organização do casamento, insiste que o evento foi cuidadosamente organizado, tendo em vista a fragilidade da cidade.

“As instruções do nosso cliente e nossos próprios princípios norteadores foram extremamente claros: minimizar qualquer perturbação da cidade, respeitar seus moradores e instituições e empregar, em grande parte, a população local”, afirmou a empresa na semana passada.

“Rumores de ‘tomar conta’ da cidade são totalmente falsos e diametralmente opostos aos nossos objetivos”, informou a Lanza & Baucina, observando que Bezos havia feito doações de caridade — de valor não especificado — a organizações que trabalham para preservar a lagoa.

Brugnaro, um conservador que governa a cidade há uma década, criticou os manifestantes e disse: “quem ama Veneza será sempre bem-vindo”. Mas isso não apaziguou a campanha “Sem Espaço para Bezos”, que reuniu estudantes, sindicatos e ativistas que lutam por moradia acessível e contra navios de cruzeiro.

No sábado, os manifestantes planejam pular nos canais e usar seus próprios barcos para bloquear os táxis aquáticos que transportam os convidados para o casamento.

Aluguéis mais caros

As queixas dos moradores ativistas nas principais europeias envolvem o aumento dos preços dos aluguéis. Com a procura de turistas, que pagam preços muito superiores aos aceitos pelos moradores, muitos dos locais precisaram se mudar de suas casas para bairros mais periféricos, onde ainda é possível arcar com os custos.

Além disso, com as cidades europeias cada vez mais abarrotadas, também existe uma preocupação com o meio ambiente e com os resultados futuros desse excesso de gente. Para base de comparação, em Barcelona, moram 1,6 milhão de pessoas. Em 2024, 26 milhões de turistas passaram pela cidade.

Os protestos, agora, estão tomando novas proporções. Na última semana, o Museu do Louvre, em Paris, na França, decidiu fechar as portas por um dia como protesto contra o descontrole do turismo.

A decisão, tomada pelos próprios funcionários do ponto turístico, é uma medida também contra o excesso de trabalho causado por esses visitantes, situação considerada por eles como “insustentável”.

Apesar das reclamações, as perspectivas no turismo não são positivas – pelo menos para os que reclamam. Neste ano, a expectativa é de que os gastos com viagens internacionais na Europa aumentem 11%, atingindo algo próximo a US$ 840 bilhões. Espanha e França devem continuar entre os países com número recorde de turistas.



Ceará Agora e Diário do Nordeste

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