Após prestar depoimento à PF (Polícia Federal) nesta terça-feira (1º), os advogados Fábio Wajngarten e Eduardo Kuntz afirmaram que não tentaram obstruir a investigação sobre uma tentativa de golpe de Estado que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal).
Além de Wajngarten, ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro, e de Kuntz, que defende Marcelo Câmara — ex-assessor da Presidência, atualmente preso preventivamente —, também foi ouvido o advogado Paulo Cunha Bueno, advogado de Jair Bolsonaro (PL), por determinação do ministro Alexandre de Moraes.
Os depoimentos foram realizados simultaneamente, às 15h, em São Paulo e Brasília, e marcados após a defesa de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, entregar à PF uma série de documentos relacionados à investigação.
Wajngarten, que deixou a defesa de Bolsonaro em 2024, rejeitou completamente qualquer acusação de que tenha tentado atrapalhar ou interferir na investigação.
“Estou estudando e reafirmo nas duas últimas linhas do meu depoimento, que eu repudio de forma veemente a acusação de tentativa de tumultuar, de desorganizar, de atrapalhar ou de embaraçar a investigação. Repudio”, disse o ex-secretário.
Além disso, Wajngarten avisou que estuda processar quem o acusou injustamente. “E afirmo que estou estudando a possibilidade de ingressar com ações de denunciação caluniosa contra quem quer que seja.”
Já Kuntz, agradeceu ao delegado responsável, Fábio Schor, destacando que teve ampla oportunidade de responder às perguntas e esclarecer sua participação.
“Queria enaltecer a conduta e a postura do Dr. Fábio Schor, que é delegado de polícia que fez toda a ativa, me permitiu responder todas as perguntas, esclarecer todos os fatos”, declarou.
Kuntz reforçou que sua conduta, tanto profissional quanto ética, esteve dentro da legalidade. “Minha atuação profissional e legal foi totalmente dentro dos parâmetros, sem qualquer tipo de conduta ilícita ou com falha ética.”
Quem foram os depoentes:
- Paulo Costa Bueno, atua na defesa de Bolsonaro;
- Fábio Wajngarten, advogado e ex-secretário de Comunicação Social da Presidência;
- Marcelo Câmara, ex-assessor da Presidência e réu no núcleo dois do plano de golpe;
- Eduardo Kuntz, advogado de Marcelo Câmara.
Conversas por rede social
Os materiais buscam esclarecer as informações prestadas por Eduardo Kuntz, que disse ao STF ter sido ele o interlocutor de Cid em uma série de mensagens trocadas nas redes sociais e tornadas públicas pela revista “Veja”. O advogado passou a ser investigado por obstrução. Moraes determinou a prisão de Câmara, seu cliente.
O advogado afirmou que nunca havia tomado a frente de procurar Cid ou seus familiares e atribuiu ao tenente-coronel a iniciativa de tentar contato por meio das redes sociais.
Segundo a defesa de Cid, no entanto, Kuntz “procurou insistentemente” sua filha menor de idade por meio do WhatsApp — as mensagens foram entregues pela defesa do delator à PF.
Cid sugere que Kuntz teria tentado persuadir a adolescente a limpar as conversas. Em outro momento, teria pedido para que a menina articulasse um encontro em um lugar que o pai achasse “seguro e confortável”.
A defesa de Cid também diz que Kuntz e Bueno tentaram “cercar” a mãe do tenente-coronel, Agnes, em eventos na Hípica de São Paulo, “no sentido de demover a defesa então constituída” pelo delator.
Já Wajngarten, teria feito uma “intensa tentativa” de falar com a família do tenente-coronel, contatando a sua filha adolescente e também sua esposa, Gabriela.
Na decisão, Moraes afirma que “as condutas narrada à autoridade policial indicam a prática, em tese, do delito de obstrução de investigação de infração penal que envolva organização criminosa”.
Além de ouvir os advogados, a PF deverá juntar aos autos do processo a extração e a categorização dos dados armazenados no telefone celular da filha de Cid.
*Publicado por João Scavacin, da CNN, e com informações de Adriana De Luca