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Ríton da Apúlia: por que copo com cara de cão era chique na Grécia Antiga?

Ríton da Apúlia: por que copo com cara de cão era chique na Grécia Antiga?

Sonho de qualquer especialista em happy hour, um copo cerimonial grego de 2,3 mil anos, apresenta um design curioso: uma abertura maior e mais larga em cima, por onde a bebida (vinho, água ou mel) é introduzida, e uma abertura menor na ponta afunilada, geralmente em forma de cabeça de um animal, onde o líquido sai, em um jato fino, para a pessoa beber. 

Chamado de ríton, esse recipiente para líquidos foi largamente utilizado na antiguidade, particularmente nas culturas grega, persa, trácia e outras civilizações mediterrâneas e do Oriente Próximo. O seu design inclinado exige que o líquido seja consumido rapidamente, mas não bebido e sim entornado, tanto em altares durante libações aos deuses, quanto nas bocas sedentas de frequentadores dos simpósios, literalmente “reuniões de bebedores”. 

Um dos exemplares mais famosos desse tipo de objeto, o Ríton da Apúlia, exposto na Getty Villa, um museu em Malibu, nos EUA, é um copo de terracota em forma de cabeça de cachorro. Originário da Apúlia (Puglia em italiano), o artefato arqueológico foi esculpido entre 340 e 330 a.C., provavelmente na oficina do chamado pintor de Dário, um artista com obras relacionadas ao famoso imperador persa. 

Como é o Ríton da Apúlia?

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Ilustração sobre a forma de beber em um ríton. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

O Ríton da Apúlia mede cerca de 20×10 cm e é revestido por esmalte preto, exceto nas orelhas, narinas e olhos do cão, onde o revestimento é diluído. Na parte de cima, um sátiro (figura mitológica meio homem, meio bode) segura um prato e um cajado, entre padrões de folhas e ovos. O rosto do cão, que é a base do ríton, é de uma raça da Lacônia, região de Esparta.

A escolha do cão lacônico não foi por acaso. O animal era conhecido por ser um cão de caça veloz, silencioso e muito eficaz, valorizado por não latir à toa, qualidades admiradas no ideal espartano. Como não tinha uma base plana, o ríton não podia ser apoiado em superfícies, indicando um uso dinâmico em festas ou cerimônias. Sua forma é uma evolução dos icônicos chifres da Idade do Bronze.

Além de servir bebidas em festas, os rítons eram usados em rituais para derramar oferendas (vinho, óleo ou sangue) aos deuses. Embora cães fossem mais comuns, cabeças de cavalos, veados, leões e criaturas míticas (como grifos) também adornavam esses vasos. Na cultura grega, objetos muitas vezes juntavam sua função prática com significados culturais e religiosos. 

Significados do Ríton de Apúlia

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Esparta era vista como um símbolo de disciplina, coragem e simplicidade. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Beber vinho diretamente do focinho de um cão lacônico mostra a forte influência da cultura grega no sudeste da Itália, o “calcanhar da bota”. Essa região fazia parte da chamada Magna Grécia, pois era colonizada por gregos. A cerâmica apúlia, principalmente as figuras vermelhas, eram famosas por sua durabilidade e detalhes artísticos.

Apesar de geograficamente distante, Esparta era vista como um símbolo de valores ideais, como disciplina, coragem e simplicidade, características que refletiam além de suas fronteiras. Por isso, representar um cão lacônico em um objeto de luxo, como o ríton, não só elevava o status do dono, como o distinguia nas festas (simpósios), onde os valores gregos eram celebrados.

Essa “conexão espartana” eternizada em um ríton apúlio mostra como as colônias gregas reinterpretavam alguns elementos da Grécia continental, misturando identidade local com referências aos centros de poder. Mais do que um motivo estético, o cão lacônico surge como um símbolo de força e sofisticação cultural, integrado à produção cerâmica na Itália.

O que você achou de um copo com entrada grande para bebidas e saída estratégica para “entornar”? Comente nas redes sociais e aproveite para compartilhar esta matéria com seus amigos frequentadores de simpósios. Conheça também seis curiosidades que desafiam a visão tradicional sobre a história de Esparta.



Ceará Agora e Diário do Nordeste

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