O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso defendeu hoje que a segurança pública “não é uma pauta de direita ou de esquerda”, mas uma necessidade de todos os brasileiros, inclusive os mais pobres.
A declaração foi dada em meio à repercussão política da megaoperação no Rio de Janeiro, que deixou 121 mortos até agora. O episódio tem sido marcado por uma disputa política entre aliados do governo federal e políticos de direita, inclusive governadores.
Na avaliação de Barroso, o enfrentamento da violência deve vir acompanhado de reformas estruturais, como a melhoria da educação e o combate à corrupção e ao patrimonialismo — fatores que, segundo ele, “atrasaram o país ao longo da história”.
“É preciso reagir com confronto onde for indispensável, monitorar fronteiras e comunidades para impedir a entrada de armas e, sobretudo, ir atrás do dinheiro e dos grandes responsáveis por esse tipo de criminalidade”, afirmou durante o 29° Congresso da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge).
Barroso, que esteve no comando da APDF das Favelas no STF até sua aposentadoria, ressaltou que o Brasil se tornou “um dos países mais violentos do mundo”, com dezenas de facções infiltradas na economia formal e nas instituições públicas.
“É preciso reagir com confronto onde é indispensável e monitorar fronteiras e comunidades. É preciso ir atrás do dinheiro e dos grandes responsáveis por esse tipo de criminalidade”, endossou.
Durante o evento, Barroso também destacou outras três preocupações centrais: o aperfeiçoamento do sistema eleitoral, a sustentabilidade da dívida pública e a preservação da democracia em meio ao avanço do populismo e da intolerância.
“O extremismo vem com intolerância, e a intolerância com violência. A vida boa se faz de tolerância, boa-fé e civilidade”, disse Barroso, ao reforçar a necessidade de um “olhar construtivo” sobre o país e de confiança nas instituições.
Além disso, criticou a polarização e a normalização da mentira na política. “A honestidade não é uma virtude, mas um pressuposto da vida boa: no espaço público, não desviar dinheiro; no privado, não passar os outros para trás. Mentir deliberadamente como estratégia política é inaceitável”, afirmou, ressaltando que a democracia deve incluir liberais, conservadores e todos dispostos a respeitar as regras do jogo.
Brasil como “case de sucesso”
Barroso não comentou sobre a sucessão à sua vaga no STF. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda não indicou quem ocupará a cadeira. A expectativa, nos bastidores, é que o advogado-geral da União, Jorge Messias, seja escolhido. No Senado, no entanto, a preferência é pelo senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) ex-presidente da Casa.
No discurso, ele condenou o extremismo e celebrou avanços da democracia brasileira. “O extremismo vem com intolerância, e a intolerância com violência. O espírito humano não pode ser capturado pelo extremismo”, disse.
“Temos 40 anos de democracia e estabilidade institucional, saímos do mapa da fome em julho de 2025 e somos a décima maior economia do mundo. Há muitas coisas boas que passam despercebidas, como o Pix, a eliminação da fraude eleitoral e fontes de energia abundantes. Quando você coloca pessoas certas no lugar certo, o Brasil vai bem”, completou ao enaltecer que o Brasil é um “case de sucesso.
Segundo Barroso, a democracia e a estabilidade institucional representam uma conquista civilizatória significativa, não apenas para o país, mas para toda a América Latina, marcada por golpes e conflitos armados.
“A história do Brasil sempre foi uma história de golpes e contra-golpes. Marechal Floriano deu golpe, houve o Estado Novo, a destituição de Getúlio Vargas e vetos de ministros militares. Essa sempre foi a história do país. Só quem não soube a sombra não vê a luz”, afirmou.
Barroso reforçou sua confiança no progresso histórico do país, ressaltando que a trajetória brasileira é, em última análise, um avanço no processo civilizatório.
“Eu tenho a convicção de que a história é uma marcha contínua no bem. Precisamos empurrar a história na direção certa; não me impressiona que as pessoas se impressionem com os maus momentos do país. É preciso ver o filme completo da história brasileira”, declarou.
 
				 
		 
								 
								 
								 
								 
								