O presidente do Sindicato das Indústrias da Alimentação e Rações Balanceadas do Estado do Ceará (SindiAlimentos Ceará), Isaac Bley, destaca que pelo menos três regiões do território cearense são destaques no setor no ano passado.
Para ele, a “Região da Ibiapaba, o Vale do Jaguaribe e o Litoral Oeste” são os locais que mais se destacam na produção de alimentos em todo o Ceará. A afirmação é feita com base no levantamento divulgado pela Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), que revela o tamanho da cadeia produtiva cearense em 2024.
No ano passado, o Estado faturou R$ 17 bilhões na indústria de alimentos, correspondendo a 7,1% do Produto Interno Bruto (PIB) cearense. Ao todo, mais de 1,4 mil empresas geraram 255 mil empregos no território estadual, entre postos de trabalho diretos e indiretos.
O volume mostra a força da indústria cearense, que cresceu em nível superior quando comparado a média nacional no ano de 2024. O Ceará se destaca na produção de frutas (acerola, melão, caju, castanha, pitaya, coco). Destaca-se também como um dos maiores produtores de camarão e lagosta. A partir disso a agroindústria entra em cena realizando o processamento e beneficiamento desses produtos, agregando valor à matéria-prima bruta.
As três regiões totalizam mais de 40 municípios, de acordo com dados do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece). Em comum, são cidades mais distantes da Grande Fortaleza e mais próximas de estados vizinhos, como Piauí e Rio Grande do Norte.
Para o Ipece, o Litoral Oeste é também chamado de Vale do Curu e engloba 12 municípios. Entretanto, há uma grande produção de alimentos também na região chamada de Litoral Norte. Na Grande Fortaleza, municípios como Trairi e Paraipaba também se destacam na indústria do setor.
Vale do Jaguaribe em ascensão
Uma das principais rotas de produção de alimentos segue o caminho do maior rio totalmente cearense. O Vale do rio Jaguaribe se destaca na produção de perecíveis, como frutas, inclusive com a promessa de um aeroporto regional para o escoamento da produção. Enquanto o equipamento não sai do papel, o destaque vem da indústria láctea.
O setor é frequentemente apontado, seja pelos setores agropecuário ou industrial, como uma das cadeias produtivas que deve continuar em franco crescimento no território cearense nos próximos anos.
Morada Nova, a maior cidade do Vale do Jaguaribe, entende bem a questão. O município de mais de 60 mil habitantes tem na indústria do beneficiamento do leite a principal atividade econômica do local, e a tendência é de que se torne a maior produtora do alimento no Nordeste.
Wandemberg Almeida, economista e presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), reforça que a cadeia produtiva do leite, principalmente oriunda de Morada Nova no Estado, é uma das atividades econômicas de maior destaque.
“A gente olha de maneira mais forte essa indústria láctea, que vem crescendo. Por mais que tenhamos concorrência de outros estados, podemos se manter mais competitivos. O Ceará hoje consegue entrar facilmente em qualquer país porque adota padrões internacionais de qualidade, e isso contribui para que se consolide”, explica.
SDE afirma que Grande Fortaleza é a maior da indústria de alimentos
A pedido da reportagem, a Secretaria do Desenvolvimento Econômico do Estado do Ceará (SDE) respondeu que a maioria das empresas do setor estão instaladas na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). De um modo geral, elas recebem investimentos do Fundo de Desenvolvimento Industrial (FDI) do governo estadual.
“Boa parte das empresas de alimentos incentivadas pela política do FDI estão localizadas em Fortaleza e RMF, até mesmo por uma questão logística, visto que é um segmento que adquire boa parte de seus insumos de fora do estado e a proximidade com os portos do Pecém e do Mucuripe torna-se uma vantagem estratégica”, pontua Brígida Miola, secretária da Indústria da SDE.
Produção de alimentos mais perto da área rural
O fato de o Ceará ter uma produção descentralizada de alimentos no território estadual, adotando um conceito de “do campo para a mesa”, confere maior valor para as matérias-primas, conforme analisado pelo economista Alex Araújo.
Beneficiar os alimentos produzidos dentro do próprio estado é uma estratégia essencial para fortalecer a economia local e garantir maior competitividade. Ao realizar o processamento industrial próximo às áreas rurais, há uma agregação de valor à produção primária, permitindo que os produtos cheguem ao mercado com maior valor comercial, em vez de serem vendidos apenas como matéria-prima bruta. Esse processo reduz a dependência de intermediários e fortalece a renda dos produtores locais.
Embora haja uma redução entre 2023 e 2024 do percentual aproveitado no campo (de 63,5% para 52,5%), a maior parte do que é produzido no Ceará permanece no Estado para posterior aproveitamento nas indústrias.
Um dos pontos mais ressaltados por Alex Araújo é que o fato de a indústria de alimentos estar cada vez mais instalada no território cearense traz maior “sofisticação da base econômica do Ceará”, isto é, confere ao Estado mais valor agregado nas produções.
Legenda:
Foto:
Produção rural está mais próxima das indústrias de alimentos no Ceará
Tomaz Silva/Agência Brasil
“A industrialização dos alimentos gera novas oportunidades para os setores comercial e de serviços, que possuem maior valor agregado. Com o crescimento da indústria de alimentos, há impacto positivo na cadeia produtiva toda, desde a logística até a comercialização, criando demanda por inovação, tecnologia e mão de obra qualificada”, reflete.
“Isso traz diversificação econômica, ampliando as opções de trabalho e renda para a população. Ao consolidar um parque industrial forte para o processamento de alimentos, o estado reduz sua vulnerabilidade econômica, gerando empregos em diferentes níveis de qualificação e fortalecendo a economia regional”, conclui o especialista.
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