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Sem filas e com alta gastronomia: os lounges ultraVIPs ganham espaço nos aeroportos

Sem filas e com alta gastronomia: os lounges ultraVIPs ganham espaço nos aeroportos

Quando foram lançadas, no fim da década de 1930, as salas VIP dos aeroportos eram uma cortesia das companhias aéreas destinada a passageiros de alto padrão. Com o tempo, porém, muitos desses refúgios passaram a receber cada vez mais gente e ficaram, para os viajantes mais elitizados, cada vez… menos VIP.

Agora, na tentativa de recuperar o glamour perdido e satisfazer seu “freguês” verdadeiramente very important person, diante de aeroportos cada vez mais cheios e filas intermináveis na imigração, empresas aéreas, bancos e administradoras de cartão de crédito vêm criando as salas VIP das salas VIP.

Alta gastronomia, suítes com banheira, centros de negócios equipados com iMacs, salão de jogos, área para ginástica, cápsulas de meditação, spa… o céu é o limite para seduzir os viajantes de altíssima renda.

“Hoje, o estresse do aeroporto é muito maior do que o voo em si, o que está tornando o lounge mais importante que a poltrona do avião”, diz ao NeoFeed Simon Mayle, diretor da ILTM Latin America, o maior e mais importante evento de turismo de luxo da América Latina.

“Com as passagens em executiva cada vez mais caras, tem um perfil de viajante preferindo investir em ter uma grande experiência no aeroporto”, complementa.

A Visa, por exemplo. As constantes reclamações em torno da superlotação de seu lounge Visa Infinite, no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, levaram a companhia a criar um segundo espaço, o Visa Infinite Privilege Lounge.

Com menu assinado pela chef Bel Coelho e amenidades da Natura Bothânica, a linha mais sofisticada da Natura, entre outros pequenos luxos, o espaço é destinado apenas aos portadores do cartão homônimo.

E quem tem acesso a ele? Os donos de investimentos de, no mínimo, US$ 6 milhões (quase R$ 33 milhões) ou renda mensal de US$ 60 mil (R$ 328 mil, aproximadamente). Tais valores limitam a possibilidade de uso do espaço a menos de 0,1% da população brasileira.

Uma análise recente da Visa Consulting & Analytics identifica: para os donos de grandes fortunas, entre os marcadores de estilo de vida, as viagens lideram o ranking tanto em número de transações quanto em dinheiro movimentado. No Brasil e no mundo.

Fila? Não tem

Para atraí-los, algumas empresas vão além dos lounges e investem em terminais próprios — uma tendência já adotada em vários aeroportos mundo afora. No Brasil, o BTG Pactual gastou R$ 80 milhões  em uma dessas estruturas. Inaugurado em 2024, em Guarulhos, o Terminal BTG Pactual do GRU Airport tem 2,4 mil metros quadrados (m²).

Projetado pelo pelo escritório americano de arquitetura Perkins & Will, o espaço oferece  gastronomia assinada pelo chef Ivan Ralston, dono do Tuju e de duas estrelas Michelin. A carta de drinques é de Ricardo Miyazaki, eleito o melhor bartender de São Paulo. E as obras de arte, disponíveis para venda, têm curadoria da galeria Simões de Assis.

O verdadeiro luxo do lugar, porém, é outro. O viajante cumpre todos os trâmites de embarque e desembarque ali mesmo, sem passar pelo terminal comum aos demais passageiros: check-in, raio-X, alfândega e imigração, além de transporte privativo até a porta do avião. Graças a uma parceria com a Revo (cobrada à parte, é claro) helicópteros fazem os deslocamentos entre a Faria Lima e o aeroporto — e vice-versa.

“É uma nova forma de viajar, sem estresse, que valoriza o tempo e transforma o trajeto e a espera em parte da experiência”, afirma ao NeoFeed Tomás Perez, CEO do TP Group e da Teresa Perez, principal agência de viagem e operadora de turismo de luxo do Brasil.

O BTG Pactual investiu R$ 80 milhões na construção de um terminal exclusivo em Guarulhos (Foto: Divulgação)

Apenas 0,1% dos brasileiros têm acesso ao Visa Infinite Privilege Lounge (Foto: Divulgação)

Em Dubai, o Emirates First Class Lounge oferece tratamentos faciais e massagens no Timeless Spa

Na sala de ginástica da Vigin Atlantica em Londres, as bicicletas ergométricas são da marca Peloton

Aos passageiros da primeira classe, a Air France disponibiliza no aeroporto de Paris suítes de 45 m²

Nas banheiras (sim, banheiras!) do lounge VIP da Lufthansa, em Frankfurt, os viajantes encontram patinhos de borracha colecionáveis

Qualquer viajante tem acesso ao novo Terminal BTG – desde que faça reserva com 72 horas de antecedência e pague US$ 590 (cerca de R$ 3,2 mil). Dada a procura, nos últimos meses, há constantemente lista de espera. Os clientes Ultrablue do BTG Pactual têm prioridade de uso e desconto de 20%. E os passageiros da Teresa Perez também têm preferência na reserva.

As companhias aéreas asiáticas foram as pioneiras no movimento de refinamento das salas VIP. Em Doha, no Catar, a Qatar Airways dispõe de 9 mil m² de lounges, com áreas privativas, salas de jantar e espaço para jogos, com simulador de F1.

Mas o suprassumo da sofisticação da companhia catari é sua La Maison Louis Vuitton – um luxo restrito aos passageiros com status Privilege Club Platinum e Gold na companhia, voando em Business ou First, e clientes especiais da casa de moda parisiense.

Todos os códigos da Louis Vuitton estão lá, espalhados em cada canto do lugar. Inaugurado em 2023, o lounge dispõe de restaurante 24 horas, com menu assinado pelo chef francês Yannick Alléno, dono de 16 estrelas Michelin.

E, assim, seguem os novos modelos de salas VIP – cada empresa tentando se diferenciar uma das outras. Em Dubai, o Emirates First Class Lounge oferece tratamentos faciais e massagens no Timeless Spa. Em Londres, a Virgin Atlantic disponibiliza mesa de sinuca e bicicletas ergométricas da Peloton.

E, em Frankfurt, os viajantes encontram patinhos de borracha colecionáveis nas banheiras das suítes no terminal de primeira classe da Lufthansa. Em Paris, a Air France oferece aos passageiros da primeira classe suítes privativas de 45 m².

O início da superlotação

A opulência dos novos lounges contrasta com a popularidade crescente das salas tradicionais — e com a queda das comodidades oferecidas a bordo para os passageiros da classe econômica.

A expansão do conceito das salas VIP começou nos anos 1990, quando os bancos e as administradoras de cartão de crédito passaram a oferecer o benefício ao clientes ditos “especiais”. Na prática, o status cabe hoje a quem tem, por exemplo, bom histórico de relacionamento com as instituições ou faz uso frequente de seus serviços. Ou seja, muita gente.

Na mesma época, começaram a surgir empresas independentes de comodidade aeroportuária e programas criados apenas para garantir o acesso aos lounges. Por US$ 469 (R$ 2,6 mil) anuais, a assinatura do plano Prestige, o mais completo do Priority Pass, por exemplo, libera a entrada em 1,5 mil salas VIP ao redor do planeta.

Além disso, alguns lounges agora concedem acesso pago a qualquer viajante, por taxas muitas vezes em torno de U$ 40 (R$ 220) por pessoa por até três horas de uso.

Desde o fim da pandemia, com a busca dos viajantes por experiências cada vez mais personalizadas e exclusivas, houve uma explosão de lounges. Só no aeroporto de Guarulhos, eles passaram de uma dúzia em 2019 para mais de 30 hoje em dia.

O relatório Airport Lounges are the Hottest Ticket, da consultoria IdeaWork Company, divulgado em 2024, mostra: globalmente, a receita proporcionada apenas pelos programas de cartão de crédito associados a empresas aéreas em 2023 ultrapassou US$ 35 bilhões — com grande parte do dinheiro movimentado nesses espaços pré-voo.

Com a retomada de vez das viagens de negócios e o crescimento acelerado do turismo de luxo, a tendência é que os passageiros de alto poder aquisitivo façam cada vez mais das salas “ultraVIP”, que são pequenas ilhas de exclusividade em meio ao crescente caos dos aeroportos.



Ceará Agora e Diário do Nordeste

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