O Produto Interno Bruto (PIB) de Quixeramobim, localizado a pouco mais de 200 quilômetros de Fortaleza, foi de R$ 1,4 bilhão em 2021, conforme a última divulgação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A tendência, porém, é que esse valor dobre até 2035, beneficiado pelos efeitos diretos e indiretos do porto seco no município.
Essa é a projeção do prefeito Cirilo Pimenta (PSB), feita durante o lançamento do Porto Seco de Quixeramobim, que recebeu o nome de José Dias de Macêdo, em entrevista ao Diário do Nordeste. A estrutura será instalada em uma área próxima à sede da cidade, no caminho a ser percorrido pela Ferrovia Transnordestina, atualmente em construção no Centro-Sul cearense.
Acredito que o PIB de Quixeramobim deve duplicar nos próximos 10 anos. Serão várias empresas. Teremos terminal de combustíveis, empresas da área de rações, granitos, Mercado Livre vai estar aqui também. Tem muitas empresas entrando em contato para instalar estruturas para poder começar a criar o processo de criação dos galpões”.
O secretário de Desenvolvimento Econômico de Quixeramobim, Afrânio Feitosa, faz uma projeção otimista já para 2027, quando o porto deve entrar em pleno funcionamento, incluindo área alfandegada para exportação e importação de mercadorias.
A expectativa do gestor é de que o PIB do local salte até 30% em dois anos, somente em virtude do porto seco.
“Sendo modestos, estamos estimando que, até o ano de 2027, o PIB de Quixeramobim deverá ter aumento de 20 a 30%, que já é uma alta substancial”, projeta.
Mais 10 mil empregos nos próximos dois anos
Localizada no Centro Geográfico do Ceará, no Sertão Central, Quixeramobim tem a 11ª maior população do Ceará, com quase 86 mil habitantes, de acordo com estimativas de 2024 do IBGE. Segundo Afrânio Feitosa, até 2027, o equivalente a 26% da população atual do município deverá estar trabalhando de carteira assinada.
“Hoje, o município tem 12.229 empregos com carteira assinada. Nossa expectativa é que, com o complexo portuário em sua plenitude, em 2027, tenhamos um acréscimo de mais 10 mil empregos diretos, fora os indiretos”, expõe o secretário de Desenvolvimento Econômico.
“São muitas empresas e indústrias, não só para o complexo portuário, como também fora dele. Quixeramobim passará por um crescimento muito grande, e a arrecadação do município vai crescer e dobrar rapidamente. O retorno será extraordinário em infraestrutura e educação, por exemplo”, analisa Afrânio Feitosa.
Diversas empresas já negociam a instalação de suas estruturas no porto seco — o primeiro do Ceará e o segundo do Nordeste. Além do terminal portuário, Quixeramobim também receberá unidades industriais, funcionando nos moldes do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP).
Legenda:
Foto:
Açude Quixeramobim é o principal recurso hídrico que abastece a cidade, bem como um dos principais pontos turísticos da cidade
Davi Rocha/Diário do Nordeste
Essa mudança fez com que a área do Porto Seco de Quixeramobim, a primeira infraestrutura portuária totalmente privada do Ceará, fosse ampliada de 362 hectares para 1,5 mil hectares, em cessão feita pelo Grupo J. Macêdo, antigo proprietário do terreno. Com isso, o investimento também aumentou, chegando a R$ 1 bilhão.
“O investimento, a priori de R$ 650 milhões, subiu para R$ 1 bilhão, já considerando todas as empresas com contrato; algumas, com cláusulas de confidencialidade. Nossa estimativa é, de certa forma, até modesta, em virtude de tudo o que estamos vivenciando nessas negociações do dia a dia”, observa Afrânio.
Que empresas devem ir para o Porto Seco de Quixeramobim?
O município contava, até então, com poucas marcas de renome no mercado cearense e nordestino, como supermercados e farmácias, além do Hospital Regional do Sertão Central, na entrada de Quixeramobim. Com o porto seco, várias bandeiras nacionais e até internacionais estão de olho no local.
É o caso da Vibra Distribuidora, do setor de combustíveis, que já assinou com a Value Global Group, empresa que vai construir e operar o porto. Outras, como Assaí Atacadista, Mercado Livre e Shopee estão em negociação, como revelou o CEO da companhia, Ricardo Azevedo.
De acordo com Afrânio Feitosa, “empresas de fertilizantes, estrangeiras e nacionais”, estão em tratativas com o empreendimento em Quixeramobim, bem como “indústrias de tecnologia, de ração, frigoríficos, hoteleiras e de laticínios”.
Desenvolvimento de Quixeramobim envolve questões históricas, diz especialista
A construção da Ferrovia Transnordestina substitui a antiga ferrovia Fortaleza-Crato, com cerca de 600 quilômetros (km) de extensão, completamente desativada desde 2013 no Ceará.
Um dos pontos de parada era no município do Sertão Central, cuja estação, na região central de Quixeramobim, foi inaugurada no fim do século XIX como entreposto para transporte de mercadorias como algodão e gado.
Esse protagonismo histórico, assim como na vizinha Quixadá, fazem com que Quixeramobim seja um destino importante de investimentos em infraestrutura e na área logística, como pondera o economista Lauro Chaves, assessor econômico da Federação das Indústrias do Estado (Fiec) e professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece).
“O Sertão Central cearense tem uma zona de influência muito grande e sempre teve o desenvolvimento, historicamente, ligado à questão da logística e distribuição, desde a época do gado, na colonização do Ceará. O advento do Porto Seco traz para Quixeramobim e para o Sertão Central um potencial de desenvolvimento regional incrível, se o Porto Seco e seus investimentos forem implantados tal qual está previsto”, considera.
Legenda:
Foto:
Porto Seco de Quixeramobim será instalado em área próximo ao núcleo do município
Davi Rocha/Diário do Nordeste
“Teremos uma zona de distribuição logística com competitividade para reduzir os custos dos negócios no Estado e na região Nordeste, por ter uma localização geográfica privilegiada, por estar próximo da Transnordestina e de um troncamento rodoviário. O Sertão Central, com o Hospital Regional de Quixeramobim e com o polo universitário, em Quixadá, já teve um adensamento econômico nos últimos anos”, complementa.
As indústrias calçadistas, tanto em Quixeramobim como nas vizinhas Quixadá, Senador Pompeu e Solonópole, devem trazer ainda mais “vantagens competitivas”, como afirma Lauro Chaves, principalmente pelo potencial de exportação dos produtos.
O segundo produto mais exportado do Ceará em 2025, conforme dados da ComexStat, plataforma do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), foi calçado, com pouco mais de US$ 104 milhões (cerca de R$ 580 milhões na cotação atual) vendidos para o exterior.
Complexo industrial e portuário de Quixeramobim deve descentralizar investimentos no Ceará
Lauro Chaves é categórico ao afirmar que as empresas e indústrias devem procurar o município do Sertão Central para se instalarem, saindo das proximidades de Fortaleza, o que inclui o Cipp e o Distrito Industrial, em Maracanaú, atuando em uma espécie de complemento.
O Porto Seco e o desenvolvimento logístico de Quixeramobim é complementar ao de Fortaleza e contribui para desconcentrar a economia estadual cearense, que é muito concentrada na região metropolitana. Vai tirar uma parte do mercado, atendido pela Região Metropolitana por não ter concorrência, mas aí cria des-economias de escala por estar atendendo em distâncias às vezes muito longas, e isso vai fazer com que a economia cearense fique mais competitiva”.
Para o especialista, outros portos secos devem se multiplicar pelo estado, como os previstos para Missão Velha e Iguatu, também na rota da Transnordestina, justamente como forma de levar para áreas mais distantes da Capital novas atividades econômicas.
“Existem outros portos secos que podem acontecer no Ceará, mas precisa ser mobilizado investidores privados para que isso contribua com o desenvolvimento regional, reduzir desequilíbrios territoriais e levar esse desenvolvimento para mais longe de Fortaleza. Quanto mais longe, melhor para a qualidade de vida, para a movimentação populacional e para a atratividade de negócios”, avalia.
Visita do presidente Lula ao Ceará tratou de porto seco e Transnordestina
Nessa sexta-feira (18), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esteve na cidade de Missão Velha, no Cariri cearense, acompanhando o andamento das obras da Transnordestina.
Na visita, o chefe do Executivo nacional liberou oficialmente R$ 1,4 bilhão em recursos para a Transnordestina Logística S.A. (TLSA), empresa responsável pela construção da ferrovia. Também houve tratativas para a instalação de um segundo porto seco no Ceará, em Missão Velha.
Em outubro deste ano, a Transnordestina deve começar em fase de comissionamento, no trecho entre os terminais intermodais (estruturas idênticas a de portos secos, mas sem estruturas alfandegárias para importação e exportação) de Bela Vista do Piauí (PI) e Iguatu (CE), onde a ferrovia já está concluída, para o transporte de grãos.
A promessa do presidente da TLSA, Tufi Daher Filho, é de que ainda em 2025 comece a ser colocada as chamadas ‘superestruturas’, que correspondem à instalação de dormentes e trilhos para que as locomotivas efetivamente passem, nos lotes 4 e 5 (Acopiara — Piquet Carneiro — Quixeramobim), com conclusão prevista para 2026.