Fortaleza deve ter a sétima maior movimentação financeira do Brasil em 2025, com potencial de consumo avaliado em R$ 96 bilhões, segundo levantamento do IPC Maps. Mas a grande dinâmica financeira está concentrada em uma parcela pequena da população.
A desigualdade de renda é evidenciada pelo desempenho de Fortaleza quando é avaliado o consumo per capita. A Capital ocupa o 1.805 lugar entre os 5.570 municípios brasileiros.
A estimativa é que o consumo por morador de Fortaleza seja de R$ 37.438 ao longo do ano. A título de comparação, a cidade com maior consumo per capita é o município de Lavínia, em São Paulo, com movimentação estimada de R$ 81.879 por pessoa.
A única capital entre os dez maiores potenciais de consumo per capita é Florianópolis (SC), com média de R$ 69.601. O levantamento considera gastos com habitação, alimentação, veículo próprio, educação e outros segmentos.
Isadora Osterno, pesquisadora do FGV/Ibre e Conselheira do Corecon, avalia que a desigualdade de renda é recorrente em grandes centros urbanos, mas parece ser mais acentuada em Fortaleza.
A média de consumo dos domicílios da classe A em Fortaleza é de R$ 871.763 por ano, mais de vinte vezes maior que o das famílias nas classes D/E, que é de R$ 36.722.
“Cerca de 80% dos domicílios urbanos em Fortaleza pertencem às classes C, D e E, enquanto apenas 2% estão na classe A. Ainda assim, essa minoria consome 16,2% do total, mais do que as classes D/E somadas”, destaca a especialista.
IMPACTOS NEGATIVOS PARA A CIDADE
A pesquisadora aponta que o perfil de concentração de renda tem implicações negativas para Fortaleza, como a redução do dinamismo do mercado interno e a restrição da expansão da atividade econômica.
“O mercado interno se torna dependente de um grupo restrito de consumidores, o que compromete a capacidade de expansão sustentada. Além disso, a concentração tende a reforçar desigualdades já existentes, dificultando a mobilidade social e perpetuando o ciclo da pobreza”, afirma.
João Mário de França, pesquisador do FGV/Ibre, destaca que o cenário é confirmado por outros indicadores socioeconômicos, como a renda per capita do IBGE – Fortaleza tem terceiro pior resultado do País.
A baixa remuneração oriunda do mercado de trabalho, que pode ser reflexo da baixa escolaridade dos trabalhadores e alta taxa de informalidade, também é um indicativo.
“Esse conjunto de informações acima indica Fortaleza com limitações de desenvolvimento, pensando no desenvolvimento em um sentido mais amplo, focalizando no bem-estar de seus moradores. E afeta certamente o seu potencial per capita de consumo”, diz.
PERCEPÇÃO DISTORCIDA DE DESENVOLVIMENTO
A disparidade entre o desempenho dos potenciais de consumo geral e per capita não é exceção de Fortaleza. O Ceará é o décimo estado com maior potencial de consumo no Brasil, com estimativa de movimentar R$ 241 bilhões ao longo do ano.
Mas considerando o potencial per capita, o Ceará cai para a 19º posição entre os 27 entes da federação. O consumo médio dos cearenses é de R$ 29,4 mil.
Em comparação com os estados do Nordeste, o Ceará está atrás de Sergipe (15º lugar), Bahia (17º lugar) e Pernambuco (18º lugar).
Para definir o nível de desenvolvimento financeiro de um estado, Isadora Osterno ressalta a necessidade de olhar para além dos números agregados, avaliando a distribuição de renda e também indicadores de saúde, educação e segurança.
O potencial de consumo elevado em um estado concentrado em poucos grupos pode gerar uma percepção distorcida de desenvolvimento, defende a pesquisadora.
“Embora os dados agregados sinalizem uma forte demanda interna, a distribuição desigual do consumo expõe um padrão estrutural de assimetria que compromete o desenvolvimento socioeconômico de Fortaleza”
FAMÍLIAS DA CLASSE A GASTAM R$ 161 MIL POR ANO COM VEÍCULO PRÓPRIO
A desigualdade de renda entre as famílias de Fortaleza é explicitada na diferença de gastos nos segmentos de consumo avaliados. Na área da habitação, as famílias da classe A devem desembolsar R$ 141 mil em 2025, enquanto as das classes D/E cerca de R$ 10 mil.
A diferença é ainda maior no setor de veículo próprio, que é o segundo com maior potencial de consumo em Fortaleza. As famílias mais ricas devem gastar R$ 164 mil com veículos ao longo do ano, enquanto as mais pobres R$ 2,4 mil.
Já os gastos com alimentação figuram em R$ 41 mil por família na classe A, R$ 18 mil na classe B, R$ 12 mil na classe C e 7 mil nas classes D/E.