A recuperação dos ativos argentinos esta semana até agora foi tórrida. O peso subiu 10%, as ações ganharam 7% e os títulos estrangeiros do governo registraram ganhos de 22%, no melhor ganho semanal desde 2022.
Tudo isso — ou a maior parte, pelo menos — foi orquestrado pelo secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, que veio em socorro do presidente argentino, Javier Milei, prometendo uma tábua de salvação financeira para ajudar o governo a defender o peso, garantir o pagamento da dívida e manter sua agenda de reformas de livre mercado nos trilhos.
Os ganhos, os maiores do mundo nesta semana, seguem-se a quedas aceleradas desencadeadas pela derrota esmagadora de Milei nas eleições locais no início deste mês, que levaram os investidores a questionar a viabilidade de seus grandes planos para o país sul-americano.
A mera promessa de um acordo com os EUA levou os títulos a um salto recorde na segunda-feira (22). Os detalhes da ajuda, que incluíam uma linha de swap de US$ 20 bilhões, potencial apoio do Fundo de Estabilização Cambial e compras diretas de dívida do país, impulsionaram ainda mais a alta.
“A intervenção dos EUA serviu como um “circuit breaker” (mecanismo de segurança), dando ao governo Milei maior liberdade antes das eleições de outubro”, escreveram analistas do J.P. Morgan liderados por Diego Pereira em um relatório esta semana. “Mesmo com a forte alta desta semana, a Argentina ainda parece barata em um cenário de mercados emergentes extremamente restrito.”
Até que ponto a ajuda dos EUA se materializará — ou como ajudará Milei nas urnas — ainda não se sabe. Por enquanto, porém, parece ter estabelecido um piso para os ativos da Argentina antes das eleições de meio de mandato de 26 de outubro, onde os aliados de Milei precisam ter um bom desempenho para que o presidente continue a impulsionar sua extensa agenda de reformas. Até lá, a possibilidade de mais apoio dos EUA provavelmente fará com que investidores pessimistas pensem duas vezes antes de apostar contra as ações, títulos e moeda do país.
Milei, um economista libertário que introduziu a terapia de choque do livre mercado com o objetivo de acabar com as crises que assombram o país há décadas, obteve algum sucesso em controlar a inflação galopante. Dados desta semana mostraram que a pobreza caiu para seu nível mais baixo desde 2018 no primeiro semestre do ano, à medida que as políticas de Milei reduziram a inflação da casa dos três dígitos.
Mas a recuperação da Argentina após as medidas de austeridade implementadas no início de sua presidência estagnou, com a atividade econômica se contraindo por três meses consecutivos até julho. O desemprego permanece elevado. A indignação dos eleitores com alguns de seus cortes de gastos — e um escândalo de corrupção envolvendo seu círculo íntimo — lhe renderam derrotas surpreendentemente grandes nas recentes eleições locais.
A ajuda dos EUA interrompeu a fuga de ativos argentinos desencadeada por essas derrotas, mas não resolve todos os problemas de Milei. Analistas afirmam, em grande parte, que o peso está supervalorizado — uma parte fundamental de seu plano para conter a inflação —, mas poucos esperam que o governo de Milei o deixe enfraquecer ainda mais antes das eleições de meio de mandato.
Seu governo também precisa acumular reservas, que caíram US$ 4 bilhões, para US$ 39 bilhões, desde o pico em 4 de agosto, depois que o banco central vendeu mais de US$ 1 bilhão em apenas três dias na semana passada para defender a banda de negociação acordada com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Qualquer reposição do caixa do país representaria uma reviravolta para Milei, que anteriormente evitava emitir pesos que pudessem minar suas metas de desinflação.
“Se as autoridades não conseguirem reconstruir as reservas e ajustar o regime cambial, Washington poderá repetir o erro do FMI em 2018-19, investindo bilhões na defesa de uma estrutura insustentável enquanto os credores aproveitam a oportunidade para sair”, escreveram economistas da corretora local One618, liderada por Juan Manuel Pazos, em nota na quinta-feira (25).