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Sem projetos de grandes shoppings, Fortaleza vivencia ‘boom’ de pequenos centros comerciais – Negócios

Sem projetos de grandes shoppings, Fortaleza vivencia 'boom' de pequenos centros comerciais - Negócios

O mercado de shopping centers em Fortaleza, consolidado como o maior do Nordeste, enfrenta um cenário desfavorável para seu crescimento. Não há projetos em andamento para a instalação de grandes centros comerciais na capital cearense. 

Tomando o rumo contrário, os malls não param de crescer. Também chamados de strip malls (termo em inglês para shoppings de vizinhança), os centros comerciais são de pequeno a médio porte, na sua maioria abertos e com poucos andares. 

Os fortalezenses devem ver a abertura de pelo menos cinco novos malls ao longo de 2025, com 160 operações. Por outro lado, a última inauguração de um grande shopping na Capital foi em 2016.

Nenhum dos 17 grandes empreendimentos a ser inaugurado no Brasil neste ano virá para a capital cearense, segundo dados da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce).

A Região Metropolitana de Fortaleza se demonstra saturada de shoppings de grande porte, avalia o consultor de empresas e professor da Faculdade CDL, Christian Avesque. 

As oportunidades para novos empreendimentos parecem mais promissoras para malls e shoppings populares de confecção, avalia. “Para construir um shopping do zero, não há o espaço que existia há dez, vinte anos. O que existe são ampliações de shoppings existentes para criar novos espaços”, aponta.

Avesque lembra que um dos países mais conhecidos pelo consumo, os Estados Unidos, saiu da ‘era dos shoppings’ para o fechamento intenso dos pátios comerciais. O fenômeno se intensificou na pandemia, com o aumento intensivo das compras online

“O consumo de produtos de rotina, de baixa complexidade, geralmente de ticket baixo, migra diretamente para a web. Para lojas de meias, tênis, utensílios domésticos, por exemplo, fica praticamente inviável os custos”, afirma. 

Para garantir sustentabilidade financeira para além das datas comerciais, os empreendimentos devem garantir que mais da metade de seu faturamento seja de áreas de alimentação e entretenimento, projeta o especialista. 

A Abrasce afirmou, em nota enviada ao Diário do Nordeste, que a expansão de pequenos shoppings no Nordeste contribui para a movimentação da economia e do comércio local. 

“Atualmente, a região concentra 109 shoppings, o que representa 17% do total de empreendimentos no Brasil, sendo Fortaleza (CE) a capital nordestina com o maior número de shoppings, com 13 empreendimentos de diversos portes”, destacou a associação.

PERDA DE LOJAS ÂNCORA 

A redução nas vendas tem gerado transformações nos shoppings, como a perda de lojas âncora (lojas de grande dimensão de marcas conhecidas nacionalmente, com potencial de atrair público), comenta Ulysses Reis, coordenador de Varejo da SBS Strong Business School. 

“As lojas de eletrodomésticos e móveis, por exemplo, reduziram muito o seu estoque e área de venda nos shoppings. A gente vê cada vez menos lojas âncoras e menos lojas que vendem vestuário, as vendas de roupas estão se concentrando nas grandes varejistas”, afirma.

Com o fechamento das lojas âncoras, os outros negócios precisam ratear os custos que ficaram descobertos na operação, aumentando os custos. 

“Quando uma loja deixa um shopping e não existe outra para ocupar, vemos a mensagem ’em breve uma nova atração’ ou um anúncio do shopping. Há uma percepção que os espaços não estão sendo alugados, mas a razão é porque está muito caro para o lojista pagar o aluguel”, avalia. 

REALIDADE DAS GRANDES CAPITAIS

O fenômeno não é restrito a Fortaleza. O investimento em novos shoppings não é mais uma realidade das grandes capitais, reitera Roberto Kanter, economista e professor de MBAs da FGV. 

“Em complemento, modelos mais horizontais vêm ganhando força porque cada vez mais as pessoas gostam de fazer coisas perto de casa. Tem uma tendência cada vez maior dos mercados de bairros e também dos centros comerciais de bairro”, avalia. 

Os malls costumam abranger supermercado, academia, padaria, farmácia, lanchonetes e mais uma variedade de lojas.

Com mais comodidade, a tendência é que os pequenos centros ofereçam uma boa cobertura de serviços, com um mix que poderia ser encontrado apenas em um shopping há alguns anos.

Os shoppings ainda devem manter, entretanto, domínio sobre determinados tipos de loja, como as grandes varejistas de roupas e grifes. 

“Os centros comerciais não são um lugar para você comprar uma roupa de moda em grandes lojas, ir em restaurantes mais sofisticados. A área de serviços fica mais sensível, mas você não vai deixar de comprar na Zara, Farm ou Camicado por causa disso”, comenta Roberto Kanter. 

MALLS SURGEM COMO OPÇÃO MAIS BARATA E DIVERSIFICADA

Uma das vantagens oferecidas pelos malls é um custo menor de aluguel e operação. Como os empreendimentos são planos e têm menos áreas, as taxas de limpeza, conserto e manutenção são menores.

“Os malls têm pé direito maior, várias características para reduzir custos de manutenção e refrigeração, para viabilizar a sobrevivência e o lucro dos lojistas”, comenta Ulysses Reis.

Esse tipo de empreendimento pode ser atrelado a condomínios, hotéis e até instituições de ensino, garantindo uma fidelização do público consumidor. Os malls têm capacidade de focar em um nicho específico e se tornar o empreendimento ‘da vizinhança’.

“O pequeno varejista de shopping começa o mês com uma dívida de R$ 70 mil para uma loja de 80 m². Por isso os strip malls têm ganhado, principalmente para quem está focado em zonas mais específicas. Os malls atendem a um raio específico muito curto, de até um quilômetro e meio, gerando conveniência e rapidez”, comenta Christian Avesque.

Está prevista a construção de malls em diferentes regiões da Grande Fortaleza. Um dos empreendimentos está sendo construído na Avenida Godofredo Maciel, no bairro Maraponga, que já tem diversos pátios comerciais. 

Legenda:
Fortaleza tem diversos malls em construção, em diferentes regiões

Foto:
Fabiane de Paula

Na Avenida Borges de Melo, um empreendimento do tipo já tem em operação uma academia Max Forma e deve receber um Mercadão São Luiz e outras lojas em breve. 

No bairro Antônio Bezerra, o Buena Vista Big Mall está sendo construído no terreno onde funcionava a antiga fábrica Guararapes. O mall já tem confirmadas quatro lojas âncoras: Mix Mateus, Mateus Eletro, Pague Menos e Smartfit.

Caucaia deve receber o Harmony Mall Rota do Sol, que contará com um Mercadão São Luiz e com uma unidade da rede de academias Greenlife. 

Outro empreendimento é o Laguna Mall, em Eusébio. Entre as marcas confirmadas estão a Academia Gaviões, com funcionamento 24 horas, Turatti, DOC Tratoria, Soho, Benévolo e Belucci.

SHOPPINGS RUMAM PARA MÉDIAS E PEQUENAS CIDADES

Enquanto as regiões metropolitanas recebem investimentos de malls, as redes de shoppings tradicionais estão chegando a pequenas e médias cidades, que ainda não têm grandes empreendimentos, explica Roberto Kanter. 

“Os gestores vêm olhando para cidades médias e até cidades menores. Antigamente eram cidades de até 500 mil habitantes, hoje são cidades de até 200 mil e de 100 mil habitantes, mas que tem um entorno geográfico grande e capilaridade”, comenta.

Nos municípios menores, é comum que shoppings se instalem nas divisas das cidades, com fácil acesso a rodovias, como forma de ligar a cidade e o seu entorno

Outro movimento do mercado é a fusão de bandeiras de shoppings, com o crescimento das redes já em operação, segundo o especialista da FGV.

Mesmo que em ritmo lento, os novos shoppings projetados devem chegar adaptados aos novos rumos do mercado, com áreas de entretenimento e espaços voltados à socialização, defende Ulysses Reis. 

“O shopping center hoje é muito mais uma área de convivência do que um local apenas de compras. Parte das pessoas vai ao shopping não especificamente para comprar em uma loja, mas para o lazer, para passear com a família, para a praça de alimentação”, reitera. 

Na visão do consultor de empresas, Fortaleza ainda preserva potencial para a construção de novos shoppings, devido à atração de turistas e o padrão de renda das classes mais altas, mas isso deve ocorrer uma maneira adaptada. 

“A estratégia mais interessante hoje é começar com um shopping médio, bem localizado, com área no entorno disponíveis, para expandir conforme ele começa a ficar forte. O período de maturação de um shopping é de cerca de dois anos. Se o negócio dá certo, depois disso começa uma fase melhor de lucro e desenvolvimento”, explica.



Secretaria da Cultura

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