O Brasil consolida cada vez mais seu papel como formador de profissionais altamente qualificados para a indústria automotiva global. Em um momento de retomada econômica e de reconfiguração da produção industrial no mundo, o país desponta não apenas como consumidor, mas como exportador de talentos técnicos, capazes de atender aos mais altos padrões de qualidade exigidos por montadoras internacionais.
De acordo com dados do Observatório Nacional da Indústria, cerca de 38% das empresas do setor automotivo brasileiro enfrentam dificuldades em contratar profissionais qualificados, especialmente nas áreas de reparação, funilaria e pintura. Paradoxalmente, essa carência doméstica reflete uma tendência oposta fora do país: o reconhecimento crescente da excelência da mão de obra brasileira em grandes montadoras e oficinas na América do Norte e Europa.
Um dos exemplos mais emblemáticos desse fenômeno é o do especialista Josoir Lemes, profissional com mais de duas décadas de experiência na técnica de martelinho de ouro, que construiu uma carreira de sucesso em montadoras como Toyota e General Motors e, posteriormente, expandiu sua atuação para o México e países da Europa. Ele explica que o diferencial do profissional brasileiro está na combinação de técnica e adaptabilidade. “O brasileiro tem algo que o mercado internacional valoriza muito: a capacidade de encontrar soluções práticas e eficientes sem comprometer a qualidade. Isso vem da nossa cultura de improviso inteligente e da formação sólida nas montadoras nacionais”, afirma.
A técnica do martelinho de ouro, especialidade de Josoir, é um exemplo de como o conhecimento técnico pode se tornar diferencial competitivo. O método de reparação, que preserva a pintura original e evita o uso de massa plástica, é considerado um dos processos mais sustentáveis da indústria automotiva moderna. Além de reduzir custos e tempo de reparo, diminui o uso de produtos químicos e contribui para a redução de resíduos. “Em muitos países da Europa, o conceito de sustentabilidade já é requisito obrigatório. O martelinho de ouro se encaixa perfeitamente nesse cenário, pois alia eficiência e respeito ao meio ambiente”, explica o especialista.
Estudos da Confederação Nacional da Indústria mostram que as exportações de serviços técnicos e de engenharia cresceram 22% nos últimos dois anos, impulsionadas por profissionais brasileiros que atuam como consultores, instrutores e especialistas no exterior. No setor automotivo, esse movimento se intensifica com a presença de brasileiros em fábricas da Alemanha, França, México e Portugal, contribuindo para o aumento da visibilidade da expertise nacional.

Para Josoir, a internacionalização da mão de obra técnica é um reflexo direto da maturidade da indústria brasileira. “O Brasil sempre foi referência em produção automotiva. As montadoras investiram pesado em capacitação técnica e padronização de processos. O resultado é que hoje exportamos profissionais com experiência de fábrica, capazes de atender qualquer mercado com o mesmo nível de qualidade”, comenta.
O especialista também destaca o impacto econômico e social desse movimento. Segundo ele, o fortalecimento da formação técnica no Brasil é essencial para gerar oportunidades e manter o país competitivo. “Quando um profissional se qualifica, ele não muda apenas a própria vida, mas a economia do lugar onde vive. A formação técnica tem um poder multiplicador, porque forma pessoas que criam negócios, treinam equipes e elevam o padrão do mercado”, observa.
A indústria automotiva brasileira, responsável por cerca de 20% do PIB industrial e empregadora direta de quase 1,2 milhão de pessoas, depende cada vez mais da qualificação para se manter relevante no cenário global. A transição tecnológica rumo à eletrificação e aos processos sustentáveis exigirá ainda mais preparo e especialização nos próximos anos.
Nesse contexto, histórias como a de Josoir Lemes representam mais do que sucesso individual. Elas simbolizam o potencial de um país que forma profissionais talentosos, resilientes e capazes de competir em escala global. “O mundo precisa de qualidade e consciência técnica. O profissional brasileiro tem as duas. Por isso, cada vez mais portas estão se abrindo”, conclui.